chamada.jpg
SEM LAÇOS
Dilma: quase metade do eleitorado não sabe que ela
é a candidata de Lula

selo_eleicoes.jpg

Ao se despedir dos colegas de primeiro escalão com um otimista “até breve”, durante a posse dos novos ministros na quarta-feira 31, Dilma Rousseff deu início ao mais importante momento de sua trajetória política. Deixou de ser a ministra-chefe da Casa Civil e principal executiva do governo para se tornar a pré-candidata do PT à Presidência da República. Mas são muitos os desafios pela frente até a homologação da candidatura em julho. Para começar, Dilma vai perder a companhia quase diária, em viagens e comícios pelo País, de seu maior cabo eleitoral, o carismático e superpopular presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pela Justiça Eleitoral, Lula só poderá estar ao lado da ex-ministra nos fins de semana, fora do horário de expediente e em eventos partidários que não representem campanha antecipada, sob pena de a candidatura ser impugnada mais adiante. A presença de Dilma em inaugurações não é expressamente proibida. Mas, para evitar contestações pela oposição, a ordem no staff da campanha é deixá-la fora delas. “Vamos usar a cautela para não infringir a lei. Não queremos correr riscos”, disse à ISTOÉ o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Dilma, a partir de agora, terá de andar com as próprias pernas Brasil afora. Sua primeira agenda na condição de pré-candidata teve de ser adequada a essa nova realidade. O itinerário foi definido em reunião na quarta-feira 31 na casa da ex-ministra. O principal objetivo, nas próximas semanas, segundo confidenciou à ISTOÉ um dos escudeiros da ex-ministra, é torná-la mais conhecida pelos eleitores. A petista aproveitará o feriado de Páscoa para descansar com a família e completar a mudança para a nova casa no Lago Sul, alugada por R$ 12 mil pelo PT. Já na segunda-feira 5, Dilma será a grande estrela do encontro do PR que vai declarar apoio à sua candidatura. Na terça e quarta-feira, a pré-candidata do PT fará um roteiro pelo segundo maior colégio eleitoral do País. Visitará Belo Horizonte e Ouro Preto, onde terá encontros setoriais com lideranças petistas. Um dos pontos altos do périplo mineiro será o encontro na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) com o presidente da entidade, Robson Andrade, que em junho assumirá o comando da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na quinta-feira 8, será a vez de o PCdoB formalizar, em Brasília, o apoio à candidatura petista num evento que contará com a participação de Martinho da Vila, Lecy Brandão e Netinho. “Será uma grande festa para Dilma, a estrela maior do nosso projeto”, diz o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.

Além dos atos partidários, uma das maneiras encontradas pelo PT para manter Dilma em evidência, durante a entressafra eleitoral, foi a elaboração de uma agenda suprapartidária para ela apresentar as diretrizes de seu programa a diversos segmentos da sociedade civil, como empresários, artistas e intelectuais. Nesses pequenos encontros, Dilma reforçará a bandeira da continuidade do governo Lula, com ênfase na educação, saúde, ciência e tecnologia e no desenvolvimento. Até junho, também fará visitas a governadores e prefeitos, consolidando os futuros palanques de sua campanha. Um dado em especial, extraído da última pesquisa Datafolha, preocupa o staff petista. Dos eleitores que apoiam Lula, só 33% votam em Dilma e 58% do total do eleitorado sabe que ela é a candidata do presidente. Daí a importância de reforçar ainda mais os laços de Dilma com o atual governo. “Muitas pessoas ainda não associam Dilma às realizações de Lula, então vamos trabalhar melhor isso no curto prazo”, disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

img1.jpg

Apesar de o Datafolha ter trazido alguns números desfavoráveis, como a vantagem de 9 pontos percentuais de Serra sobre Dilma, pesquisas internas encomendadas pelo PT, nos últimos dias, enchem os apoiadores de Dilma de otimismo. A confiar nas pesquisas do PT, os resultados são animadores. Uma sondagem que acabou de sair do forno revelou, por exemplo, um quadro de empate técnico entre Serra e Dilma em todo o País. Na região Sudeste, que responde por 44% do eleitorado brasileiro, o equilíbrio é grande. Em Minas, terra do tucano Aécio Neves, José Serra tem 33%, contra 30% de Dilma. No Rio de Janeiro, dá empate. E a larga diferença pró-Serra em São Paulo é compensada na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do País, onde Dilma aparece com 12 pontos à frente do ex-governador de São Paulo. A vantagem da pré-candidata do PT, segundo integrantes da campanha, é que o potencial de crescimento dela é bem maior. “A rejeição dela é baixa. O nível de conhecimento da Dilma é bem menor do que o do Serra, o que mostra que ela ainda não chegou ao teto do crescimento”, diz um guru da ex-ministra.

Os responsáveis pela campanha também garantem que Dilma vem ganhando tarimba política desde que foi escolhida por Lula para ser a candidata do partido ao Planalto. Seu discurso, cansativo e tecnocrático durante os eventos de governo, já é mais palatável e direto nos encontros em petit comité nos Estados, segundo essas fontes. No PT, todos são unânimes em afirmar que a pré-candidata está “tomando gosto pela campanha”. “Ela está adorando o contato com o povo. Também ajuda o fato de ela ser muito disciplinada e inteligente”, reconhece o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Nem mesmo a possibilidade de o PSDB explorar a falta de experiência política da ex-ministra desanima o PT. Ao contrário. Outra pesquisa em poder do partido revelou que Dilma já é reconhecida pela sua competência administrativa. A população, pela mesma sondagem, também estaria cansada de políticos profissionais. “Se usarem esse expediente vão dar tiro no pé. Essa é a fórmula mais fácil para eles perderem a eleição”, diz uma raposa do PT. O staff da pré-candidata manda outro recado ao PSDB. Diz que tem um discurso pronto caso a oposição insista em dizer que a saúde no País melhorou quando Serra foi ministro da área, durante o governo Fernando Henrique. “Só genérico não adianta. Vamos mostrar que o PSDB falhou muito na saúde”, afirmou um dos coordenadores da campanha.

Enquanto não aluga um local mais amplo, Dilma, quando estiver em Brasília, deve despachar na sala de um hotel. Fora da capital federal, a ex-ministra se valerá da estrutura do PT, que cobrirá todas as suas despesas até julho. Para não deixar o salto alto tomar conta da campanha, foram definidos três pilares de sustentação, que devem ser seguidos à risca para garantir o êxito da empreitada eleitoral. Segundo o staff de Dilma, a eleição será extremamente disputada “do primeiro ao último dia” e, por isso, serão necessários equilíbrio emocional, rigor técnico e ação política. “O caminho a percorrer agora é mobilizar a nossa militância e a dos aliados e levar o nome de nossa candidata e nossas propostas a todo o País. Eleições são vencidas com direção e fatos políticos, imagem e símbolos, mobilização e disputa, debates e propaganda”, faz coro o ex-ministro José Dirceu, dirigente do PT e um dos principais articuladores da campanha da ex-ministra. Como se vê, a estratégia do voo solo de Dilma Rousseff está cuidadosamente traçada. O futuro dirá se vai dar certo.