i63911.jpgEstá de volta às novelas o realismo fantástico. Desta vez tratase de Três irmãs, que combina surfe e espiritismo e estreou na segunda-feira 15 na Rede Globo, no horário das sete da noite. É natural que isso aconteça através de uma trama de Antonio Calmon que, desde Vamp (1991), tem colocado uma pitada de sobrenatural na maioria de seus trabalhos – seja na forma de vampiros, seja de anjos ou de paranormais. Ele consegue bom ibope, prova numérica de que tais recursos agradam aos telespectadores. Em Três irmãs é José Wilker quem dá vida a um personagem do além: Augusto Jequitibá, que, após a sua morte, volta em forma de espírito para cuidar da família. "Estou revisitando o universo de Dias Gomes, por meio da cidadezinha, das coisas meio mágicas e estranhas que nela acontecem", diz o autor, referindo-se à influência da novela Roque Santeiro em sua nova obra. Wilker, por sua vez, está reeditando um antigo personagem de estrondoso sucesso que ele mesmo interpretou: o Vadinho, do filme Dona Flor e seus dois maridos, baseado no livro de Jorge Amado – o marido que morre e também ressurge para a mulher. As razões de cada fantasma são bastante diferentes, mas isso é detalhe. O que conta é que a fórmula geralmente dá certo.

Augusto abandona a mulher (a personagem Virgínia, de Ana Rosa) e as três filhas – as irmãs protagonistas Dora (Claudia Abreu), Alma (Giovana Antonelli) e Suzana (Carolina Dieckmann) – para levar uma vida errante. Após a morte heróica salvando crianças de um incêndio no circo em que trabalhava como mágico, os "céus" permitem que ele se redima e retorne para defender a família Jequitibá da vilã Violeta Áquila. Mas o misticismo entra no folhetim sem compromisso com a religiosidade. A atriz Ana Rosa, que é espírita, conta que não vê os princípios e dogmas da religião retratados na novela: "Trata-se apenas de um componente sobrenatural. E muito divertido", diz ela.

É esse sobrenatural que vai se misturar com o universo do surfe. Entre a lista de maldades dos vilões, está a destruição do paraíso natural de praia Azul, na cidade fictícia de Caramirim, onde se passa a trama. Tudo em nome da expansão imobiliária. Além dos modismos da tribo surfista, Calmon aproveita o tema para falar de preservação ambiental, a verdadeira luta do bem contra o mal nessa novela. E cumpre também seu papel social: assuntos como a gravidez na adolescência e a saúde da mulher estarão presentes. "Quero agradar desde as donasde- casa até os jovens, já que uma das características do horário das sete é a diversidade do público", diz ele. "Outra vantagem é que podemos criar vilões divertidíssimos", diz o diretor de núcleo, Dennis Carvalho. A boa marca de 32 pontos no Ibope no capítulo de estréia indica que esse caminho, provavelmente, esteja certo. Apesar de ser apenas apreciador do surfe, essa é a quarta novela que Calmon (também autor de Top Model e Armação Ilimitada) faz sobre o tema: "O esporte voltou a ser notícia nos últimos anos e tornou-se um grande negócio. Portanto, não estou chovendo no molhado, ou, melhor, não estou surfando na calmaria."