comp_empregado_01.jpgUma mudança está em curso no mercado de trabalho – e ela beneficia os profissionais com, digamos, maior quilometragem. Gente como a alagoana Andréa Jucá Paiva, que, com 19 anos de trabalho numa mesma empresa e 40 anos de idade, acaba de receber a visita de um head hunter. O caçador de talentos tentou levá-la para uma companhia concorrente, com salário maior. Andréa resolveu permanecer em seu posto. “Esperiência está fazendo a diferença”, reconhece ela, gerente de Pessoas e Organização da petroquímica Braskem, do grupo Odebrechet. “Tanto fora como dentro das empresas.” A política interna da Odebrecht é voltada para fixar o corpo profissional, numa aposta de que comprometimento e expertise dão lucro. A mesma política está na base do sucesso do maior grupo empregador do País. O Bradesco, com atuais 75 mil funcionários, tem 45% do seu pessoal com mais de 11 anos de trabalho na casa. “Todos os meus 22 colegas de diretoria executiva estão há mais de 25 anos no banco”, lembra Milton Matsumoto, da área de Recursos Humanos.

comp_empregado_02.jpgA tendência de bom aproveitamento dos profissionais com maior experiência acaba de ser detectada pelo IBGE. A comparação entre os índices apresentados pela Pesquisa Mensal de Emprego em maio de 2002 e em maio de 2006 revela o crescimento da participação de pessoas com mais de 50 anos na população em atividade. Eram 15,4% há quatro anos e, hoje, chegam a 18,1%. Nas seis regiões metropolitanas pesquisadas – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife –, os ocupados nesta faixa etária pularam de 2,69 milhões para 3,61 milhões, um aumento de 33,9%, enquanto o total de trabalhadores ativos cresceu 14%. Outro dado chama a atenção: hoje, uma em cada três pessoas com mais de 50 anos ainda não pendurou as chuteiras. “A pesquisa não tem instrumentos para definir se elas continuam no mercado por opção ou necessidade”, diz a coordenadora Maria Lúcia Vieira. “Mas o envelhecimento da pirâmide etária, as novas regras para a obtenção da aposentadoria e a necessidade de vitaminar o orçamento podem ser algumas explicações.” O desafio que se coloca é: como continuar bem empregado num tempo caracterizada pela supervalorização da juventude e pelo excesso de mão-de-obra disponível e barata? “O Brasil tem mais jovens do que vagas e, se não houver renovação, eles não serão contratados”, constata Joel Dutra, coordenador do MBA em Recursos Humanos da Faculdade de Administração da USP. “O efeito colateral do fenômeno é o desligamento de muitos profissionais em pleno vigor”, diz.

comp_empregado_03.jpgPara não se tornar um dinossauro nem ser alijado do processo produtivo é preciso estar atento às tendências e fazer a lição de casa. ISTOÉ colheu sugestões feitas por especialistas e profissionais à beira dos 50 que mantêm-se bem empregados.

• Observe as tendências do mercado
e o comportamento da empresa

Trabalhar na mesma empresa há 25 anos não é sinônimo de saber tudo sobre ela. As tendências do mercado mudam e, junto com elas, o foco das companhias. “Elas valorizam profissionais maduros e comprometidos, mas não conservadores”, percebe Cecília Shibuya, diretora da Prática Consultoria Empresarial. “A dica é ficar atento ao tipo de funcionário que está sendo promovido para descobrir o que está sendo privilegiado”, recomenda.

• Esteja antenado e aprenda sempre

comp_empregado_04.jpgO neurologista Eduardo Mutarelli chama a atenção para a bagagem intelectual acumulada pelos mais velhos. “Embora não tenha a mesma agilidade física dos 20, a pessoa de 50 reúne um acúmulo de conhecimento valioso. Não é por acaso que os grandes executivos estão nessa faixa etária”, diz. No entanto, ele sabe que é preciso estar atento às novidades. “O profissional não pode se acomodar e achar que a experiência é suficiente”, ensina Joel Dutra. “Isso vale também para a atitude na empresa. A geração que começou a trabalhar em ambientes hierárquicos e autoritários precisa se adequar a novos modelos de chefia, cada vez mais participativa”, diz.

Recicle sua postura e aproveite a convivência com os mais jovens

comp_empregado_05.jpgQuem acompanha o mundo corporativo já se acostumou com a média de idade cada vez mais baixa dos profissionais. Isso se repete das redações de jornais às empresas de engenharia. Em vez de tratar os mais novos como adversários, a dica é somar esforços. “Quando eu comecei, mirava os mais velhos para aprender a trabalhar. Hoje, aprendo com os mais jovens”, conta Washington Olivetto, 54 anos, presidente da agência de propaganda W/Brasil. “Vale mais a pena nutrir por eles uma ‘inveja saudável’ do que alimentar preconceitos”, diz. Que o diga Cláudio Almeida, responsável por traduzir para o português jogos de computador como Fifa World Cup e The Sims. Aos 47 anos, ele precisa estar por dentro da linguagem da garotada. “Quantas pessoas não fecham os ouvidos para as novas bandas dizendo que a música do seu tempo era muito melhor? Viver no passado é um erro”, ensina ele. Quando vai aos Estados Unidos para revisar as traduções, Almeida costuma ser a única pessoa de cabelos brancos no meio de duas dezenas de jovens com pouco mais de 20 anos – os tradutores dos demais países. “O contato com essa molecada é importante em qualquer profissão”, diz.

• Mantenha o entusiasmo e respeite
os próprios limites

comp_empregado_06.jpgEstabilidade no emprego costuma resultar em perda de motivação. É preciso fugir dessa armadilha. O engenheiro paulista Renato Pedroso Lee passou em um concurso para a Petrobras em 1979 e se mudou para o Rio de Janeiro. Chegou à empresa aos 24 anos e continua lá, aos 51, sem perder o pique. “Continuo empolgadíssimo”, garante. O entusiasmo é tanto que, além dos diversos cursos feitos na empresa, Lee se matriculou no ano passado em seu segundo MBA. Além disso, é voluntário há dez anos na Associação Brasileira de Normas Técnicas e contribui desde 2000 na área de educação do Programa Estadual Qualidade Rio. Acostumado a trocar os finais de semana pelo trabalho, Lee levou um susto em junho, quando teve de se submeter a uma ponte de safena e a uma mamária. “Sempre me cuidei. Jogava tênis, depois passei a correr e a fazer ginástica. Acho que a doença teve origem genética”, acredita. Na dúvida, desacelerou. Está lendo um livro sobre slow food, método que prioriza a alimentação consciente. “Vou continuar me policiando para não trabalhar como se o mundo fosse acabar amanhã”, promete. Para Cecília Shibuya, cada pessoa tem de encontrar uma fonte de energia para se recompor. “Antes, a empresa cuidava dos funcionários. Hoje, quem tem de cuidar do funcionário é ele mesmo”, diz.

• Reinvente-se e assuma desafios

Imagine trocar a presidência de uma empresa pela de outra. Atualmente, o trânsito de alto executivo entre as companhias tem sido mais comum do que a promoção de um de seus diretores ao cargo de presidente. A mudança traz à tona a necessidade de se reinventar. O paranaense Antonio Maciel Neto, 48 anos, mal sabia trocar um pneu quando assumiu a presidência da Ford para a América Latina. Tirou a montadora da beira do abismo e conseguiu alcançar um lucro de US$ 389 milhões em 2005, 178% mais do que no ano anterior. Agora, acaba de assumir o comando da Suzano Papel e Celulose, confiante na renovação. “Assumir novos desafios é o melhor caminho para continuar aprendendo. Não se trata de trocar de emprego todos os anos, mas de perseguir a evolução no trabalho”, diz. A capacidade de se reinventar não se restringe à troca de empresa. Transferências internas podem desempenhar o mesmo papel. Formado em engenharia mecânica, Pedro Heer entrou na Siemens como gerente de compras e hoje, aos 49, é diretor de comunicação corporativa. Há três anos, nova mudança: tornou-se diretor da área para todos os seis países da América Latina em que a multinacional de tecnologia atua. “Em companhias dinâmicas, o profissional tem de estar preparado para assumir tarefas diversas de sua área de formação”, aconselha. “Adaptar-se a novos desafios afasta a paranóia da perda de emprego e traz segurança para, em caso de demissão, partir para outra atividade”, diz.

• Seja fiel e invista na empresa

Aos 44 anos de idade e 25 de Bradesco, o surperintendente executivo Artur Omuro prefere investir no próprio emprego. Ele também já ouviu os cantos do mercado. “Tive propostas, sempre contei aos meus superiores e todas as vezes resolvi ficar”, diz ele, que já fez mais de 50 cursos internos e, neste momento, faz seu segundo MBA patrocinado pelo banco. “Empresa que investe no funcionário merece que o funcionário invista nela”, diz ele. Por essas e outras, os seniors estão em alta.

 

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