Já se passaram 37 anos da morte de Jimi Hendrix, autor de clássicos do rock como Purple haze e Wild thing, e os motivos que a causaram permanecem misteriosos até hoje. O que se sabe é que ele sofreu uma intoxicação provocada por ingestão de analgésicos e chegou ao hospital já sem vida. Overdose acidental, suicídio ou crime? Nunca houve uma conclusão definitiva. A nova biografia Jimi Hendrix – a dramática história de uma lenda do rock (Jorge Zahar Editor, 347 págs., R$ 39,90) foi escrita por uma amiga íntima do músico, a americana Sharon Lawrence, que só agora revela o resultado de sua investigação pessoal sobre aquela noite fatídica de 18 de setembro de 1970. Ela está convicta de que o maior guitarrista de todos os tempos não teve uma overdose acidental, mas escolheu o seu destino, ou seja, quis se matar.

No livro, ela não perdoa a pintora alemã Monika Dannemann, última pessoa a ver Jimi Hendrix vivo – passaram a noite em um hotel, em Londres. Sharon conta que a artista ligara na madrugada para um amigo comum, Eric Burdon, dizendo que Hendrix não estava bem. Burdon a teria aconselhado a chamar uma ambulância, o que não foi feito. Sem ter notícias, ele ligou para Monika: ela lhe teria dito que estava tudo bem e que, inclusive, saíra para comprar cigarros. Na manhã seguinte, os jornais estampavam a morte de Hendrix.

Para reforçar a tese do suicídio, Sharon reproduz o diálogo que teve com Monika um dia após a morte de Hendrix:

– O que aconteceu com ele ontem de madrugada, Monika?
– Não sei. Encontrei ele de manhã…, balbuciou ela.
– Encontrou? – repeti – Você falou com ele? Ele estava consciente?
– Havia muito vômito em volta dele.
– Mas ele estava respirando?

Ela não respondeu. Depois disse:
– Eu tinha medo do que a imprensa podia dizer.

Nesse mesmo diálogo, Monika revela para Sharon que Hendrix tomara nove comprimidos de Vesperax, um forte analgésico usado por ela para amenizar as dores de uma cirurgia em uma das pernas. O número nove deixou Sharon intrigada – Jimi tinha um lado místico e escolhia datas terminadas com o número nove para eventos especiais (tinha o número gravado em sua guitarra Fender).

Superstições à parte, outra peça incluída na biografia é o inquérito sobre a morte de Hendrix. Um especialista forense apresentou o resultado da autópsia: asfixia por inalação de vômito e intoxicação com barbitúricos. São detalhes que não tiram o foco depositado pela autora na vida pessoal do guitarrista, na sua formação sofrida com mãe alcoólatra e pai ausente, nos seus tempos de pára-quedista do exército (1960 a 1961) e de quando trocou tudo pela música. Fica-se sabendo que foi um tornozelo quebrado e um atestado médico (que o impedia de continuar servindo no Exército) que permitiram a Hendrix se dedicar à vida artística.

MARC SHARRATT/REX FEATURES/KEYSTONE

SUCESSO
Jimi Hendrix em um clube londrino, em 1967, ano em que se tornou famoso em todo o mundo

 

O sucesso veio numa velocidade vertiginosa. Após desembarcar em Londres para o seu primeiro show, no

 

final de 1966, Hendrix é bem recebido na atmosfera musical da Swinging London. Ao assistir à apresentação da banda Jimi Hendrix Experience, a famosa cr

 

ítica de rock Penny Valentine escreveu: "Se fosse possível enxergar a eletricidade, ela se pareceria com Jimi Hendrix".

Não foram poucos osmúsicos já consagrados que correram a conferir o gênio americano. Dois dias depois de lançar Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, os Beatles estavam lá. E ganharam uma homenagem de Hendrix: ele cantou a música-título do novo disco do quarteto.

A pedido de Paul McCartney e Mick Jagger, o grupo Jimi Hendrix Experience foi convidado para o Monterey Festival em 1967, que reuniu as bandas mais famosas da época nos EUA. Num show antológico, ele não apenas dedilhou as cordas de sua guitarra, mas deu pancadas, e, ao final, derramou fluido de isqueiro em sua superfície, atiçando fogo. Nesse festival, Jimi Hendrix conheceu Eric Clapton, que se tornaria seu grande amigo. Em entrevista à revista Rolling Stone, Clapton disse em 1968 que só estava famoso porque Hendrix estava fora do país: "Sempre nos comparam um ao outro. Quando ele está perto, eu abaixo a cabeça". Sharon está longe de ser imparcial. Mesmo assim, ela tem o mérito de reunir em seu livro registros raros e sensíveis da breve vida de um artista que é considerado um dos melhores guitarristas de todos os tempos.