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FUTURO Garibaldi Alves na apresentação
oficial da candidatura Sarney:
"Ninguém faz uma coisa sem
pensar mais para a frente"

A eleição para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que acontecerá nesta segundafeira 2, será muito mais do que uma simples disputa pelo comando das duas Casas do Congresso. Nos bastidores, as negociações apontam para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. A oposição, capitaneada pelos governadores de São Paulo, José Serra (PSDB), e de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e também governo federal, com Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, à frente, converteram- se nos principais cabos eleitorais do deputado Michel Temer (SP) e do senador José Sarney (AP), candidatos do PMDB na Câmara e no Senado. O PMDB, caso confirme nas urnas o favoritismo, sairá das eleições com um alto cacife, e nem governo e nem a oposição vão prescindir de seu apoio no pleito de 2010. Por isso, esforçam-se para agradar ao partido na disputa legislativa.

"Ninguém faz uma coisa agora sem pensar mais para a frente", resume o atual presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN).

PLANALTO enfrenta resistências do baixo clero e da própria bancada do PT para bancar o peemedebista, considerado melhor articulador político do que os adversários

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Hoje, o PMDB, que controla cinco ministérios, faz juras de fidelidade ao governo. Mas ninguém sabe o caminho que o partido, que sempre colocou um pé em cada canoa para manter-se eternamente no poder, vai tomar na sucessão presidencial. A oposição aposta que o PMDB agirá com pragmatismo. Ou seja, vai aliarse com o presidenciável que tiver mais chances de vencer em 2010. O próprio presidente do PMDB e candidato à Câmara mantém as portas abertas para um diálogo com o PSDB. "Compromisso com a Dilma ainda não há. Temos uma ligação hoje com o governo. Mas isso vai depender muito da reunião que o partido venha a fazer no final de 2009, começo de 2010, para tratar desse assunto", diz Temer, que contabiliza pelo menos 290 votos, entre os quais 44 dos 57 possíveis do PSDB. Para se tornar presidente, Temer tem de amealhar, no mínimo, 257 votos. Se política fosse matemática, a equação estaria resolvida, mas mesmo no seu comando de campanha acredita-se numa traição de até 30% dos deputados. O candidato do PMDB à presidência da Câmara apoiou o PSDB nas campanhas de 2002 e 2006. Desembarcou no governo Lula, assim como o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, só depois da reeleição e mantém os laços com os tucanos. Será decisivo nas negociações para um eventual acordo com o PSDB. "É do interesse do PSDB e de José Serra fortalecer o PMDB, porque é grande a possibilidade de termos o PMDB como aliado em 2010. Estamos construindoessas futuras alianças, pensando em 2010", admitiu o deputado federal Waldir Neves (PSDB-MS), revelando a estratégia que os caciques tucanos apenas verbalizam em privado.

O governo, por intermédio do chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, tentou tranquilizar os demais candidatos governistas na Câmara, deputados Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDBPR), ao jurar, durante a semana, que a máquina governista não colocará seu peso na disputa. No Palácio do Planalto, porém, há uma torcida incontida pela vitória de Temer. O governo quer manter a aliança com o parlamentar, considerado por Lula e pela ministra Dilma Rousseff um articulador de primeira linha. "Não sei o que pode acontecer no dia seguinte se Temer perder", disse um auxiliar de Lula, temendo que uma eventual derrota do peemedebista seja debitada na conta do Planalto. Faltou, porém, combinar com o PT. O partido pode ser um dos obstáculos ao triunfo de Temer na Câmara.

Como forma de pressionar uma mudança no Senado, onde a vitória de Sarney é considerada pule de dez, a senadora Ideli Salvatti (PTSC) admitia a possibilidade de traições na Câmara, contra Temer.

"Se Sarney vencer, de manhã, à tarde a eleição de Temer pode ser contaminada. A votação é secreta, não há como conferir os votos." Ideli engrossa o coro dos petistas que consideram a candidatura de Sarney um apetite desmedido do PMDB e uma agressão à candidatura do petista Tião Viana (AC) à presidência do Senado. Os mais pragmáticos dizem que, ao controlar as duas Casas, o PMDB tira espaço do PT para 2010. "A vitória do PMDB nas duas Casas fortalece Lula, mas enfraquece o PT", disse o ex-deputado José Dirceu em seu blog. Dirceu, que passa uma temporada de estudos em Nova York, prega a traição a Temer, caso Sarney confirme a vitória. Na disputa, o ex-presidente da República recebeu o apoio do PSDB e DEM. "O PT é nosso principal adversário", definiu o líder do DEM, José Agripino (RN). O partido estará ao lado do PSDB na campanha presidencial de 2010 e advoga que o PT deve começar a perder espaços desde já.

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Publicamente, o PT da Câmara estima despejar pelo menos 75 dos 78 votos possíveis em Temer. Mas deputados do partido já calculam em 20 as possíveis defecções. É nisso que se fiam Aldo Rebelo e Ciro Nogueira, que também somam votos em setores da oposição, do governo e entre os chamados partidos do bloco de esquerda (PSB, PCdoB, PDT). Aldo contabiliza de 100 a 120 votos a seu favor. Ciro também faz contas otimistas: de 180 a 220. Tem como cabo eleitoral nada menos do que o governador do Piauí, Wellington Dias, do PT.

Se um dos dois for para o segundo turno, prometem apoio mútuo, e, com isso, acreditam que conseguirão impor uma improvável, mas possível derrota ao PMDB. Nesse caso, podem fortalecer a candidatura de outro postulante ao Planalto: o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Ou seja, o PMDB, que muitas vezes fez da indecisão uma arma fatal, desta vez pode sair da eleição da Câmara abatido pelo próprio veneno.