Médico explica por que as mulheres são mais sujeitas a transtornos psíquicos e pede maior cuidado na prescrição de remédios

GRUPO DE RISCO Ansiedade e depressão são muito mais comuns em mulheres

Ser mulher inclui lidar com TPM, gravidez ou infertilidade, depressão pós-parto, menopausa, regimes alimentares, ansiedade, transtornos do humor e outros quadros emocionalmente difíceis, isso tudo aliado à pressão dos múltiplos papéis que lhe cabem na sociedade. É pouco lembrado, no entanto, que esses aspectos tão peculiares do sexo feminino ainda permanecem, em boa parte, ao sabor da dança dos hormônios – e são eles que tornam as mulheres mais vulneráveis aos distúrbios mentais. É isso o que diz o psiquiatra paulista Joel Rennó Junior, 42 anos, diretor do Programa de Atenção à Saúde Mental da Mulher, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Rennó estabelece uma ligação direta entre o ciclo reprodutivo feminino e as doenças mentais. "Nessas fases de mudanças hormonais é mais comum o aparecimento de transtornos", diz ele.

ISTOÉ – O sr. afirma que, no campo da saúde mental, muitas das informações às quais as mulheres têm acesso mais atrapalham do que ajudam. Por quê?
Joel Rennó Junior – Há mulheres que chegam ao consultório frustradas e angustiadas por terem lançado mão, em vão, de uma série de recursos que hoje são tão apregoados, como os livros de autoajuda. Há outras coisas que estão em moda, como mudança de foco de pensamento, atividade física, ioga, meditação. Na verdade, o que acontece é que alguns problemas precisam de diagnóstico e tratamento à luz da ciência atual.

ISTOÉ – Dê um exemplo.
Rennó – Alguém com depressão ouve o depoimento de um indivíduo que melhorou com atividade física e frequentando um culto religioso. Ele acaba se sentindo mais infeliz por fazer o mesmo e não conseguir melhorar de sua depressão.

ISTOÉ – Em seu livro Mentes femininas o sr. sustenta a tese de que as mulheres são mais propensas a desenvolver doenças mentais. O que as torna mais vulneráveis?
Rennó – Uma parte das mulheres é geneticamente predisposta a ter sintomas psíquicos em períodos de grande oscilação hormonal, que são típicos do ciclo reprodutivo feminino: pré-menstrual, pósparto e perimenopausa (cinco anos antes da menopausa). Nessas fases de mudanças hormonais é mais comum o aparecimento de transtornos mentais.

ISTOÉ – Por quê?
Rennó – Estudos comprovaram que o estrogênio age no sistema nervoso central. Ele atua no aumento do nível dos neurotransmissores do bem-estar e do prazer como se fosse um antidepressivo. Também aumenta os neurotransmissores no hipocampo, responsável pela memória. Significa que o estrogênio organiza e aumenta a funcionalidade do sistema nervoso central. A oscilação desse hormônio é um gatilho de distúrbios mentais.

ISTOÉ – Em comparação aos homens, quanto dessa predisposição é maior nas mulheres?
Rennó – As mulheres correm o risco até duas vezes maior de terem depressão. Os transtornos de ansiedade atingem três vezes mais a mulher. Mas eu nunca desqualifico a mulher por causa dessa maior predisposição, nunca devemos colocá-la num patamar inferior com uma justificativa científica. Alguns pesquisadores já cometeram essa falha. O objetivo tem de ser a busca de tratamentos mais específicos.

ISTOÉ – Há outros fatores significativos que se tornam gatilhos de transtornos mentais nas mulheres?
Rennó – Sim. A genética explica uma suscetibilidade maior ao stress na mulher em relação ao homem. Os dois sofrem. Mas a evolução do stress é pior na mulher. Elas chegam com mais facilidade ao estado de exaustão que leva ao início de um transtorno mental. Ainda não se definiu o perfil genético da depressão nem do transtorno bipolar. O que se sabe, com certeza, é que há genes envolvidos. Há um subgrupo de pessoas que, do ponto de vista genético, terá uma evolução mais negativa do stress. É fato. E costuma ser maior nas mulheres.

ISTOÉ – A mulher acumula uma série de papéis em seu dia-a-dia. Esse excesso de obrigações também é um gatilho de enfermidades psiquiátricas?
Rennó – Isso é importante. Apesar dos avanços sociais conquistados pelas mulheres, elas continuam ganhando menos, em muitas empresas são mais cobradas que os homens, têm múltiplos papéis: mãe, esposa, filha, profissional, dona-de-casa. O homem melhorou bastante e tem ajudado, mas não ainda num grau suficiente para dividir por igual as tarefas domésticas. Essa sobrecarga leva ao stress, que pode ser o estopim do transtorno mental.

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"A evolução do stress é pior na mulher do que no homem. Elas chegam com mais facilidade à exaustão"

ISTOÉ – O stress que pode levar a um transtorno é diferente para eles e para elas?
Rennó – Sim. Fatores ligados às relações afetivas, como conflitos conjugais, doenças de familiares, problemas com os filhos, afetam fortemente as mulheres. Os homens costumam ter stress ligado a fatores ocupacionais, como o trabalho. É importante destacar também que muitas mulheres são vítimas de abusos sexuais e violências. Não que os homens não sejam, mas é mais comum com elas.

ISTOÉ – Quando a ciência identificar os genes dos transtornos mentais todos eles poderão ser prevenidos. Significa que a psicoterapia vai acabar?
Rennó – Não. A psicoterapia sempre vai ajudar na ressignificação das experiências vividas por uma pessoa. Não gosto de posições reducionistas. Há sempre uma interação complexa de fatores biológicos, psicológicos, sociais e comportamentais na eclosão de um transtorno mental. Eu sou fã e, ao mesmo tempo, crítico da neurociência. É um campo importantíssimo com estudos de neuroimagem, mas não podemos reduzir o comportamento humano a funções cerebrais. Muitas vezes um adolescente dependente de álcool e drogas não tem nenhum tipo de ruptura familiar. A psicoterapia também tem a capacidade de promover alterações neuroquímicas, tal e qual os antidepressivos.

ISTOÉ – Estudos mostram que as mulheres se tornam refratárias aos antidepressivos devido ao risco de dois efeitos colaterais de alguns medicamentos: ganho de peso e diminuição da libido.
Rennó – Os efeitos colaterais realmente prejudicam a adesão ao tratamento. Mas é preciso avaliar qual classe de medicamento a paciente está tomando, como e por quem ela está sendo diagnosticada.

Cada novo antidepressivo busca a redução de efeitos colaterais. Os da nova geração praticamente não influenciam no aumento de peso, por exemplo. O problema é que tem gente tomando antidepressivo sem necessidade. Há diagnósticos feitos quando a mulher vai ao ginecologista, ao endocrinologista. O médico pergunta à paciente se ela está triste. Se ela estiver triste naquele dia, com alguma irritabilidade, ele dá um antidepressivo. Criou-se a ideia de que antidepressivo serve para tudo.

ISTOÉ – Como outros especialistas podem estar bem preparados para prescreverem antidepressivos?
Rennó – Eles deveriam ter melhor formação na área da saúde mental. Minha proposta é que ginecologistas passem por estágios dentro da psiquiatria.

Também cabe ao bom médico, independentemente da especialidade clínica, conversar com a paciente sobre prós e contras de um tratamento com antidepressivo. A decisão deve ser tomada junto com a paciente e muitas vezes com a família dela. O terreno é pantanoso, requer conhecimento clínico e científico para saber o que há de risco e benefício em um tratamento.

ISTOÉ – Há má orientação por parte dos médicos quando se trata de saúde mental feminina?
Rennó – Sim. Recebo pacientes vindas de outros médicos, que são super mal orientadas. Elas não são informadas de que o antidepressivo tem efeitos como aumento de peso e interferência na libido. As pessoas param por conta própria com o medicamento porque o médico não explicou que podem piorar se suspendê-lo. Surgem tonturas, irritabilidade, insônia, náuseas.

ISTOÉ – Como é possível prevenir diagnóstico e tratamento errados?
Rennó – Aconselho um amplo diálogo com o médico. Todos os fatores, inclusive orgânicos, devem ser pesquisados. Por exemplo: 20% das mulheres têm, a partir dos 30 anos, hipotireoidismo e, às vezes, é essa disfunção que causa a depressão. O psiquiatra não pode esquecer de pedir exames que identifiquem alterações orgânicas.

ISTOÉ – Como abordar o ganho de peso com uma mulher?
Rennó – Não posso dizer para uma mulher: "Olha, você vai engordar 15 quilos, mas vai ficar bem da depressão." Isso é insensibilidade. Cabe ao médico buscar dentre todos os recursos o menos impactante para ela. Não adianta ter conhecimento técnico e ser um cavalo, ser insensível. A paciente já vem fragilizada. Se for tratada com desprezo, qualquer grama de peso que aumente fará do tratamento um suplício.

ISTOÉ – Uma crise de TPM ou de depressão pós-parto justifica, por exemplo, um crime?
Rennó – Existem formas graves de TPM, que atingem de 3% a 9% das mulheres. É a disforia pré-menstrual, quadro grave que requer intervenção psiquiátrica. Há irritabilidade intensa, impulsividade e depressão, com pensamentos suicidas. E, num rompante de agressividade, essas mulheres podem agredir e até causar uma morte. No caso da depressão pós-parto, esse assunto é mais polêmico.

ISTOÉ – Por quê?
Rennó – Atribui-se o infanticídio a esses quadros, mas as mulheres não costumam fazer isso como a sociedade apregoa. Uma série de sintomas (humor deprimido, perda de interesse e prazer, irritabilidade, pensamentos negativos, culpa por achar que estão negligenciando os cuidados com o filho) atinge entre 10% e 20% das mulheres. Mas elas não estão psicóticas. Não precisam ser isoladas do bebê. As mortes ocorrem num quadro de psicose pós-parto que é raro e atinge duas a cada mil mulheres. Há alteração da crítica e alucinações. No caso de mulheres com antecedente de transtorno bipolar, a probabilidade aumenta para 250 mulheres a cada mil.

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"Tem gente tomando antidepressivo sem precisar, muitas vezes receitado por ginecologistas e endocrinologistas"

ISTOÉ – Por que há resistência da medicina em tratar portadores do transtorno da personalidade antissocial, que são os psicopatas?
Rennó – Eu jamais excluiria esses pacientes por causa da dificuldade do tratamento. É uma discriminação absurda. Por menores que sejam as chances de resultado. Não se pode perder a esperança de melhora para essas pessoas. O processo é lento, mas tenho casos de sucesso no tratamento de transtorno de personalidade em mulheres.

ISTOÉ – O sr. afirma que, no campo da saúde mental, muitas das informações às quais as mulheres têm acesso mais atrapalham do que ajudam. Por quê?
Rennó

Há mulheres que chegam ao consultório frustradas e angustiadas por terem lançado mão, em vão, de uma série de recursos que hoje são tão apregoados, como os livros de autoajuda. Há outras coisas que estão em moda, como mudança de foco de pensamento, atividade física, ioga, meditação. Na verdade, o que acontece é que alguns problemas precisam de diagnóstico e tratamento à luz da ciência atual.

ISTOÉ – Dê um exemplo.
Rennó

Alguém com depressão ouve o depoimento de um indivíduo que melhorou com atividade física e frequentando um culto religioso. Ele acaba se sentindo mais infeliz por fazer o mesmo e não conseguir melhorar de sua depressão.

ISTOÉ – Em seu livro Mentes femininas o sr. sustenta a tese de que as mulheres são mais propensas a desenvolver doenças mentais. O que as torna mais vulneráveis?
Rennó

Uma parte das mulheres é geneticamente predisposta a ter sintomas psíquicos em períodos de grande oscilação hormonal, que são típicos do ciclo reprodutivo feminino: pré-menstrual, pósparto e perimenopausa (cinco anos antes da menopausa). Nessas fases de mudanças hormonais é mais comum o aparecimento de transtornos mentais.

ISTOÉ – Por quê?
Rennó

Estudos comprovaram que o estrogênio age no sistema nervoso central. Ele atua no aumento do nível dos neurotransmissores do bem-estar e do prazer como se fosse um antidepressivo. Também aumenta os neurotransmissores no hipocampo, responsável pela memória. Significa que o estrogênio organiza e aumenta a funcionalidade do sistema nervoso central. A oscilação desse hormônio é um gatilho de distúrbios mentais.

ISTOÉ – Em comparação aos homens, quanto dessa predisposição é maior nas mulheres?
Rennó

As mulheres correm o risco até duas vezes maior de terem depressão. Os transtornos de ansiedade atingem três vezes mais a mulher. Mas eu nunca desqualifico a mulher por causa dessa maior predisposição, nunca devemos colocá-la num patamar inferior com uma justificativa científica. Alguns pesquisadores já cometeram essa falha. O objetivo tem de ser a busca de tratamentos mais específicos.

ISTOÉ – Há outros fatores significativos que se tornam gatilhos de transtornos mentais nas mulheres?
Rennó

Sim. A genética explica uma suscetibilidade maior ao stress na mulher em relação ao homem. Os dois sofrem. Mas a evolução do stress é pior na mulher. Elas chegam com mais facilidade ao estado de exaustão que leva ao início de um transtorno mental. Ainda não se definiu o perfil genético da depressão nem do transtorno bipolar. O que se sabe, com certeza, é que há genes envolvidos. Há um subgrupo de pessoas que, do ponto de vista genético, terá uma evolução mais negativa do stress. É fato. E costuma ser maior nas mulheres.

ISTOÉ – A mulher acumula uma série de papéis em seu dia-a-dia. Esse excesso de obrigações também é um gatilho de enfermidades psiquiátricas?
Rennó

Isso é importante. Apesar dos avanços sociais conquistados pelas mulheres, elas continuam ganhando menos, em muitas empresas são mais cobradas que os homens, têm múltiplos papéis: mãe, esposa, filha, profissional, dona-de-casa. O homem melhorou bastante e tem ajudado, mas não ainda num grau suficiente para dividir por igual as tarefas domésticas. Essa sobrecarga leva ao stress, que pode ser o estopim do transtorno mental.

ISTOÉ – O stress que pode levar a um transtorno é diferente para eles e para elas?
Rennó

Sim. Fatores ligados às relações afetivas, como conflitos conjugais, doenças de familiares, problemas com os filhos, afetam fortemente as mulheres. Os homens costumam ter stress ligado a fatores ocupacionais, como o trabalho. É importante destacar também que muitas mulheres são vítimas de abusos sexuais e violências. Não que os homens não sejam, mas é mais comum com elas.

ISTOÉ – Quando a ciência identificar os genes dos transtornos mentais todos eles poderão ser prevenidos. Significa que a psicoterapia vai acabar?
Rennó

Não. A psicoterapia sempre vai ajudar na ressignificação das experiências vividas por uma pessoa. Não gosto de posições reducionistas. Há sempre uma interação complexa de fatores biológicos, psicológicos, sociais e comportamentais na eclosão de um transtorno mental. Eu sou fã e, ao mesmo tempo, crítico da neurociência. É um campo importantíssimo com estudos de neuroimagem, mas não podemos reduzir o comportamento humano a funções cerebrais. Muitas vezes um adolescente dependente de álcool e drogas não tem nenhum tipo de ruptura familiar. A psicoterapia também tem a capacidade de promover alterações neuroquímicas, tal e qual os antidepressivos.

ISTOÉ – Estudos mostram que as mulheres se tornam refratárias aos antidepressivos devido ao risco de dois efeitos colaterais de alguns medicamentos: ganho de peso e diminuição da libido.
Rennó

Os efeitos colaterais realmente prejudicam a adesão ao tratamento. Mas é preciso avaliar qual classe de medicamento a paciente está tomando, como e por quem ela está sendo diagnosticada.

Cada novo antidepressivo busca a redução de efeitos colaterais. Os da nova geração praticamente não influenciam no aumento de peso, por exemplo. O problema é que tem gente tomando antidepressivo sem necessidade. Há diagnósticos feitos quando a mulher vai ao ginecologista, ao endocrinologista. O médico pergunta à paciente se ela está triste. Se ela estiver triste naquele dia, com alguma irritabilidade, ele dá um antidepressivo. Criou-se a ideia de que antidepressivo serve para tudo.

ISTOÉ – Como outros especialistas podem estar bem preparados para prescreverem antidepressivos?
Rennó

Eles deveriam ter melhor formação na área da saúde mental. Minha proposta é que ginecologistas passem por estágios dentro da psiquiatria.
Também cabe ao bom médico, independentemente da especialidade clínica, conversar com a paciente sobre prós e contras de um tratamento com antidepressivo. A decisão deve ser tomada junto com a paciente e muitas vezes com a família dela. O terreno é pantanoso, requer conhecimento clínico e científico para saber o que há de risco e benefício em um tratamento.

ISTOÉ – Há má orientação por parte dos médicos quando se trata de saúde mental feminina?
Rennó

Sim. Recebo pacientes vindas de outros médicos, que são super mal orientadas. Elas não são informadas de que o antidepressivo tem efeitos como aumento de peso e interferência na libido. As pessoas param por conta própria com o medicamento porque o médico não explicou que podem piorar se suspendê-lo. Surgem tonturas, irritabilidade, insônia, náuseas.

ISTOÉ – Como é possível prevenir diagnóstico e tratamento errados?
Rennó

Aconselho um amplo diálogo com o médico. Todos os fatores, inclusive orgânicos, devem ser pesquisados. Por exemplo: 20% das mulheres têm, a partir dos 30 anos, hipotireoidismo e, às vezes, é essa disfunção que causa a depressão. O psiquiatra não pode esquecer de pedir exames que identifiquem alterações orgânicas.

ISTOÉ – Como abordar o ganho de peso com uma mulher?
Rennó

Não posso dizer para uma mulher: "Olha, você vai engordar 15 quilos, mas vai ficar bem da depressão." Isso é insensibilidade. Cabe ao médico buscar dentre todos os recursos o menos impactante para ela. Não adianta ter conhecimento técnico e ser um cavalo, ser insensível. A paciente já vem fragilizada. Se for tratada com desprezo, qualquer grama de peso que aumente fará do tratamento um suplício.

ISTOÉ – Uma crise de TPM ou de depressão pós-parto justifica, por exemplo, um crime?
Rennó

Existem formas graves de TPM, que atingem de 3% a 9% das mulheres. É a disforia pré-menstrual, quadro grave que requer intervenção psiquiátrica. Há irritabilidade intensa, impulsividade e depressão, com pensamentos suicidas. E, num rompante de agressividade, essas mulheres podem agredir e até causar uma morte. No caso da depressão pós-parto, esse assunto é mais polêmico.

ISTOÉ – Por quê?
Rennó

Atribui-se o infanticídio a esses quadros, mas as mulheres não costumam fazer isso como a sociedade apregoa. Uma série de sintomas (humor deprimido, perda de interesse e prazer, irritabilidade, pensamentos negativos, culpa por achar que estão negligenciando os cuidados com o filho) atinge entre 10% e 20% das mulheres. Mas elas não estão psicóticas. Não precisam ser isoladas do bebê. As mortes ocorrem num quadro de psicose pós-parto que é raro e atinge duas a cada mil mulheres. Há alteração da crítica e alucinações. No caso de mulheres com antecedente de transtorno bipolar, a probabilidade aumenta para 250 mulheres a cada mil.

ISTOÉ – Por que há resistência da medicina em tratar portadores do transtorno da personalidade antissocial, que são os psicopatas?
Rennó

Eu jamais excluiria esses pacientes por causa da dificuldade do tratamento. É uma discriminação absurda. Por menores que sejam as chances de resultado. Não se pode perder a esperança de melhora para essas pessoas. O processo é lento, mas tenho casos de sucesso no tratamento de transtorno de personalidade em mulheres.