cultura_teatro_01.jpgA primeira voz de ceticismo veio do escritor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, falando de seu próprio livro Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai e Volta. Disse ele: “Essa minha obra não dá teatro, não.” Quem ouviu essas palavras de desalento foi o diretor teatral Antunes Filho, justamente ele cujo maior sonho era levar ao palco uma adaptação desse livro. O motivo da descrença de Suassuna era o mesmo que estimulava Antunes: o desafio de encolher numa peça, de uma hora e meia de duração, as 756 páginas de histórias picarescas da obra. O conselho do autor foi dado em 1983, mas Antunes não o levou a sério e continuou sonhando. Ainda bem: na semana passada, transcorridos 23 anos, lá estava um emocionado Suassuna no palco do Teatro Sesc-Anchieta, em São Paulo, parabenizando Antunes na noite de estréia de sua peça A Pedra do Reino. Parabéns mais que merecido: em primeiro lugar porque a montagem está excelente, em segundo, pela perseverança do diretor. “Na verdade, acho que há duas décadas não estávamos prontos para o espetáculo. Nem eu, nem o grupo e nem o público”, diz Antunes.

cultura_teatro_02.jpgO público tem se mostrado receptivo com A Pedra do Reino, maravilhando-se com o colorido das cavalhadas, reisados e festas populares. A peça conta a história dos delírios de um “rei apalhaçado” que também é poeta, bibliotecário e memorialista, chamado Pedro Dinis Ferreira-Quaderna. Interpretado pelo ator Lee Thalor, é ele quem vai narrando o enredo: encarcerado em Taperoá, no sertão da Paraíba, Quaderna se anuncia como “monarquista de esquerda” e conta com humor e galhardia a saga de sua família. Lançado em 1971, A Pedra do Reino segue o espírito do Movimento Armorial, criado pelo próprio Suassuna – e que faz referências às tradições nordestinas, permeadas pela herança do império português, e à heráldica, que é o estudo dos brasões. A ação principal se passa durante a ditadura do Estado Novo no País, em 1937, mas de repente ela salta de forma livre no tempo. Por isso, não há cenários e o elenco se vale apenas de figurinos, adereços e músicas. A Pedra do Reino, quem diria, virou peça. E uma grande peça.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias