i91525.jpg

DRAMA Aline teve os dedos dos pés e parte dos dedos das mãos amputados por causa de uma infecção gerada pela bactéria Legionella sp

Na última semana, o País ainda vivia a comoção e a perplexidade causadas pela morte da modelo capixaba Mariana Bridi, 20 anos, vítima de infecção generalizada, quando um novo caso chamou a atenção. A nutricionista mineira Aline Winkler Borges, 23 anos, teve os dedos dos pés e parte dos dedos das mãos amputados após ser internada em Belo Horizonte para tratar uma pneumonia. A coincidência de dois casos tão sérios em tão pouco tempo levou muita gente a sentir um grande temor diante das bactérias. Afinal, o que estaria acontecendo para que esses microorganismos estivessem causando estragos tão devastadores?

Na verdade, nos dois casos o que houve foi uma infeliz associação de fatores que resultou em desfechos tão tristes. Tome-se o exemplo da nutricionista. Ela procurou atendimento médico no dia 29 de dezembro queixando- se de dores no tórax.No dia seguinte, foi internada porque os sintomas continuaram. Menos de 24 horas depois o quadro tinha evoluído para infecção generalizada. A jovem foi então levada à UTI, onde ficou 15 dias em coma induzido.

Apenas 27% dos médicos sabem diagnosticar infecção hospitalar

Nesse período, o quadro infeccioso comprometeu a irrigação sanguínea nas extremidades do corpo. "Isso ocorre porque o organismo prioriza a chegada de sangue aos órgãos mais importantes, como cérebro e coração", explica o médico Rogério de Castro Pereira, do Hospital Felício Rocho, de Belo Horizonte, onde Aline encontrava-se internada até a quinta-feira 29. A irrigação precária levou à necrose, obrigando à amputação.

Jovem e forte, Aline teve contra si o diabetes, doença da qual é portadora. "Esta enfermidade deixa as defesas do organismo comprometidas", explicou o infectologista Alberto Chebabo, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro. Já no caso da modelo Mariana, que também teve os pés e mãos amputados, a tragédia teve como foco uma infecção urinária, infelizmente bastante comum. Porém, sua doença foi provocada por uma combinação das bactérias Staphylococcus e Pseudomonas aeruginosa.
 

Histórias como as de Aline e Mariana são mais difíceis de acontecer
 
A primeira, menos agressiva, é causa conhecida de infecção urinária. Mas a segunda, de comportamento devastador e imprevisível, costuma aparecer mais em pacientes com o sistema imunológico debilitado por alguma doença ou que contraem infecções hospitalares. "Não temos como avaliar o estado de saúde da jovem naquele momento, mas acredito numa fatalidade ocasionada pela força incomum que a bactéria adquiriu", afirma José Carlos Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia. Esse tipo de combinação perversa que vitimou as duas jovens felizmente não é tão frequente.

i91528.jpg
 
Na avaliação dos especialistas, infecções como as que atingiram Aline e Mariana, principalmente aquelas que acometem as vias urinárias, são comuns e geralmente apresentam pouca gravidade justamente porque não são pontuadas por associações danosas. Elas são causadas por um grupo de bactérias já conhecidas chamadas de comunitárias, ou seja, que circulam livremente entre as pessoas. Entre elas estão o Pneumococcus e a Streptococcus. "O tratamento é feito com antibióticos, mas em alguns casos o organismo resolve o problema espontaneamente", explica o infectologista Eduardo Medeiros, da Universidade Federal de São Paulo.
 

i91527.jpg
Perigo maior reside nas infecções causadas pelas bactérias encontradas no ambiente hospitalar, principalmente nas UTIs. Boa parte delas, como a Acinetobacter, já é multirresistente às drogas. Soma-se a isso o fato de que normalmente o paciente encontra-se extremamente debilitado, e o resultado é um alto grau de letalidade. A mortalidade entre internados em UTIs contaminados por um desses microorganismos chega a 60%. "Mas muitas dessas mortes poderiam ser evitadas se o atendimento imediato fosse feito de forma adequada", lamenta o infectologista Jorge Amarante, do Hospital Samaritano de São Paulo. O problema é que nem todo médico está habilitado para identificar um caso, como mostrou um estudo feito pelo Instituto Latino-Americano de Sepse (infecção generalizada) com 917 profissionais de 21 hospitais brasileiros: apenas 27% deles souberam diagnosticar corretamente o problema.

 i91526.jpg