cultura_arte_01.jpgIndiano, judeu, budista e criado em Londres, o artista plástico Anish Kapoor, 52 anos, reflete em suas obras a multiplicidade de sua formação: nada é como parece no nascedouro. Tudo o que ele concebe passa o tempo todo por transformações, dependendo do ângulo em que é visto. Quem estiver no Rio de Janeiro entre 1º de agosto e 17 de setembro poderá conferir esse desafio proposto pelo artista no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde estará a exposição de dez esculturas e instalações, sua primeira individual na América Latina, com custo total de R$ 2 milhões. A instalação Ascension, que dá título à mostra, é inédita e reproduz, simplesmente, um furacão. Uma coluna de fumaça de 36 metros sobe em espiral até a cúpula da rotunda do CCBB e simula um fenômeno climático. No subterrâneo, 48 hélices empurram o ar de forma giratória e, no teto, uma turbina de avião suga-o numa velocidade de 120 km/h. Cabe perguntar: por que ele faz isso?

Essa é a grande questão de toda a obra de Kapoor. “Ele vai ao extremo, desafia formas, estruturas, técnica e estética”, diz o curador Marcello Dantas. Não interessa ao autor da mais cara obra pública do mundo (a Cloud gate, em Chicago, apelidada de “feijão” e que custou US$ 23 milhões) oferecer ao visitante uma peça puramente contemplativa e que só possa ser percebida de uma única forma. O público tem papel fundamental, já que ele interage com a obra e ratifica as gigantescas dimensões com as quais o artistatrabalha. Dantas conta que foi necessário demolir paredes e reestruturar pisos para suportar o peso das peças. “Só existe no Brasil um guindaste capaz de levar as 60 toneladas às salas das exposições. Tivemos que contratá-lo”, diz ele. “É a mostra mais complexa que já fiz.”

cultura_arte_02.jpgAlém da grande escala, Kapoor também se caracteriza por transformar materiais. Ele transforma um bloco de pedra num espelho, por exemplo. Muda a natureza das coisas. É o que se vê em My red homeland, de 10 metros de profundidade por sete de largura, feita com vaselina vermelha, bloco de ferro e motor hidráulico. A idéia é revelar o interior do corpo, a textura da carne sendo rompida. Vale observar atenciosamente a peça de bronze Untitled, que pesa uma tonelada e meia e se sustenta em uma ponta de 10 centímetros. Por fim, um documentário poderá ajudar a entender o que move a criatividade de Kapoor. Ele trabalha com a idéia de “objeto ausente” e faz truques de percepção. “O objeto ausente é aquilo que você reconhece que existe, mas não está lá. Esse é o cerne da obra dele”, diz Dantas.