Governadora do RS prometesacrifícios para gerar emprego

Emerson Souza/RBS

Anita Garibaldi era de Santa Catarina. Mas tornou-se uma das grandes heroínas do Rio Grande do Sul ao lutar, juntamente com seu marido, o italiano Giuseppe Garibaldi, na Revolução Farroupilha. Yeda Crusius, 63 anos, também não é gaúcha. Nasceu em São Paulo. E é em Anita Garibaldi que ela agora se inspira para tentar tirar o Rio Grande do Sul de uma das maiores crises de sua história. Primeira mulher a governar o Estado, famoso por seu machismo, Yeda diz que foi “malvada” na campanha, ao mostrar que os gaúchos só irão resgatar empregos industriais e relançar a produção agrícola por meio de cortes drásticos em despesas públicas. Agora, depois de ter um pacote de aumento de impostos rejeitado pelos deputados estaduais, Yeda afirma que terá de ser ainda mais dura do que imaginava. Ela está disposta a jogar pesado contra o governo federal para obter recursos que ajudem a tirar o Estado do atoleiro. “Lula foi eleito para governar para todos os brasileiros, e não apenas para os brasileiros petistas.” A ISTOÉ, na entrevista das páginas seguintes, a candidata a heroína Yeda Crusius mostrou que está afiada.

STOÉ – Em que condições a sra. recebeu o Rio Grande do Sul?
Yeda Crusius
– Em crise financeira aguda. Quando fui eleita, o déficit era de 15% da receita líquida. Quando tomei posse, já era de 20%. Ora, nada menos que 18,5% da receita líquida vai todos os meses, automaticamente, para o governo federal, a fim de amortizar dívidas antigas. Nosso orçamento é de R$ 20 bilhões e nossa dívida ativa é de R$ 17 bilhões. Fechamos 2006 com R$ 9 bilhões de precatórios a pagar. Tenho de pagar, só que não consigo nem dinheiro para pagar salários e fornecedores. Em dezembro, caducou o prazo para a alíquota maior de ICMS. O déficit mensal era de R$ 1,7 bilhão; agora já é de R$ 2,4 bilhões. Vou precisar costurar um pacto interno para fechar o orçamento deste ano. Preciso congelar os recursos dos Três Poderes; não posso dar nenhum aumento novo e tenho de buscar mais dinheiro.

ISTOÉ – A sra. já sofreu uma derrota na Assembléia Legislativa, que recusou
o seu pacote fiscal. Como isso vai ficar?
Yeda
– Na verdade, não fui eu quem sofreu uma derrota, foi o povo do Rio Grande.
Os deputados não compreenderam o que eu estava propondo. O que eu queria
era reservar parte da arrecadação para a criação de fundos estruturantes, de combate à pobreza, para financiar obras de habitação, saneamento e irrigação.
Eles negaram em bloco a criação desses fundos. Vão me obrigar a ser ainda mais dura do que eu queria.

ISTOÉ – Como?
Yeda
– Agora que não tenho mais esses fundos, terei de fazer um corte muito mais drástico. Vai ser mais duro e doloroso. Mas eu tenho certeza de que o eleitorado gaúcho apoiava as medidas que eu propus à Assembléia e vai entender os sacrifícios que teremos de fazer.

ISTOÉ – A sra. tem certeza disso?
Yeda
– Venci as eleições por causa da forma transparente como apresentei os problemas econômicos do Estado. Coloquei a crise aguda que passamos e disse o que faria no governo para superar a crise. Adiantei todas as medidas que faria, um passo de cada vez. Fui uma malvada na campanha. Isso gerou um grau de confiança muito grande. A população entendeu porque sentia que as coisas estavam piorando. Minha proposta era parar de ficar reclamando do governo federal e assumir a responsabilidade, fazer com coragem o que poderíamos fazer. Por isso, virei a eleição. Estava em terceiro e ninguém apostava na minha vitória. Acabei com a maior diferença de votos das últimas cinco eleições.

ISTOÉ – A sra. expôs o problema, mas vai conseguir resolvê-lo?
Yeda
– De fato, o déficit é grande demais. Então, o que vai acontecer no decorrer do ano eu não sei. O que eu sei dizer é que nós vamos fazer os cortes que havíamos proposto e buscar recuperar o crédito junto ao Tesouro nacional. Esse crédito está rompido. O governo do Estado paga a dívida em dia, mas estourou todas as metas fiscais do contrato de dívidas. Então, nós perdemos o crédito com o Tesouro. Em decorrência, não temos também crédito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nem com os bancos de fomento internacionais. Recuperar o crédito é fundamental. Agora, temos de fazer também a nossa parte. E, nesse sentido, eu proponho um conjunto de 12 medidas, com três eixos: crise fiscal, melhoria da gestão e retomada do crescimento. O Mário Covas (ex-governador de São Paulo) e o Aécio Neves (governador de Minas Gerais) deram a isso o nome de “choque de gestão”: fazer mais com o mesmo.

ISTOÉ – Pelo menos 17 governadores assumiram com seus Estados quebrados.
O que está acontecendo com as economias estaduais?
Yeda
– É um problema estrutural. Em primeiro lugar, temos os Estados como o Rio Grande, que dependem do agronegócio. Eles foram penalizadíssimos. Somos um Estado exportador e o câmbio foi para o chão. Isso provoca uma onda enorme de desemprego em setores como os de móveis, calçados e vestuário. É cruel e triste. E a política agrícola do governo foi inexistente. Então, houve uma quebra generalizada do setor agrícola e do agronegócio. Foi um desastre para esses Estados o que aconteceu nesse setor. Aqui, indústrias de máquinas e implementos agrícolas fecharam. Não estavam vendendo nenhuma unidade. Não há renda agrícola para compra desse maquinário. Soma-se a isso, para todos, a concentração da receita no governo federal na forma de impostos e contribuição, de forma gigantesca. É por isso que os Estados pedem compensações. Temos a penalização do ICMS sobre as exportações. A Lei Kandir veio para compensar os exportadores, mas o governo Lula jamais ressarciu o que deve aos Estados. O acumulado retido já chega a R$ 8 bilhões, R$ 1 bilhão só para nós. O governo prometeu amenizar a situação repassando R$ 3 bilhões, mas disse que só faria depois das eleições. As eleições acabaram. Estamos esperando.

ISTOÉ – A idéia é pedir uma renegociação das dívidas?
Yeda
– É preciso haver uma relação mais equânime. Por exemplo, o Orçamento da União. Os Estados perderam muito com a opção política do governo federal. Porque houve uma inversão do que vinha de investimentos para os Estados. Os Estados deixaram de receber investimentos federais porque a opção foi Bolsa Família. Eu acho que essa reversão o próprio governo federal está buscando mudar agora, nesse discurso do presidente Lula de que quer “destravar” os canais de investimento público. Espero que ele faça isso mesmo. Os investimentos federais no Rio Grande do Sul beiram a zero.

ISTOÉ – A sra. prega uma união dos governadores para uma discussão em
bloco desses problemas?
Yeda
– Sem dúvida. Isso tem de evoluir e muito bem. Eu continuo defendendo extraordinariamente a questão da lei de responsabilidade fiscal. Agora, cumprir a lei de responsabilidade fiscal, num quadro federativo, que não compensa os Estados pela sua seriedade, é difícil. Eu não quero mudar a lei. Mas quero, sim, condições para cumpri-la.

"Um Estado que forjou mulheres como Anita Garibaldi não é machista.
As mulheres daqui também sabem falar grosso"

STOÉ – Os governadores falam em compensações da Lei Kandir e em novo pacto federativo. Por que agora pode haver um resultado concreto?
Yeda
– Os últimos quatro anos foram muito
ruins para a política. A relação com os partidos,
com os governadores se deteriorou. Tudo na
base do mensalão. Foram quatro anos terríveis.
Viveu-se em clima constante de denúncia. E era
uma depois da outra. Gravíssimas. Isso enfraqueceu a relação institucional de uma maneira impressionante. O que é o Congresso hoje no olhar do cidadão? É uma pena.

ISTOÉ – E isso vai mudar?
Yeda
– Eu estou apenas olhando, por enquanto. O próprio presidente diz que vai ser diferente. Espero que seja mesmo diferente. Acredito que será.

ISTOÉ – Os governadores, com essa situação fiscal, não vão acabar na mão do presidente Lula? De mãos atadas para fazer oposição?
Yeda
– Nossa obrigação no PSDB é de ser oposição. Mas oposição parlamentar. Acabou a campanha eleitoral e Lula virou presidente de todos os brasileiros. Agora chegou a hora de a governadora do Rio Grande chamar à responsabilidade o presidente reeleito. Não vamos aderir ao governo federal. O governo federal tem de fazer a parte dele. O Porto do Rio Grande, em quatro anos, não recebeu um pila (real). Como fazer dragagem sem dinheiro?

ISTOÉ – Mas os governadores estão ou não na mão do presidente?
Yeda
– Estar, não estão. Agora, se ele quiser, pode nos fazer muito mal. Mas eu acho que ele não está querendo.

ISTOÉ – Mas o presidente Lula não pode buscar neutralizar a oposição pressionando os governadores para que eles, por sua vez, pressionem os seus deputados?
Yeda
– Ele já fez isso nos quatro anos do primeiro mandato. Foi um dos elementos de quebra da qualidade política. Porque ela não foi feita como
uma ação transparente. O presidente não propôs
aos governadores um pacto no qual eles retribuiriam com o apoio das suas bases no Congresso. Não foi feito assim. Foi feito de uma forma difusa, pouco clara. Mas é parte nata da mulher saber que tudo na vida se faz em ciclos. No caso do governo, esse ciclo está terminando.

"Câmbio no chão provoca desemprego nas indústrias
de móveis, roupas e
calçados. É triste e cruel"

ISTOÉ – Como a sra. avalia a maneira como os governadores trabalharam com Lula nos últimos quatro anos?
Yeda
– O modo de governar nesses últimos quatro anos foi tão radicalmente diferente do nosso modo durante os oito anos do governo FHC que isso nos baratinou. O modo como eles tiraram as bandeiras da nossa mão sem que conseguíssemos reagir. Foi difícil para nós. Há ainda todo esse encanto do presidente, nem digo do partido dele ou do governo dele. Mas com o encanto que ele exerce quando discursa era muito difícil para a gente ocupar espaço.

ISTOÉ – O presidente foi mais competente politicamente que a oposição.
Yeda
– Olha o que ele tem na mão. Primeiro ele é presidente da República; segundo tem uma capacidade imensa de discurso. Ninguém está no lugar que ele está sem ter qualidades imensas para isso.

ISTOÉ – Qual a lição para a oposição?
Yeda
– Temos de formular alternativas políticas e econômicas de uma maneira estruturada, comunicativa, indo até onde o povo está. Há milhares de municípios na mão da oposição. Dou um exemplo do Rio Grande do Sul. Dos 100 municípios que ganharam o prêmio de responsabilidade fiscal no ano passado, 49 estão aqui. A gente tem de mostrar à população que nós somos os autores dessas coisas.

ISTOÉ – Como será governar um Estado machista?
Yeda
– O gaúcho não é machista, só fala grosso. Mas as mulheres daqui também falam grosso. É um Estado que forjou personagens como Anita Garibaldi e Ana Terra (personagem de ficção, do romance O tempo e o vento, de Érico Verissimo). O machismo do gaúcho não se manifesta pela depreciação da mulher, pelo contrário. Fui votada pelos homens, que diziam: “Aqui, votamos em mulher.”

ISTOÉ – ISTOÉ ? Em que condições a sra. recebeu o Rio Grande do Sul?
Yeda Crusius – Yeda Crusius ? Em crise financeira aguda. Quando fui eleita, o déficit era de 15% da receita líquida. Quando tomei posse, já era de 20%. Ora, nada menos que 18,5% da receita líquida vai todos os meses, automaticamente, para o governo federal, a fim de amortizar dívidas antigas. Nosso orçamento é de R$ 20 bilhões e nossa dívida ativa é de R$ 17 bilhões. Fechamos 2006 com R$ 9 bilhões de precatórios a pagar. Tenho de pagar, só que não consigo nem dinheiro para pagar salários e fornecedores. Em dezembro, caducou o prazo para a alíquota maior de ICMS. O déficit mensal era de R$ 1,7 bilhão; agora já é de R$ 2,4 bilhões. Vou precisar costurar um pacto interno para fechar o orçamento deste ano. Preciso congelar os recursos dos Três Poderes; não posso dar nenhum aumento novo e tenho de buscar mais dinheiro.
ISTOÉ – ISTOÉ ? A sra. já sofreu uma derrota na Assembléia Legislativa, que recusou o seu pacote fiscal. Como isso vai ficar?
Yeda Crusius – Yeda ? Na verdade, não fui eu quem sofreu uma derrota, foi o povo do Rio Grande. Os deputados não compreenderam o que eu estava propondo. O que eu queria era reservar parte da arrecadação para a criação de fundos estruturantes, de combate à pobreza, para financiar obras de habitação, saneamento e irrigação. Eles negaram em bloco a criação desses fundos. Vão me obrigar a ser ainda mais dura do que eu queria.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Como?
Yeda Crusius – Yeda ? Agora que não tenho mais esses fundos, terei de fazer um corte muito mais drástico. Vai ser mais duro e doloroso. Mas eu tenho certeza de que o eleitorado gaúcho apoiava as medidas que eu propus à Assembléia e vai entender os sacrifícios que teremos de fazer.
ISTOÉ – ISTOÉ ? A sra. tem certeza disso?
Yeda Crusius – Yeda ? Venci as eleições por causa da forma transparente como apresentei os problemas econômicos do Estado. Coloquei a crise aguda que passamos e disse o que faria no governo para superar a crise. Adiantei todas as medidas que faria, um passo de cada vez. Fui uma malvada na campanha. Isso gerou um grau de confiança muito grande. A população entendeu porque sentia que as coisas estavam piorando. Minha proposta era parar de ficar reclamando do governo federal e assumir a responsabilidade, fazer com coragem o que poderíamos fazer. Por isso, virei a eleição. Estava em terceiro e ninguém apostava na minha vitória. Acabei com a maior diferença de votos das últimas cinco eleições.
ISTOÉ – ISTOÉ ? A sra. expôs o problema, mas vai conseguir resolvê-lo?
Yeda Crusius – Yeda ? De fato, o déficit é grande demais. Então, o que vai acontecer no decorrer do ano eu não sei. O que eu sei dizer é que nós vamos fazer os cortes que havíamos proposto e buscar recuperar o crédito junto ao Tesouro nacional. Esse crédito está rompido. O governo do Estado paga a dívida em dia, mas estourou todas as metas fiscais do contrato de dívidas. Então, nós perdemos o crédito com o Tesouro. Em decorrência, não temos também crédito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nem com os bancos de fomento internacionais. Recuperar o crédito é fundamental. Agora, temos de fazer também a nossa parte. E, nesse sentido, eu proponho um conjunto de 12 medidas, com três eixos: crise fiscal, melhoria da gestão e retomada do crescimento. O Mário Covas (ex-governador de São Paulo) e o Aécio Neves (governador de Minas Gerais) deram a isso o nome de ?choque de gestão?: fazer mais com o mesmo.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Pelo menos 17 governadores assumiram com seus Estados quebrados. O que está acontecendo com as economias estaduais?
Yeda Crusius – Yeda ? É um problema estrutural. Em primeiro lugar, temos os Estados como o Rio Grande, que dependem do agronegócio. Eles foram penalizadíssimos. Somos um Estado exportador e o câmbio foi para o chão. Isso provoca uma onda enorme de desemprego em setores como os de móveis, calçados e vestuário. É cruel e triste. E a política agrícola do governo foi inexistente. Então, houve uma quebra generalizada do setor agrícola e do agronegócio. Foi um desastre para esses Estados o que aconteceu nesse setor. Aqui, indústrias de máquinas e implementos agrícolas fecharam. Não estavam vendendo nenhuma unidade. Não há renda agrícola para compra desse maquinário. Soma-se a isso, para todos, a concentração da receita no governo federal na forma de impostos e contribuição, de forma gigantesca. É por isso que os Estados pedem compensações. Temos a penalização do ICMS sobre as exportações. A Lei Kandir veio para compensar os exportadores, mas o governo Lula jamais ressarciu o que deve aos Estados. O acumulado retido já chega a R$ 8 bilhões, R$ 1 bilhão só para nós. O governo prometeu amenizar a situação repassando R$ 3 bilhões, mas disse que só faria depois das eleições. As eleições acabaram. Estamos esperando.
ISTOÉ – ISTOÉ ? A idéia é pedir uma renegociação das dívidas?
Yeda Crusius – Yeda ? É preciso haver uma relação mais equânime. Por exemplo, o Orçamento da União. Os Estados perderam muito com a opção política do governo federal. Porque houve uma inversão do que vinha de investimentos para os Estados. Os Estados deixaram de receber investimentos federais porque a opção foi Bolsa Família. Eu acho que essa reversão o próprio governo federal está buscando mudar agora, nesse discurso do presidente Lula de que quer ?destravar? os canais de investimento público. Espero que ele faça isso mesmo. Os investimentos federais no Rio Grande do Sul beiram a zero.
ISTOÉ – ISTOÉ ? A sra. prega uma união dos governadores para uma discussão em bloco desses problemas?
Yeda Crusius – Yeda ? Sem dúvida. Isso tem de evoluir e muito bem. Eu continuo defendendo extraordinariamente a questão da lei de responsabilidade fiscal. Agora, cumprir a lei de responsabilidade fiscal, num quadro federativo, que não compensa os Estados pela sua seriedade, é difícil. Eu não quero mudar a lei. Mas quero, sim, condições para cumpri-la.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Os governadores falam em compensações da Lei Kandir e em novo pacto federativo. Por que agora pode haver um resultado concreto?
Yeda Crusius – Yeda ? Os últimos quatro anos foram muito ruins para a política. A relação com os partidos, com os governadores se deteriorou. Tudo na base do mensalão. Foram quatro anos terríveis. Viveu-se em clima constante de denúncia. E era uma depois da outra. Gravíssimas. Isso enfraqueceu a relação institucional de uma maneira impressionante. O que é o Congresso hoje no olhar do cidadão? É uma pena.
ISTOÉ – ISTOÉ ? E isso vai mudar?
Yeda Crusius – Yeda ? Eu estou apenas olhando, por enquanto. O próprio presidente diz que vai ser diferente. Espero que seja mesmo diferente. Acredito que será.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Os governadores, com essa situação fiscal, não vão acabar na mão do presidente Lula? De mãos atadas para fazer oposição?
Yeda Crusius – Yeda ? Nossa obrigação no PSDB é de ser oposição. Mas oposição parlamentar. Acabou a campanha eleitoral e Lula virou presidente de todos os brasileiros. Agora chegou a hora de a governadora do Rio Grande chamar à responsabilidade o presidente reeleito. Não vamos aderir ao governo federal. O governo federal tem de fazer a parte dele. O Porto do Rio Grande, em quatro anos, não recebeu um pila (real). Como fazer dragagem sem dinheiro?
ISTOÉ – ISTOÉ ? Mas os governadores estão ou não na mão do presidente?
Yeda Crusius – Yeda ? Estar, não estão. Agora, se ele quiser, pode nos fazer muito mal. Mas eu acho que ele não está querendo.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Mas o presidente Lula não pode buscar neutralizar a oposição pressionando os governadores para que eles, por sua vez, pressionem os seus deputados?
Yeda Crusius – Yeda ? Ele já fez isso nos quatro anos do primeiro mandato. Foi um dos elementos de quebra da qualidade política. Porque ela não foi feita como uma ação transparente. O presidente não propôs aos governadores um pacto no qual eles retribuiriam com o apoio das suas bases no Congresso. Não foi feito assim. Foi feito de uma forma difusa, pouco clara. Mas é parte nata da mulher saber que tudo na vida se faz em ciclos. No caso do governo, esse ciclo está terminando.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Como a sra. avalia a maneira como os governadores trabalharam com Lula nos últimos quatro anos?
Yeda Crusius – Yeda ? O modo de governar nesses últimos quatro anos foi tão radicalmente diferente do nosso modo durante os oito anos do governo FHC que isso nos baratinou. O modo como eles tiraram as bandeiras da nossa mão sem que conseguíssemos reagir. Foi difícil para nós. Há ainda todo esse encanto do presidente, nem digo do partido dele ou do governo dele. Mas com o encanto que ele exerce quando discursa era muito difícil para a gente ocupar espaço.
ISTOÉ – ISTOÉ ? O presidente foi mais competente politicamente que a oposição.
Yeda Crusius – Yeda ? Olha o que ele tem na mão. Primeiro ele é presidente da República; segundo tem uma capacidade imensa de discurso. Ninguém está no lugar que ele está sem ter qualidades imensas para isso.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Qual a lição para a oposição?
Yeda Crusius – Yeda ? Temos de formular alternativas políticas e econômicas de uma maneira estruturada, comunicativa, indo até onde o povo está. Há milhares de municípios na mão da oposição. Dou um exemplo do Rio Grande do Sul. Dos 100 municípios que ganharam o prêmio de responsabilidade fiscal no ano passado, 49 estão aqui. A gente tem de mostrar à população que nós somos os autores dessas coisas.
ISTOÉ – ISTOÉ ? Como será governar um Estado machista?
Yeda Crusius – Yeda ? O gaúcho não é machista, só fala grosso. Mas as mulheres daqui também falam grosso. É um Estado que forjou personagens como Anita Garibaldi e Ana Terra (personagem de ficção, do romance O tempo e o vento, de Érico Verissimo). O machismo do gaúcho não se manifesta pela depreciação da mulher, pelo contrário. Fui votada pelos homens, que diziam: ?Aqui, votamos em mulher.?