Sobe para 171 o total de vítimas da chuva no RJ

A chefe da sucursal de IstoÉ no Rio, Eliane Lobato, faz um balanço, às 19h, sobre as tragédias que assolaram a cidade no dia de hoje
 

 

Sobe para 171 o total de vítimas da chuva no RJ

A chefe da sucursal do Rio de IstoÉ, Elvira Lobato comenta a tragédia em Niterói
 

O Estado do Rio de Janeiro já contabiliza 171 mortes provocadas pela chuva, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Mas o número pode dobrar. Segundo estimativas dos bombeiros, cerca de 200 pessoas podem estar nos escombros do deslizamento de ontem, no morro do Bumba, em Niterói. A cidade é a que registra maior número de vítimas (99). O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, decretou estado de calamidade pública no município.

As chances de encontrar sobreviventes no Morro do Bumba, no bairro Viçoso Jardim, são remotas. Até o final desta tarde, 12 corpos já tinham sido retirados. Mas a operação de resgate é dificultada pelas próprias características do lugar. A terra desceu por cerca de 600 metros. A expectativa é que o resgate dos corpos demore no mínimo duas semanas.

A Defesa Civil de Niterói interditou 60 casas na tarde desta quinta-feira, no Morro do Bumba. A decisão foi tomada após técnicos do órgão vistoriarem a região.

A comunidade foi construída em cima de um "lixão" e há 25 anos a Defesa Civil municipal já havia condenado a área para habitação. Três máquinas retro-escavadeiras vasculham o amontoado de escombros à procura de sobreviventes. O Corpo de Bombeiros estima que cerca de 200 pessoas moravam no morro.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, disse que houve omissão no deslizamento ocorrido na noite de ontem no Morro do Bumba. "Foi uma tragédia anunciada. Áreas que servem como depósito de lixo ou qualquer matéria orgânica são de pouca sustentação estrutural. As construções nessas áreas ficam mais vulneráveis a qualquer deslizamento", afirmou Guerreiro, que está no local.

A secretária estadual do Ambiente do Rio, Marilene Ramos, disse que a provável causa do deslizamento foi uma explosão do gás metano em decomposição do lixo. O gás teria formado um bolsão que, em contato com o ar, causou a explosão ouvida pelos moradores. "Trata-se de um terreno insalubre e ainda que não houvesse tamanha instabilidade nunca deveria ter sido ocupado", declarou a secretária.

Segundo relatos de moradores que deixaram seus lares antes do deslizamento, duas casas já haviam desabado na segunda-feira. Um morador morreu. Os escombros formaram uma montanha de dois metros e o acúmulo de água por trás dos detritos teria pressionado os dejetos, que acabaram por desmoronar ontem à noite.

Esperança
Entre os parentes e amigos que aguardam notícias no local está o motorista de ônibus Marcos Antonio Caternol Júnior, de 31 anos, morador da comunidade e que passou em frente ao morro dirigindo o coletivo poucos minutos antes da tragédia. "Minha mulher ouviu o estouro e saiu com o bebê no colo, pensando que se tratava de um acidente. Ao olhar para trás, ela viu a casa sendo soterrada. Dentro da residência estavam os pais dela, o bisavô e o nosso filho Caíque de seis anos. Até agora não entendo o que aconteceu", contou.

No Morro do Bumba, segundo relatos de moradores que deixaram suas casas antes do deslizamento, duas casas já haviam desabado na segunda-feira. Um morador morreu. Os escombros formaram uma montanha de dois metros e o acúmulo de água por trás dos detritos teria pressionado os dejetos, que acabaram por desmoronar ontem à noite.

Governo Federal

O governo liberou R$ 200 milhões para ações emergenciais nas áreas atingidas pelas chuvas no Rio de Janeiro, que deverão ser comandadas pelo Ministério da Integração Nacional. O montante é menor que os R$ 370 milhões solicitados ontem pelo governo estadual e a prefeitura da capital fluminense. Em reunião realizada hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), os ministros da Casa Civil, Erenice Guerra, do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Integração Nacional, João Santanna, analisaram a situação do Rio e definiram as primeiras ações.

O governo federal também enviará 50 novas ambulâncias para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e 52 kits de emergência para atender 75 mil desabrigados. Por meio de sua assessoria, Erenice Guerra disse que todas as demandas estão sendo analisadas e que o governo também avalia os estragos causados pelas chuvas na madrugada de hoje em Niterói, na região metropolitana do Rio.

Doações

A Secretaria Municipal de Assistência Social disponibilizou hoje mais 21 postos de atendimento para o recebimento de doações para os desabrigados no Rio. Além desses pontos, os donativos podem ser entregues também no Centro Administrativo São Sebastião, na Cidade Nova, e na Praça da Cruz Vermelha, no centro da cidade, das 9h às 17h.

As necessidades mais urgentes são colchonetes, roupas de cama e banho, material de higiene, fraldas, alimentos não perecíveis, leite em pó e água mineral. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (21) 3973-3800.

Rio

Para evitar novas tragédias ocasionadas pelas chuvas, a prefeitura do Rio de Janeiro terá de acelerar o processo de remoção de famílias em áreas de risco. A meta é chegar a 13 mil domicílios em 2012. Até agora, somente 10% desse total foi realocado.
São considerados em risco os moradores de encostas e os que vivem em áreas sob perigo de inundação, enchentes, cheias ou desabamentos. Desde o ano passado, quando o projeto começou a ser colocado em prática, 1.300 domicílios foram removidos. Em Santa Cruz, na zona oeste, a comunidade Serra do Sol foi uma das beneficiadas, com 352 famílias removidas.

Elas moravam em uma várzea, em barracos cobertos por lonas. "Pela primeira vez, pudemos dormir tranquilos durante uma chuva. Se estivéssemos no mesmo local, tínhamos ficado com as casas cheias de água", afirma, aliviado, Anderson Lacerda, de 27 anos, num abrigo provisório construído pela prefeitura, distante cerca de dois quilômetros do local onde a comunidade era instalada. Ele, a sogra e a mulher, que está grávida, foram removidos para o local há um mês. "Fico mais tranquilo em saber que meu filho vai nascer num ambiente melhor, sem riscos", disse.

As famílias ficarão nesse abrigo por mais um ano, até que os imóveis do programa do governo federal Minha Casa Minha Vida fiquem prontos. Essa é uma das formas de realocação das famílias removidas. Outra modalidade é o que a Secretaria Municipal de Habitação chama de "aquisição assistida". O morador compra um imóvel e a prefeitura paga, desde que em valor semelhante à casa em que morava e que não seja em área de risco. Toda a transação é supervisionada pelas autoridades.

A prefeitura do Rio de Janeiro publicou hoje o decreto que declara situação de emergência em algumas áreas da cidade por conta das fortes chuvas que atingiram o município nos últimos dias. A medida confirma a existência de situação anormal, caracterizada como situação de emergência, nas áreas afetadas por escorregamentos e deslizamentos – foram atingidas regiões das zonas sul, norte, oeste e centro.

Segundo a prefeitura, com o decreto fica autorizada, na medida em que for necessária, a mobilização do Sistema Nacional de Defesa Civil sob a coordenação da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil, com o consequente desencadeamento do Plano de Emergência para chuvas fortes.

Em razão da emergência, ficou reconhecido que na terça-feira houve situação imprevisível, o que impossibilitou que a população pudesse efetuar o regular cumprimento de suas obrigações, como pagamento de contas e frequência escolar e no trabalho.

Energia – Em nota, a Ampla comunicou que ainda há pontos sem luz por conta dos estragos provocados pelas chuvas na região metropolitana do Rio. Pontos isolados dos bairros Largo da Batalha, Santa Bárbara, Pendotiba, Itaipu e Fonseca, em Niterói, estão com o fornecimento de energia interrompido. Em São Gonçalo, as áreas sem energia são Portão do Rosa, Salgueiro, Jardim Catarina e Barro Vermelho.

A companhia explicou ainda que, como as chuvas não cessaram completamente, áreas que já haviam sido normalizadas tiveram o fornecimento comprometido novamente ontem no fim do dia. A empresa esclarece que a chuva tem dificultado o trabalho de restabelecimento do serviço nas áreas afetadas.

A Ampla também observou que, em diversas áreas, postes e fiação elétrica foram completamente derrubados e soterrados. Além disso, os alagamentos também prejudicam o deslocamento das equipes de emergência por causa do fechamento das principais vias de acesso às regiões prejudicadas.

Estradas

Os motoristas devem ter cuidado ao trafegar por algumas rodovias estaduais do Rio devido à interdição de trechos em razão das chuvas dos últimos dias, segundo a Polícia Rodoviária Estadual. A RJ-104, que liga Niterói a Manilha, está fechada na pista sentido São Gonçalo em dois pontos, no quilômetro 1 e no 3, na altura do bairro Caramujo. A via deve ser liberada ainda hoje até o final do dia, segundo previsão da polícia.

A RJ- 106 que vai para a Região dos Lagos está interditada na altura da Serra do Mato Grosso, em São Pedro da Aldeia, e a RJ-155, que liga Angra dos Reis a Barra Mansa, está bloqueada antes da chegada do túnel.

Santos Dumont

Depois de dois dias operando com restrições por conta das chuvas, o Aeroporto Santos Dumont, no centro da capital fluminense, operava normalmente até as 11h30 de hoje. De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), apenas seis dos 53 voos programados até as 11 horas apresentaram problemas. Três atrasaram mais de meia hora e três foram cancelados.