NÚMERO 1 Thiago bateu recorde mundial em piscina de 25 m

Thiago Pereira ganhou seis medalhas de ouro nas duas últimas etapas da Copa do Mundo de natação, ocorridas na semana passada, na Suécia e na Alemanha. Aos 21 anos, porém, a conquista que o nadador mais popular do País deverá comemorar ao final da temporada é o ingresso definitivo na briga pelo ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. Seu credenciamento se deu com os tempos obtidos nas duas competições – mais do que as medalhas –, que aconteceram em piscinas curtas, as de 25 metros. Thiago bateu um recorde mundial nos 200 metros medley (modalidade que envolve os estilos borboleta, costas, peito e crawl), com 1m53s14, e melhorou quatro tempos sul-americanos. Mais: superou duas marcas do americano Michael Phelps, o maior fenômeno da natação mundial e seu adversário direto na Olimpíada – disputada em piscina de 50 m.

Phelps, 22 anos, faturou oito medalhas na Olimpíada de Atenas, em 2004, seis de ouro. “Se o Thiago quiser sonhar em ganhar dele, tem mais é que quebrar recorde mundial. Quando o americano cai na piscina, vem tempo baixo”, diz a ex-nadadora Patrícia Amorim. Para ela, com os recentes resultados, o brasileiro deixou o status de aposta e passa a ser ameaça para Phelps. Thiago deixa claro que está focado: “O Phelps está sempre na minha cabeça. É o cara a ser vencido.” Para tanto terá de nadar muito. A pedido de ISTOÉ, o especialista em natação Paulo Cezar Marinho, doutor em ciências do esporte pela Unicamp, fez uma radiografia da performance de Phelps e Thiago (leia quadro acima). Ele desenvolveu um programa que está a serviço da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) para comparar os atletas na prova dos 400 m medley, onde devem se encontrar também. As análises revelam por que o americano é mais rápido: Thiago dá mais braçadas e a cada ciclo (composto por duas braçadas) percorre uma distância menor em comparação a Phelps.

Dessa forma, o brasileiro gasta mais energia e cansa mais rápido. Diante desse quadro, dois são os desafios dele: dosar a distribuição de energia durante a prova e melhorar a técnica do nado crawl, que fecha a modalidade e na qual a performance de Thiago diminui. Segundo as análises, os atletas completam os 300 m com velocidade de 9,6 metros por segundo. Ou seja, na maior parte da prova Thiago e Phelps estão quase iguais. Mas nos 100 m finais, o brasileiro é cinco segundos mais lento. O americano é dono do melhor nado crawl de todos os tempos. Ele cresce quando o brasileiro já está extenuado. “O ideal seria que Thiago chegasse ao final dos três primeiros estilos com um corpo de vantagem para poder vencer Phelps”, diz Fernando Vanzella, técnico do brasileiro. Vanzella afirma ainda que é preciso melhorar a virada – a cambalhota do brasileiro é mais lenta.

Esses detalhes fazem uma diferença enorme na natação. Em piscina olímpica (50 m), o brasileiro é cerca de três segundos mais lento do que Phelps nos 200 m medley. Na piscina curta, onde hoje Thiago é o melhor do mundo, ele rende mais porque há o dobro de viradas do que na olímpica. A cada virada, o atleta toma impulso ao girar na borda e percorre quase 15 m debaixo da água. Com isso, ele pode nadar 60% da prova submerso e, assim, economizar energia para as braçadas.

O brasileiro terá oito meses para tirar a diferença em Pequim. César Cielo, que treina nos EUA para os 50 m livres, e Kaio Márcio, recordista mundial dos 50 m borboleta, são outras esperanças do Brasil. “Se o César disputar dez provas contra os mais fortes rivais, ele ganha sete”, aposta Ricardo Prado, prata nos 400 medley na Olimpíada de Los Angeles (1984). Já o grau de dificuldade de Thiago Pereira será maior. Cair na água ao lado de Phelps é como entrar em campo para jogar contra o Pelé.