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AMIGO DO BISPO
“Um coronel da Venezuela tem ido buscar recursos para Lugo no governo do Paraná”, acusa senador paraguaio

O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), nunca adotou a política do bom-mocismo. Suas diatribes contra adversários causam tanto furor quanto suas articulações políticas heterodoxas. Recentemente, Requião brigou com a Justiça e o Ministério Público por causa da proibição, pelo Tribunal Regional Federal (TRF), do uso da Rádio e Televisão Educativa do Paraná (RTVE) para fazer promoção pessoal. Agora, Requião vem provocando a ira do Itamaraty ao apoiar, nos bastidores, a candidatura do bispo Fernando Lugo à Presidência do Paraguai.

O Itamaraty torce, discretamente, pela vitória do ex-general Lino César Oviedo, alinhado com a política externa do presidente Lula. Publicamente, o governador diz que não interfere na sucessão presidencial do país vizinho. No entanto, Requião deu sinal verde para que seu secretário de Comunicação, Airton Pissetti, assumisse o marketing da campanha de Lugo. Os maiores empresários do Paraná já foram chamados por Pissetti para trabalhar em favor de Lugo na disputa contra Oviedo. A contratação da empresa de marketing foi fechada em outubro de 2007, quando o bispo candidato foi a Curitiba para se submeter a uma pequena intervenção cirúrgica. Detalhe: a viagem foi feita a bordo de um jatinho do governo do Estado do Paraná, o Citation I prefixo PP-EIF

No Paraguai, os opositores de Lugo trabalham com a hipótese de que a entrada de Requião na campanha do bispo atenda a um pedido do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, com quem o governador paranaense cultiva uma antiga relação de amizade e respeito. Os indícios da ligação com Chávez foram reforçados no apagar das luzes de 2007, quando Pissetti passou a desfilar ao lado de um venezuelano. “Um coronel do Exército venezuelano, que é chamado de comandante, tem ido com o bispo buscar recursos do governo do Paraná e de empresários da região. Isso é inadmissível”, disse a ISTOÉ o senador paraguaio Hermínio Chena, da Unace. Os advogados do Partido Colorado, que governa o Paraguai há 60 anos, preparam uma denúncia, a ser apresentada pelo senador Nelson Argaña, em que se acusa Chávez de injetar dinheiro na campanha de Lugo por meio do governador do Paraná. Procurado por ISTOÉ, Requião, que cumpria agenda em Cuba, não retornou as ligações.

O que tira o sono do Itamaraty é que Lugo, hoje com 30% das intenções de voto para a eleição marcada para abril, tem explorado em sua campanha um crescente sentimento antibrasileiro. Recentemente, anunciou que, se for eleito, denunciará o Brasil na Corte Internacional de Haia, caso não sejam corrigidas supostas injustiças no Tratado de Itaipu. Assinado em 1973, durante as ditaduras militares em ambos os países, o tratado permitiu a construção da represa de Itaipu, no rio Paraná. Lugo critica a cláusula que obriga o Paraguai a ceder apenas ao Brasil seu excedente da metade da energia que lhe corresponde, a um preço ínfimo em relação ao de mercado.

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"O Requião sempre foi afeito a rompantes"
Senador Álvaro Dias (PSDB-PR)

“O Requião sempre foi afeito a rompantes”, diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Na década de 60, ainda jovem, Requião foi capaz de fazer a atriz Ítala Nandi, então musa do teatro de vanguarda brasileiro, dançar nua em pêlo em cima da mesa da cozinha de seu pai. Na campanha à reeleição em 2006, o peemedebista prometeu baixar a tarifa do pedágio, considerada abusiva no Estado. “Ou baixa, ou acaba”, sentenciou. Como não honrou a promessa, passou a atacar as concessionárias. Jogo de cena? “Ele nunca quis resolver de fato a questão do pedágio”, contou a ex-procuradora do Estado Jozélia Broliani, que pediu demissão depois que Requião decidiu tirar a TV Educativa do ar sem consultá-la.

Na última semana, Luiz Cláudio Romanelli (PMDB), líder do governo Requião na Assembléia Legislativa e amigo do governador, deu um tapa na cara da cidadania. Ele viajou 350 quilômetros pelo Paraná, passou por três pedágios e não pagou nenhum. E ainda ensinou como cometer a infração. “É só você, na verdade, chegar muito próximo do veículo da frente”, disse em tom professoral. “Quando chega à cabine de pedágio, você arranca junto. A cancela tem um sensor eletrônico que vai impedi-la de baixar”. Curioso é que o hoje fiel escudeiro do governador já experimentou no passado o peso do tacape de Requião, que o chamou de Luiz “Roubanelli”.

De inteligência acima da média e oratória irretocável, Requião carrega a fama de “Parafuso Solto”, como alguns adversários se referem a ele. A pessoas próximas, contudo, o governador diz que faz tudo premeditadamente. Uma de suas inspirações é o livro O elogio da loucura, de Erasmo de Rotterdam. “De louco, o Requião não tem nada”, endossa o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).