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Patrimônio
Cavalcanti exibe uma de suas mansões, em Bragança Paulista, interior de São Paulo

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Geólogo de formação, o empresário João Carlos Cavalcanti ficou bilionário ao encontrar grandes jazidas de minério de ferro no interior da Bahia. Sua fortuna não parou de crescer nos últimos 30 anos. E JC, como é conhecido no mundo dos negócios, vive de acordo com o patrimônio que amealhou. Embora evite badalações, gosta de pilotar carros de luxo, numa coleção que inclui Ferrari, Porsche e Maserati. Também tem vida ativa na política de seu Estado, mas sempre foi homem de atuar nos bastidores. Agora, porém, aos 60 anos, decidiu dar a cara para bater. Ele oscila entre se lançar a vice-governador da Bahia na chapa do exministro Geddel Vieira Lima (PMDB) ou a senador da República. “Tenho planos sérios de ser candidato a presidente da República em 2018”, anuncia o ambicioso Cavalcanti. Ele já faz discurso de campanha: “Não vou roubar, eu não preciso roubar, ganhei meu primeiro milhão aos 26 anos de idade.”

Este novato em campanha eleitoral deixa muitos caciques baianos de orelha em pé, não apenas pelo patrimônio pessoal de R$ 2 bilhões, mas também pela possibilidade de atrair contribuição de grandes empresas para o caixa do PMDB. “Ele tem a capacidade de mobilizar recursos pessoais e de grandes grupos, mas dinheiro não é tudo numa campanha”, diz o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA). Cavalcanti é sócio de empresas que contam com a participação de Antônio Ermírio de Morais, do Grupo Votorantim, Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, e Eike Batista, da MMX. “Os grandes grupos de consórcios dos quais faço parte, acredito, vão contribuir para nossa campanha”, prevê JC. O bilionário quer ocupar o que considera uma brecha na política local, aberta com a morte do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. “Depois de ACM, isso aqui virou um balaio de gato. Vários prefeitos do PT me procuraram insatisfeitos com a ida do César Borges, do PR, para a chapa do PT”, afirma.

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ALIANÇA
Geddel (acima) aposta em Cavalcanti como seu vice na disputa ao governo da BA

Os adversários de Cavalcanti, de seu lado, costumam explorar o perfil nada convencional do empresário. Num anátema à cultura baiana, ele detesta Carnaval e odeia axé. “Nunca gostei de confusão, foge totalmente ao meu lado espiritual, gosto mesmo é de música clássica e de canto gregoriano”, diz Cavalcanti. “Carnaval é uma coisa que sempre me chocou, do ponto de vista da violência.” Futebol nem pensar. JC diz que não pisa num estádio desde 1969. “Naquela época, fui a um jogo, olhei para um lado e para o outro e não vi nas arquibancadas nenhuma pessoa que pudesse agregar valor”, conta ele. “Aí eu decidi: não vou mais frequentar estádios, não tenho nada a ganhar. Para mim, futebol é uma coisa sem sentido.”

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JC também não olha com entusiasmo as políticas assistencialistas do governo e diz que “daria uma modificada no Bolsa Família”, investindo em programas para fortalecer o potencial de cada município. O empresário, em sua visão crítica, é extremamente ácido com os políticos da Bahia. “O ex-governador Paulo Souto fez um governo vagabundo, irrisório, medíocre, uma merda”, diz o bilionário. “O Jaques Wagner é meu amigo, mas em quatro anos de governo não fez praticamente nada, a educação está horrível, a violência é incrível.” Os petistas reagem e sustentam que Cavalcanti só ganhou relevância na política baiana porque controla o caixa de campanha de Geddel. “Ele é um personagem que não tem nenhuma expressão no meio político”, diz o presidente do PT, Jonas Paulo.

O bilionário, no entanto, tem bom trânsito no PT nacional. Numa conversa recente com o presidente Lula e a então ministra Dilma Rousseff, Cavalcanti foi bem claro: “Lula, nós viemos de baixo, sofremos, e estou à sua disposição para que a Dilma seja eleita”. Mesmo fazendo campanha para Dilma, o bilionário acredita que o PT não vai vencer a eleição. “O presidente Lula não consegue transferir o carisma e os votos dele para a Dilma”, diz Cavalcanti. “Nas últimas eleições, o Lula não conseguiu fazer nenhum prefeito de grande capital. Ele tinha que criar o PLB, o Partido Lula do Brasil”, diz. O empresário acha que a ética será um tema vital na campanha. “Temos que mostrar que não fazemos parte deste ‘roubolation’ da vida política brasileira”, diz ele. “Esses escândalos todos, o PT com o Mensalão, o PSDB em Minas, com o senador Eduardo Azeredo, o DEM de Brasília, são uma coisa generalizada.”

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Cavalcanti, porém, não tem a mesma verve quando o alvo é seu aliado Geddel Vieira Lima, que, como ministro da Integração Nacional, distribuiu para cidades baianas quase a metade do orçamento destinado aos municípios do País, deixando de investir em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. “Isso é a velha dor de corno, de gente que é contra. Bota um gaúcho, bota um paulista, será a mesma coisa”, rebate Cavalcanti. “Qualquer um faria isso. Pense como uma família. Sempre vai primeiro para a sua família.” Ao que tudo indica, João Carlos Cavalcanti, que é filho de imigrantes italianos, além da língua afiada, acha que a política é um negócio de família.


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