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Os ânimos estão exaltados. Somente dentro do Palácio do Planalto ocorreram nos últimos dias duas brigas entre ministros. Outras estão se espalhando pela Esplanada dos Ministérios. Por trás de todas elas está a sucessão presidencial. O projeto político capitaneado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é construir uma forte e duradoura aliança do PT com o PMDB, não descartando inclusive a possibilidade de seu partido ceder a cabeça de chapa na hora de eleger o sucessor. Nem todo o PT, porém, reza pela mesma cartilha do presidente. A maior parte das facções do partido prefere uma aliança pontual, sem ter que entregar ao PMDB setores estratégicos do governo. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é a figurachave. Ela está afinada com o presidente, mas vislumbra a possibilidade de sua própria candidatura em 2010 e acabou escalada pelo próprio PT para resistir à entrega dos cargos em estatais para os peemedebistas. Outro fator da discórdia entre os ministros vem da área econômica. Conforme revelou ISTOÉ na edição anterior, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, são pólos opostos e contraditórios na estratégia de enfrentar a crise internacional em curso. Eis algumas histórias que ilustram a guerra provocada pelo PT ao reagir contra o projeto de Lula:

“VOCÊ ME TRAIU”
No início do ano, Dilma procurou o ministro José Múcio Monteiro, das Relações Institucionais, a fim de lhe fazer um pedido secreto. O presidente Lula havia delegado a Múcio a tarefa de acertar com o PMDB as nomeações para as estatais do setor elétrico. Sem a interferência de Dilma, que desde o início do governo controla o setor com mão de ferro. A ministra então pediu ao colega para que lhe contasse as negociações antes de levar os indicados ao presidente. Queria monitorar os nomes e encomendar à Abin uma devassa contra cada um. E o que Múcio fez? Tornou pública a artimanha da ministra-chefe. Dilma soube e ficou furiosa. Há duas semanas, Dilma e Múcio se encontraram em um corredor do Palácio. “Você me traiu!”, gritou a ministra. “Não falo mais nada contigo!”

“CALMA, GENTE!”
Terça-feira 29, na reunião da Coordenação Política no Palácio do Planalto, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, apresenta sua proposta de cortar R$ 17 bilhões, dividindo o sacrifício entre os Três Poderes. De repente apareceram dois fantasmas – Henrique Meirelles e Antônio Palocci. Nenhum dos dois estava de corpo presente na reunião, mas haviam se encontrado com Lula dias antes. E defenderam a tese de que o governo enfrente a crise internacional aumentando o superávit primário para 5% do PIB – hoje está em 4,5%. Coube a Lula falar pelos dois. O presidente indagou se não seria melhor ampliar os cortes, tirar uns R$ 20 bilhões só do Executivo. Todos foram contra. A reunião se transformou num caos. José Múcio aproveitou para bombardear a proposta de Bernardo e defender a preservação das emendas dos parlamentares. O clima esquentou. Lula interferiu e não como proposta, mas como ordem, colocou: “Calma, gente. Nós vamos cortar R$ 20 bilhões.”

O ENCONTRO SECRETO
Gilberto Gil abriu as portas de sua casa em Salvador (BA) para receber dois amigos ilustres. Eram José Dirceu, que estava a caminho do Recife, e Dilma Rousseff, que passara o Réveillon num resort. Até aquele encontro, o grupo de Dirceu vinha sabotando a candidatura de Dilma e ensaiava até denunciar o risco de apagão só para corroê-la. Depois da conversa, Dilma voltou a Brasília com a certeza de que ganhara aliados importantes. Desde então, dirigentes do PT a procuram para se queixar do assédio do PMDB aos cargos da Petrobras e das estatais elétricas. Exigem que Dilma resista.

“NÃO ACEITO ISSO”
Um dirigente petista encontrou Dilma deprimida em seu gabinete. Ela acabara de perder a hegemonia do setor energético para o PMDB e estava sendo obrigada a assistir, calada, às indicações. Dilma estava abalada em especial com a indicação por José Sarney do executivo Evandro Coura para a Eletrobrás. Ela pediu que a Abin abrisse um dossiê sobre Coura e não gostou do que viu. “Não aceito isso”, disse ela. “Os nomes estão sendo apresentados sem nenhuma avaliação do currículo ou do ponto de vista moral.” Dilma saiu da conversa decidida a reagir. No último final de semana, procurou o presidente Lula a fim de convencê-lo a barrar as nomeações. Ele mandou que ela se entendesse com o PMDB. Na tarde de segunda-feira 28, Dilma foi ao Rio presidir a reunião do Conselho da Petrobras. O ponto principal da pauta era a nomeação de Jorge Zelada para a diretoria internacional. Foi surpresa quando Dilma se recusou a colocar o tema em pauta. Zelada não foi nomeado.

O PROJETO DE LULA DE CONSTRUIR UMA ALIANÇA COM O PMDB
MUDOU TODO O JOGO DO PT PARA 2010

 

MAPA MENTIROSO
O ministro Reinhold Stephanes (PMDB) engoliu seco quando a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, responsabilizou os produtores de soja e criadores de gado pelo aumento do desmatamento na Amazônia. Na presença de outros dois ministros, disse a ela: “A culpa é da falta de fiscalização do Ibama e da reforma agrária. Você acha que esses assentados vivem de quê?”, indagou. Em seguida, pediu ao governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), um dos principais produtores de soja do País, que convidasse a ministra para conhecer o Estado. Marina aceitou o convite e o governador lhe mostrou que os mapas do desmatamento registravam apenas fazendas antigas e disse: “Seu mapa está errado.”

ACORDO ABSURDO
No sábado 26, o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, esteve com Lula. Reclamou da declaração do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, à ISTOÉ de que estava autorizado por Lula a compor até com os tucanos do governador Aécio Neves em Minas. “Esse acordo é um absurdo”, reclamou Patrus. Lula prometeu que não irá interferir na eleição mineira. Patrus não acreditou.
A questão agora é saber se Lula consegue evitar que as divergências internas enfraqueçam o governo, colocando PT e PMDB em campos opostos, a ponto de inviabilizar sua estratégia para a sucessão em 2010.