Há muitos anos a Igreja Universal do Reino de Deus vem sendo investigada por procuradores federais, especialmente os lotados em São Paulo. No ano passado, o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, juntou todas as investigações e as unificou numa ação única. Feito isso, a Procuradoria Geral encaminhou ao ministro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal – por haver um senador envolvido –, pedido de novas investigações, que deverão ser feitas pela Polícia Federal, e solicitou também a quebra dos sigilos fiscal e bancário da igreja. Documentação em poder da Procuradoria e também da ISTOÉ indica que o bispo e senador Marcelo Crivella (PL-RJ) seria um dos acionistas das empresas Cableinvest e Investholding – ambas sediadas em paraísos fiscais. De acordo com documento da Procuradoria, encaminhado ao STF, investigações da Interpol constataram a participação de Crivella nas duas offshore. Parte dessa documentação foi revelada por ISTOÉ na última edição. O senador passou a semana negando a autenticidade dos documentos, bem como a sua participação em empresas fora do País. Mas os procuradores asseguram possuir provas documentais suficientes para sustentar suas suspeitas.

Em documentos da Receita Federal, de junho de 1997, Marcelo Crivella e sua mulher, Sylvia Hedge Crivella, aparecem como acionistas da empresa Uni-Participações S/A, que efetuou operações de mútuo (contrato para transferência de recursos entre pessoas físicas ou jurídicas da mesma organização) com a Investholding. De acordo com auditores da Receita, a Uni-Participações tinha uma posição estratégica no grupo Universal. Esse seria o motivo pelo qual um numeroso grupo de altos dirigentes da Universal fazia parte de seu quadro de acionistas. O esquema é complicado. A Uni-Participações detinha o controle da Uni Factoring Comercial, outra empresa do grupo, que, por sua vez, era acionista, com 50% do capital, do Banco do Crédito Metropolitano, em parceria com a Investholding.

Outra empresa em que Crivella aparece como sócio, juntamente com sua mulher, é a Unitemple Engenharia e Empreendimentos Ltda., responsável por reformas e construções da Igreja Universal. Na declaração de rendimentos do bispo/senador de 1990 consta ainda sua participação na sociedade da TV Record de Franca, a qual teria adquirido por Cr$ 41,5 milhões (cerca de R$ 1 milhão em valores atualizados). Para justificar essa receita, Crivella alegou ter recebido empréstimo da Igreja Universal. O problema é que o valor emprestado, sem juros, é 40 vezes maior do que a quantia que o bispo declarou ter recebido como salário durante todo aquele ano. “A operação configura verdadeira doação”, escreveram os auditores.