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MAURÍCIO SANTINI
“Quando ela não me aceitou de volta, não acreditei. Ela sentia um amor exagerado, morria de medo de me perder e fazia tudo por mim, tanto que até me sufocava. Fiquei mal. Me escondia atrás de postes para vigiá-la, não dormia à noite, tinha disenteria. Experimentei todo tipo de terapia, do convencional ao alternativo”

Ele foi manipulado, enganado e roubado em R$ 18 mil pela namorada. Mesmo assim, queria casar com ela. O jornalista Maurício Santini, 44 anos, é exemplo de quem amou a pessoa errada, da pior maneira. Mas engana-se quem pensa que histórias como essa são raras. Pelo contrário, casos semelhantes – em que a auto-estima do apaixonado vai pelo ralo – são corriqueiros em consultórios psiquiátricos e em grupos de ajuda, como o Mada (Mulheres que Amam Demais Anônimas), presente em 11 Estados brasileiros. Segundo especialistas, o amor que faz a pessoa agir no sentido de preservar aquilo que lhe faz mal é doença. Geralmente, este tipo de enfermidade se manifesta nos inseguros, ciumentos e possessivos. “São pessoas que, na infância, foram cuidadas por pais inconstantes, que beijavam um dia e nem ligavam no outro”, diz o psicólogo Ailton Amélio, especialista em relacionamentos.

Maurício conheceu a mãe de seu filho, hoje com dez anos, em 1990. Entre idas e vindas, o casal ficou junto até 1997. Naquele ano, Maurício teve de abrir mão de sua locadora de filmes por questões financeiras. Para completar o drama, sua namorada lhe contou que tinha um mioma no útero. “Ela me pedia dinheiro (para a suposta operação), mas eu não tinha”, diz ele. Oito meses depois, a verdade veio à tona. A namorada de Santini começou a sentir fortes dores e – surpreendentemente – entrou em trabalho de parto. “Custei a entender que não havia mioma. Ela tinha mentido e escondido que esperava um filho meu”, diz ele.

Mesmo chocado, o jornalista resolveu se casar e assumir a criança. “O que eu sentia por ela era uma coisa impregnada, uma obsessão, uma possessão”, avalia. Para isso, finalizou a venda da locadora e seguiu às compras – seu objetivo era fazer os ajustes em um imóvel PERIGOSAS Relações para que a família pudesse morar. Foi quando descobriu, ao passar um cheque, que sua mulher havia lhe roubado R$ 18 mil. “Ela disse que era para quitar dívidas.” Logo após a separação, Santini pediu para voltar com ela e ouviu um não. “Fiquei muito mal.” Foi quando perdeu o amor-próprio. Desesperado, fazia vigília de madrugada em frente à casa dela e a seguia na rua. O sofrimento era tanto que ele recorreu a diversos tipos de terapia, tomava calmantes e antidepressivos. O calvário durou mais de um ano. Há dois, Santini conseguiu se livrar da tortura. Hoje, namora outra pessoa e vive um relacionamento tranqüilo, segundo ele.

Não é preciso chegar ao extremo para ser infeliz no amor. Aos 40 anos, a escritora Sandra Maia, 47, percebeu que todos os seus relacionamentos seguiam a mesma trajetória e não a faziam feliz. “Eu fazia tudo por meus namorados. Acabava abrindo mão da minha personalidade e, assim, os sufocava”, diz ela. Há cinco anos, escreveu o livro Faço tudo por você (Editora Celebris) e, desde então, busca o equilíbrio entre o “fazer pelo outro” e o “fazer por si mesma”. Não é fácil. “É como ter de aprender a andar novamente”, diz ela.

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SANDRA MAIA
“Eu era como a personagem de Julia Roberts, no filme Noiva em fuga, no qual sua preferência por ovos – duro, mole ou mexido – estava condicionada ao atual namorado. Eu mudava de opinião por causa do namorado, me anulava sempre”