Brasil já vai à guerra/comprou porta-aviões/Um viva pra Inglaterra/De 82 milhões/Ah… mas que ladrões!” O refrão sarcástico da marchinha dos anos 60 de Juca Chaves ironizava a compra, pela Marinha do Brasil, do navio-aeródromo Minas Gerais, substituído há quatro anos pelo menos custoso e mais moderno São Paulo. Mas a eficiência de porta-aviões para marinhas de pequeno porte sempre foi discutível. Já os submarinos são o melhor investimento para países de recursos militares escassos. Tal eficácia aumenta muito no caso de submarinos de propulsão nuclear, que têm capacidade de permanecer submersos por meses e são muito silenciosos em suas operações.

Nesta direção, o Brasil dá mais um passo para a realização de um ambicioso projeto. No início do ano, o estaleiro alemão HDW e a empresa francesa Armaris (joint-venture da DCN – estaleiros militares públicos da França – e Thales, empresa de eletrônica militar estatal) foram solicitados a enviar propostas para permitir o fornecimento de um submarino, peças de reposição, sonares e torpedos. O prazo de entrega foi fixado para o final deste mês. Essa aquisição permitiria ao Brasil, em poucos anos, instalar seu reator nuclear, que ainda tem dimensões consideráveis, neste tipo de submarino.

Desde os anos 80, o Brasil vem trabalhando para atingir esse nível de sofisticação bélica. Em termos de pesquisa, através do Projeto Aramar, a Marinha desenvolveu supercentrífugas para enriquecer urânio e está bastante avançada na construção de uma planta nuclear de geração de energia elétrica, base para a construção de um reator nuclear. Em termos industriais, a Marinha escolheu o submarino alemão IKL 209-1400, fabricado pelos estaleiros HDW. Entre 1982 e 1985, foram fabricados quatro submarinos; o primeiro, o Tupi, foi construído na Alemanha. A transferência de tecnologia permitiu que o Brasil fabricasse aqui os outros três: Tamoio, Timbira e Tapajó. Depois, foi lançada a série Tikuna, de maior alcance e com casco mais resistente. O próximo passo será um submarino ainda maior, o SMB-10, com deslocamento de 2.500 toneladas, casco de pressão dupla, oito metros de diâmetro e 67 metros de comprimento. O SMB-10 seria o predecessor do submarino nuclear. As propostas solicitadas à Alemanha e à França foram a partida para essa nova fase.