Eles são ricos, talentosos e idolatrados por milhões de pessoas ao redor do mundo. Apesar disso, esse grupo de jovens tem em comum também um outro traço, este totalmente incompatível com seu status: a impressionante capacidade de se envolver em baixarias.

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CARTÃO VERMELHO Mal chegou a São Paulo, Ronaldo (à esq.)
ficou em uma boate até as 6 horas antes de um exame.
Ronaldinho Gaúcho (acima) virou personagem de colunas de escândalos.

Tem sido assim com vários craques de futebol brasileiros que nos últimos anos se transferiram a peso de ouro para os clubes europeus. Com Ronaldo Fenômeno, foram as noitadas, a polêmica separação de Daniella Cicarelli e, recentemente, o affair com travestis. No caso de Adriano, atacante da Internazionale, a atração pela noite também rendeu confusões e o confessado alcoolismo quase levou sua carreira ao abismo. Outro boêmio, Ronaldinho Gaúcho passou de alvo de admiração dos torcedores do Barcelona a personagem das colunas de escândalos, a ponto de ser execrado no clube catalão (joga hoje no Milan). O mais novo integrante da trupe é Robinho. Na quarta-feira 28, o atacante do Manchester City, para onde se transferiu há quatro meses por US$ 59 milhões (R$ 135 milhões), e da Seleção Brasileira apareceu nos jornais ingleses acusado de violentar uma jovem de 18 anos numa boate. O jogador desmente a acusação. A polícia britânica admite apenas uma investigação de assédio sexual e Robinho nega que tenha sido preso – diz ter ido espontaneamente à delegacia dar esclarecimentos.

No entanto, esse escândalo e uma fuga para o Brasil, dias antes – viajou sem autorização de seu clube -, mancharam a imagem de bom moço.

A investigação está apenas começando e não há nada provado contra Robinho. Segundo a imprensa britânica, ele teria estuprado a jovem numa boate da cidade de Leeds, duas semanas antes. De acordo com Chris Nathaniel, porta-voz do atleta, Robinho "nega veementemente qualquer acusação de erro ou crime cometido por ele e diz que terá boa vontade de colaborar com a polícia, se for necessário." De qualquer forma, mesmo que as acusações não se confirmem, as circunstâncias do episódio já são bastante comprometedoras. Por ser casado e ter um filho bebê, não se esperava que o jogador fosse flagrado em uma boate às voltas com mulheres. Dias antes, ele tinha se envolvido em outra polêmica: abandonou a delegação do Manchester City e viajou ao Brasil sem autorização dos dirigentes do clube inglês. Robinho mais uma vez negou a irregularidade e disse que tinha sinal verde dos cartolas britânicos para viajar ao Brasil. O técnico Mark Hughes, porém, anunciou que aplicaria uma multa equivalente a R$ 1 milhão.

Com família formada, salário de 6 milhões de euros (R$ 18 milhões) por temporada e lugar cativo na Seleção Brasileira, Robinho tinha todas as condições de manter a imagem do jovem gente boa – brincalhão, porém comportado. Diante dos últimos acontecimentos, no entanto, é mais um no time dos trapalhões.

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Robinho fugiu para o Brasil,
antes da acusação de estupro,
e Adriano (sentado) deu um soco
em um adversário na semana passada:
imagem comprometida
.

Com a experiência de quem passou por cinco Copas do Mundo como treinador ou integrante da comissão técnica da Seleção Brasileira, Zagallo se acostumou a ver jogadores humildes serem contratados por clubes estrangeiros em troca de milhões. O extécnico acha que cada um reage de uma forma a essa ascensão social.

"Isso tem a ver com a estrutura", avalia. "Esses jovens vão para um país distante e ficam longe dos parentes, solitários e sem referência familiar.

Assim, é difícil resistir a determinadas situações." Zagallo não descarta a possibilidade de Robinho ter sido vítima de uma aproveitadora que quer tentar arrancar dele algum dinheiro nos tribunais. Mas, de qualquer forma, não o absolve: "Ele é um rapaz casado, não devia estar naquela boate." Para Afonso Antonio Machado, professor de psicologia do esporte da Universidade Estadual Paulista (Unesp), falta apoio psicológico por parte de clubes e empresários. "Eles chegam muito jovens ao estrelato e a grande preocupação é sempre em relação ao quanto rendem em campo, quantos milhões estão valendo. Não se olha o lado humano desses jovens", diz Machado. Isso facilita os deslizes.

Mesmo os mais experientes se ressentem dessa orientação. Contratado pelo Corinthians, Ronaldo Fenômeno tem a chance de mostrar que pode voltar a fazer a diferença em campo se perder peso. Apesar do carinho recebido de uma das maiores torcidas do Brasil, ele já criou sua primeira polêmica. Na sexta-feira 23, foi visto quando saía às 6h de uma boate em São Paulo. Horas depois, teria um exame para avaliar o estado de seu joelho esquerdo, operado há um ano. "Ele sabe que atrapalha um pouco sua imagem e até nos causa alguns problemas", criticou o técnico Mano Menezes. Também Adriano passa por uma fase turbulenta: foi punido com suspensão de três jogos por dar um soco em um adversário na semana passada.

Esse tipo de comportamento não é, obviamente, regra geral. Craques como Cafu, Leonardo, Zico e outros sempre tiveram comportamento exemplar. No mesmo nível de talento e remuneração, Kaká se mantém longe das confusões.

"Talvez pela formação familiar e pela ligação com a religião", avalia a psicóloga Regina Brandão, da Universidade São Judas Tadeu, que trabalhou com o atleta quando ele tinha 13 anos. Ela acredita, no entanto, que eles são, na verdade, vítimas. "É preciso cuidar da adaptação cultural, social e psicológica desses atletas. Com a rápida ascensão social, eles se ressentem, são pobres meninos ricos", diz.