cultura_musica_01.jpgCom 60 anos recém-completados, Beth Carvalho tem cantarolado continuamente um de seus grandes sucessos, Vou festejar. Mas, ao contrário do que diz a canção, ela olha o passado sem sofrer ou penar. “Assino embaixo de tudo o que eu fiz nessas seis décadas”, diz a cantora. Das comemorações constam turnê de shows e lançamento de dois DVDs – no primeiro, ela canta pagode no seletíssimo Theatro Municipal do Rio de Janeiro e, no outro reúne cantores baianos em show gravado em Salvador: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Ivete Sangalo. Os festejos não param aí. Tem também programa na TVE comandado pela sambista, biografia lançada pela Editora Rio, um novo CD e um documentário assinado pelo cineasta Sílvio Tendler. De quebra, Beth prepara um disco com as “músicas revolucionárias” da América Latina. “Tudo isso, para comemorar 60 anos de vida e 41 de carreira. Está bom demais, não está?”, pergunta ela.

Beth Carvalho mora em uma casa de três andares com vista para a praia, em Itanhangá, endereço nobre dos cariocas – aliás, “carioca com muito orgulho”, como ela também é. Nas paredes de sua residência há prêmios, homenagens, fotos com Cartola e objetos preciosos como o instrumento que pertenceu a Nelson Cavaquinho – presente que ele lhe deu pessoalmente. Nesse ambiente de grandes sambistas, ela lamenta que atualmente os jovens de favela se dediquem mais ao hip-hop ou funk do que ao samba. E radicaliza: “Os EUA infiltraram o hip-hop e o funk onde o samba gerava mais gênios, que é nos morros.” Para ela, essa “praia” é do samba e ninguém tasca. E encerra o papo sobre gênero musical: “O samba tem conteúdo, poesia e beleza. Desculpe, mas isso o hip-hop e o funk não têm.”

Beth Carvalho é amiga e admiradora do ditador cubano Fidel Castro e avisa que vai votar em Lula porque não tem outra opção melhor. “Não sou petista, mas acho que, mal ou bem, o Lula é mais democrata”, diz ela. De volta ao campo artístico, critica veementemente a prática do jabá (pagamento a rádios e tevês para divulgar músicas), mas, corajosamente, se inclui no esquema: “Tudo é jabá. Para minhas músicas tocarem nas rádios, o esquema é jabá.” Pede para frisar, no entanto, que há exceções. Claro que há. É inimaginável pensar que alguém possa cobrar para tocar Andança, Coisinha do pai ou Vou festejar, algumas das canções imortalizadas por Beth Carvalho.