Muita gente espera que Woody Allen volte a fazer filmes “de Woody Allen” – o que, para alguns, significa a seriedade bergmaniana de Interiores e, para outros, o humor escrachado de Bananas. Mas o franzino cineasta nova-iorquino, indiferente ao clamor dos fãs, insiste em fazer filmes “novos”. No caso, o 34º, Melinda e Melinda (Melinda and Melinda, Estados Unidos, 2004), que estréia nacionalmente na sexta-feira 27, ao mesmo tempo que esclarece esse dilema, consegue decepcionar as viúvas de Allen de todas as vertentes, principalmente porque o próprio não aparece na tela.

Em um restaurante boêmio e sofisticado, dois dramaturgos, Max (Larry Pine), especializado em dramas, e Sy (Wallace Shawn), em comédias, são desafiados a desenvolver uma mesma situação: um jantar entre dois casais é interrompido pela chegada de uma mulher, Melinda (Radha Mitchell). Max a coloca como ex-colega de escola de Laurel (Chloe Sevigny), que é casada com Lee (Jonny Lee Miller), um ator alcoólatra. Sy a imagina vizinha do casal formado por Susan (Amanda Peet), uma cineasta independente, e Hobbie (Will Ferrell), um ator desempregado.

Ambos os relacionamentos implodirão diante da presença perturbadora de Melanie, sem provocar comoção ou muitas gargalhadas. O que dá a tônica do filme é a inteligência de seu autor, visível nos mínimos detalhes da atuação do elenco, brechtiana, distanciada, que serve para demonstrar que na vida há de tudo um pouco. Assim como nos filmes de Woody Allen.