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Janelas e portas são muito mais do que elementos arquitetônicos. São imagens arquetípicas que, ao longo da história da arte, serviram de entrada para as representações das visões de mundo de vários artistas e seus momentos históricos. No Renascimento, a pintura em perspectiva ganha essa propriedade ao ser disposta na tela emoldurada. O quadro vira uma janela para a eternidade, um modo de “congelar” o momento criado pelo pintor. Já na contemporaneidade, a tela se expande com as novas possibilidades da fotografia e do cinema. A primeira tenta congelar o tempo fugidio e o segundo nos revela a mágica de presenciarmos, em uma sala escura, a janela da ilusão de um tempo real, atual e em movimento. Ao longo do século XX, a tela do cinema deixou a sala escura e se expandiu para outros espaços, como, por exemplo, aqueles criados dentro de galerias de arte.

A instalação “Presenças Insustentáveis”, de Lucas Bambozzi, simula na galeria a estrutura de um apartamento, mas um apartamento sem janelas, com apenas uma porta de entrada ou saída. Janelas e portas são projetadas nas paredes brancas, que ganham a característica cinemática da ilusão, ao mostrar o registro do tempo através de marcas, manchas e cantos de ambientes um dia habitados. O artista teve a ideia a partir de suas visitas a apartamentos e casas que procurava para alugar. São imagens subjetivas de quartos, paredes, cozinhas, janelas e portas que criam ausências programadas: ambientes vazios preenchidos apenas por rastros. Mas para onde essas janelas e portas de Bambozzi querem nos levar? Talvez a uma profunda contemplação interior. Ou, quem sabe, ao contrário das outras janelas da arte ou do cinema, nos mostrar a impossibilidade de deter o avanço do tempo.