As indicações ao Oscar ainda não saíram (a lista é anunciada oficialmente no
dia 23), mas não é preciso ser o Mágico de Oz para acertar o nome dos filmes
que inevitavelmente estarão entre os cinco grandes concorrentes nas diversas categorias. Motivo: este ano a briga pelas estatuetas da maior premiação cinematográfica do mundo começou mais cedo e a Oscar race (corrida do
Oscar) acaba pressionando a definição dos favoritos – isso acontece porque o competitivo marketing promocional dos filmes transformou o Oscar num pesado
jogo de cartas marcadas. Para a premiação deste ano, por exemplo, três já se encontram na dianteira:

Os infiltrados (sobre a traição no seio da máfia irlandesa de Boston), A rainha (mostra a crise vivida pela rainha Elizabeth II com a morte da princesa Diana) e Dreamgirls – em busca de um sonho (musical dramático passado nos anos 60 sobre um trio feminino de música soul). Na categoria de melhor filme estrangeiro, na qual o brasileiro Cinema, aspirinas e urubus briga por uma vaga, as atenções estão voltadas para o mexicano O labirinto do fauno. Pelo menos essa é a aposta do jornal especializado The Hollywood Reporter que “adiantou” mais 11 favoritos. Entre eles figura Babel, do mexicano Alejandro Gonzáles Inãrrítu, que mostra um olhar globalizado sobre a tragédia de um casal americano em férias no Marrocos (estréia no Brasil na sexta-feira 19).

O balanço anual com as tradicionais listas de melhores, na verdade, começa a esquentar em dezembro com a divulgação dos concorrentes ao Globo de Ouro – prêmio atribuído pela Associação de Críticos Estrangeiros de Hollywood. Nesse ano quem recebeu o maior número de indicações foi justamente Babel, com sete categorias, entre elas a de melhor filme. O resultado do Globo de Ouro sai na segunda-feira 15 e é uma importante rodada de cartas para o Oscar. “Fala-se que essa primeira premiação influencia a votação do Oscar”, diz o diretor Fernando Meirelles, que tem direito a voto porque já concorreu à estatueta com Cidade de Deus e O jardineiro fiel. “Ao ver determinado ator sendo premiado no Globo de Ouro, acabo querendo conferir o trabalho com mais atenção. É assim que funciona essa temporada de prêmios, tudo faz parte de um grande pacote.” Esse “grande pacote” inclui, obviamente, o chamado lobby da indústria, quando as grandes produtoras gastam muitos dólares em anúncios de páginas inteiras em jornais e em demorados spots no horário nobre das tevês. Duas vezes indicado à categoria
de melhor ator no Globo de Ouro, pela interpretação do policial mafioso em Os infiltrados e do traficante de pedras de Diamante de sangue, o ator Leonardo DiCaprio tem sido alvo de um lobby atípico: a campanha em torno de seu nome sugere que no Oscar ele seja votado como ator coadjuvante no primeiro filme e
como protagonista no segundo.

Outras duas premiações de peso já soltaram suas listas: a das associações de produtores e a de atores. A primeira, que faz sua noite de gala no dia 20 deste mês, confirmou o que já corria de boca em boca: contemplou com mais indicações Babel, Os infiltrados, Dreamgirls, A rainha e o azarão Pequena Miss Sunshine. A segunda premiação, que revelará os contemplados no dia 28, repete a situação: colocou como favoritos Babel, Os infiltrados, Dreamgirls e, de novo, Pequena Miss Sunshine. Só para lembrar, são justamente esses os filmes listados pelo jornal The Hollywood Reporter. O curioso é que Babel, por exemplo, tinha tudo para não agradar, porque Iñarrítu, também diretor de Amores brutos e 21 gramas, tem a mania de fragmentar a narrativa de seus filmes. Em Babel, ele narra simultaneamente três histórias, em três países: o desespero do americano Richard (vivido por um Brad Pitt bastante envelhecido) para socorrer a sua mulher, Susan (Cate Blanchett), alvejada numa brincadeira de duas crianças marroquinas, pastoras de cabras; a viagem da empregada da família ao México, em companhia dos filhos do casal; e as dificuldades de relacionamento de uma japonesa surda-muda, cujo pai é o dono do rifle que feriu a americana. Mérito para o filme – e para o bom marketing. Segundo Fernando Meirelles, o investimento das produtoras é plenamente justificável: “Uma nomeação para o Oscar aumenta a bilheteria de um filme em cerca de 20%. E o prêmio em si o valoriza em 40%.” Como se vê, é de fato um jogo de apostas altas.