FROTA As montadoras lançam versões mais coloridas, que agradam às mulheres. Elas influenciam as compras

Nos anos 70, o brasileiro escolhia o seu carro pela cor. Havia uma boa variedade de ofertas, do vinho ao azul-claro, do verde ao marrom. Hoje, um veículo é comprado considerando- se principalmente aspectos econômicos, como custo de manutenção e valorização na revenda. Com isso, os tons preto, prata e branco – mais fáceis de repintar e vender – se tornaram campeões de preferência e o colorido se tornou mais raro no País. E um aspecto cinzento, reforçado pela poluição, invadiu as ruas. Mas este cenário pode mudar. A tendência na indústria automotiva para a frota 2008 é oferecer opções multicor. Essa revolução se deve especialmente ao poder de influência das mulheres na hora da compra do automóvel. “Elas escolhem cores mais alegres, o que alavanca o mercado para outras tonalidades”, diz Roberto Akira Sugai, gerente de tintas automotivas da Dupont.

Carros amarelos, laranja, verdes e azuis são oferecidos em diversos modelos. A Volkswagen incrementa a nova versão do New Beetle com amarelo e o Touareg com azul. A Fiat inova com o Palio nas versões verde, vermelho e amarelo. A Honda investe no vermelho para seus modelos Civic SI e Fit. E a GM ousa com um laranja metálico na nova apresentação do Vectra. A indústria acredita que os brasileiros vão aderir à onda. “O consumidor está mais aberto às novas cores. Quer um carro com mais atitude, com um diferencial”, afirma Hermann Mahnke, gerente de marca da GM no Brasil. Segundo João Carlos Rodrigues, gerente de vendas da Chrysler, as ofertas coloridas são mais destinadas aos veículos esportivos e aos que têm conceito de aventura.

É verdade que ainda há alguns entraves para a popularização das cores. Para Marcos Quindici, químico e designer de cores na indústria automotiva, o que pode atrapalhar é a concepção que o brasileiro tem do carro. O veículo é visto como investimento, e não como bem de consumo. “Cor é algo muito subjetivo. O amarelo sempre remeterá a carros esportivos e para um público mais jovem, que no Brasil dificilmente terá um poder aquisitivo para comprar um automóvel sem pensar em revenda”, explica. Líder na preferência do público, o cinza, por exemplo, esconde melhor sujeira e arranhões, tem mais disponibilidade em estoque – o que significa menor prazo de entrega –e não absorve muito calor. Entre os europeus, os múltiplos tons são bem aceitos, até porque o clima do continente é bem mais frio. “Temos um alto índice de insolação, o que não ocorre na Europa. Lá, eles tentam equilibrar o ambiente com carros coloridos”, explica a psicóloga e especialista em cores Elaine Marini, autora do livro Cromoterapia – como as cores podem mudar sua vida. “Além disso, a compra de um carro não pesa tanto no orçamento do europeu. Então, ele não se preocupa com a revenda”, completa Mahnke.

De qualquer modo, a pergunta que se faz é se a moda vai pegar. O azul pode conquistar de fato o mercado. Pesquisa da Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas aponta que essa é a cor preferida entre as mulheres. É um bom sinal de que o tom tem potencial, o que poderá torná-lo mais disponível com os anos. Por outro lado, há o marketing dos fabricantes, que sempre usaram de criatividade para dar nome às cores de seus modelos. A PPG, uma das principais fabricantes de tintas automotivas do mundo, já recebeu encomendas para 2008 com tons como o verde furta-cor: ele se torna azulado dependendo do ângulo de visão. Outra tinta é o vermelho “maçã do amor” com brilho caramelizado. E há também a pintura “flake”, com partículas refletoras de luz que dão um aspecto de purpurina ao carro. Com essas opções, as ruas vão ficar, no mínimo, mais divertidas.