chamada.jpg
TRANSPARENTE
Loja Christian Dior de 2003, em Tóquio, é ícone do estilo do Sanaa

Simples é a palavra recorrente quando se descreve o trabalho dos arquitetos japoneses Kazuyo Sejima, 54 anos, e Ryue Nishizawa, 44, do escritório Sanaa, vencedores do Prêmio Pritzker de 2010, considerado o Oscar da arquitetura, anunciado no dia 29 de março. Com obras na Europa, América do Norte e Ásia, eles são autores de ícones como o prédio da Christian Dior, em Tóquio, e o edifício do New Museum of Contemporary Art, em Nova York, e adeptos de materiais tradicionais, como o concreto, o metal e o vidro. Duas das principais marcas de suas construções são o uso extensivo das curvas em ambientes internos e das transparências. Paredes de metal ondulado e perfurado ou de vidro envelopam, de maneira sutil, boa parte dos prédios e áreas externas de seus projetos. A palheta de cores raramente foge do branco e de leves tons de cinza. “Exploro as possibilidades de fazer uma arquitetura mais aberta”, explicou Sejima, pouco depois de receber a notícia do prêmio. “É uma arquitetura que busca os extremos das ideias de leveza e transparência”, disse Martha Thorne, diretora  executiva do prêmio.

img2.jpg
IRREGULAR
Janelas de tamanhos distintos rasgam a fachada de escola de design alemã

Embora sem produção acadêmica que dê embasamento teórico à arquitetura que produzem, Sejima e Nishizawa mostram extrema regularidade em seus projetos. É sinal claro de que há um discurso consistente por trás das formas arrojadas de prédios como o Zollverein School of Management and Design, na Alemanha, e a École Polytechnique Fédérales de Lausanne (EPFL), na Suíça. “A Sejima foi convidada para ser curadora da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2010”, lembra Ricardo Ohtake, presidente do Instituto Tomie Ohtake, que organizou uma exposição com trabalhos do Sanaa em São Paulo há cerca de dois anos. O convite é sinal claro de confiança na formação da arquiteta, que foge da tentação de imprimir formas espetaculares aos seus prédios apenas para impressionar olhos destreinados. “É excelente ver uma mulher conseguir tanto em um ambiente machista como o da arquitetura, principalmente no Japão”, explica Mário Figueroa, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em São Paulo. Tanto para Figueroa quanto para Ohtake está claro que é Sejima quem coordena os trabalhos no Sanaa, embora Nishizawa assuma alguns projetos sozinho.

img.jpg
INTERNACIONAIS
Um museu em Nova York

A japonesa é famosa pelo rigor com que cobra seu exército de arquitetos que ficam no Japão, mas que têm as origens mais diversas. “No Sanaa, todo mundo morre de medo dela”, revela Ohtake, que não só conheceu a dupla quando organizava a exposição do Sanaa em 2008, como os levou para conhecer os marcos arquitetônicos de São Paulo. O passeio terminou no Parque do Ibirapuera, onde três grandes obras de Oscar Niemeyer, que ganhou o Pritzker em 1988, dominaram as atenções: o Auditório Ibirapuera, a Oca e a Marquise do Ibirapuera. “O Nishizawa ficou 40 minutos observando a marquise do Ibirapuera, estupefato”, lembra Ohtake. O prêmio, criado em 1979 e mantido pela Fundação Hyatt, dos Estados Unidos, só foi dividido por arquitetos de um mesmo escritório em outras duas ocasiões. Mas é a primeira vez que um homem e uma mulher são agraciados conjuntamente.

img1.jpg
Escola na Suíça. O branco e os tons de cinza predominam

“Só que eles não são um casal”, adianta Ohtake. “Quem ganha o Pritzker geralmente é casado com o trabalho mesmo”, brinca. Solteiros, os dois dedicam, em média, 16 horas por dia ao ofício. Agora, com a premiação, devem aumentar ainda mais essa conta, além dos honorários cobrados. Sejima e Nishizawa serão condecorados em cerimônia marcada para o dia 17 de maio na Ilha de Ellis, às margens do Estado de Nova York (EUA). Lá, eles receberão uma medalha de bronze e US$ 100 mil.

img3.jpg
VISITA
Nishizawa e Sejima já estiveram no Brasil e se impressionaram com a obra de Niemeyer