tecnologia_vitoria_01.jpgAs mais diversas formas de deficiência física estão sendo derrotadas pela ciência – e, graças a isso, os seus portadores atravessam a fronteira das limitações e conquistam uma qualidade de vida nunca vista na história da humanidade. Os principais laboratórios e centros de pesquisas dos EUA, do Japão e da Europa lançam, cada vez mais, equipamentos precisos e sofisticados para quem vivia anteriormente mergulhado no silêncio auditivo ou imobilizado numa cama de hospital. Na Dinamarca, há centros que já estão desenvolvendo aparelhos que imitam o nervo do ouvido – trata-se de um avanço definitivo em relação aos antigos modelos que chiavam demais quando duas ou três pessoas falavam ao mesmo tempo com o portador de surdez. Também no Japão, são os fabricantes de automóveis que estão criando novos e melhores meios de locomoção motorizados para quem tem as pernas paralisadas. Nos EUA, os cientistas inventaram um reforço mecânico para aqueles cuja musculatura da perna é debilitada. Esse “esqueleto externo” aumenta a força das pernas, permitindo que se ande muitos quilômetros sem se cansar.

tecnologia_vitoria_02.jpgNada se compara, no entanto, à história do americano Matthew Nagle. Há cinco anos, ele se envolveu numa briga e levou uma facada na coluna cervical. Tinha 22 anos, ficou tetraplégico (não se movimenta dos ombros para baixo) e viu a sua vida acabada. A rotina de desalento foi se alterando desde que permaneceu sob os cuidados do neurologista Leigh Hochberg, do Hospital Geral de Massachusetts. Os primeiros testes mostraram que, apesar da paralisia, as regiões do córtex cerebral responsáveis pelo comando dos movimentos voluntários (como apanhar um copo sobre a mesa) ainda emitiam sinais nervosos. Com a ajuda de outro cientista americano, John Donoghue, da Universidade Brown, nos EUA, o neurologista Hochberg criou o inimaginável – uma espécie de cérebro chamado BrainGate System. É a maior revolução tecnológica de todos os tempos nesse setor.

Esse sistema funciona através do implante de uma centena de nanoeletrodos na superfície do córtex cerebral (nanoeletrodos são fios mais finos que um fio de cabelo que captam os sinais nervosos). Esses sensores são interligados por minúsculos cabos de ouro que, por sua vez, terminam num conector situado no topo da cabeça, como se fosse uma tomada. É ali que os especialistas encaixam os plugs dos diversos computadores que são capazes de “entender” o que cada sinal nervoso emitido pelo cérebro quer dizer. É por isso que Nagle consegue, por exemplo, jogar partidas de pingue-pongue no videogame, conferir e-mails e, com a ajuda de um braço mecânico, apanhar balas num pote ao lado de sua cama. “O sistema implantado converte o pensamento em ação”, diz Donoghue. “É a primeira vez que um humano é conectado com sucesso a computadores para desempenhar tarefas cotidianas.”

tecnologia_vitoria_03.jpgOutros experimentos também estão levando os portadores de deficiência a superarem seus limites. A fabricante de automóveis japonesa Toyota lançou o iUnit, veículo para deficiente que funciona tanto na horizontal como na vertical. Explica-se: basta um comando do motorista para que a engenhoca fique em pé, sobre duas rodas, e suba na calçada simulando os passos de um homem. Mais: o iUnit possui sensores acoplados a um computador que “pressente” os carros e os pedestres ao seu redor.

Ao captá-los, um comando é acionado automaticamente para que o veículo mantenha distância. Ainda para auxiliar os que têm dificuldade para andar, um programa de pesquisa orçado em US$ 50 milhões e desenvolvido pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (Darpa) resultou na criação de uma armadura eletrônica capaz de aumentar em até dez vezes a força das pernas. Batizada de Bleex, ela é um tipo de “esqueleto externo” cravejado com 40 sensores que registram as limitações da musculatura das pernas. Sempre que isso acontece o aparelho “entende” que precisa entrar em ação – e dá uma força extra na caminhada.

 

tecnologia_vitoria_04.jpgPara quem sofre com a deficiência auditiva, a dinamarquesa Widex criou o Inteo. “Os pacientes que usavam os dispositivos antigos reclamavam da confusão causada pelos ruídos”, diz o fonoaudiólogo Fernando Caggiano. Para resolver o problema, os especialistas conseguiram simular o funcionamento do “nervo auditivo”, que capta sinais de fala e demais barulhos em volumes diferentes. Para isso, dotaram o Inteo de 15 microfones. Cada um capta um sinal de áudio e todos são controlados por um “cérebro eletrônico” que escolhe os sons mais altos, sempre dando prioridade à fala humana.