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LEQUE DE OPÇÕES
Meirelles, Richa, Kátia Abreu e Temer: interesses
eleitorais pesam mais do que um projeto para o País

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Confirmado o nome do governador José Serra (SP), não há mais dúvida sobre os principais candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A interrogação agora recai sobre quem serão seus companheiros de chapa. Por enquanto, os partidos têm considerado critérios puramente eleitoreiros para essa escolha. Está em jogo, por exemplo, a capacidade do vice de arregimentar os votos de determinada região do País ou, então, de ampliar o tempo de propaganda gratuita na tevê. Mas pouco se fala da competência e da capacidade administrativa. O que é um grave erro, pois o vice-presidente da República não é uma peça decorativa. Deve estar preparado para assumir responsabilidades no governo. “Os partidos insistem em escolher o vice na chapa sem pensar que ele tem de exercer tarefas e missões importantes. Infelizmente, os critérios de escolha são eleitoreiros, o que é problemático para o País”, avalia o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. Um exemplo bem-sucedido é o do vice José Alencar. No início do primeiro mandato de Lula, ele foi convocado para apagar um incêndio no Ministério da Defesa, ao ocupar o vácuo deixado pelo embaixador José Viegas, que entrou em rota de colisão com os comandantes militares.

Alencar também participou de negociações estratégicas e, na greve dos controladores de voo, assumiu o gabinete de crise, que pôs fim ao movimento. Experiente empresário mineiro, dono da Coteminas, Alencar foi escolhido para abrir as portas do setor privado para Lula, até então temido por suas posições intransigentes na economia. “O ideal é isso: uma chapa coesa para dar governabilidade”, afirma David Fleischer, da Universidade de Brasília. O presidente agora tenta repetir a fórmula ao defender o nome de Henrique Meirelles (PMDB-GO) na chapa de Dilma Rousseff, para desgosto dos peemedebistas que insistem no nome do deputado Michel Temer (SP). A senadora Marina Silva (PV-AC) também foi atrás de um empresário, Guilherme Leal, da Natura. Sem sucesso. Serra, por sua vez, pode compor a chapa com um nome do Nordeste, como o senador Agripino Maia (DEM-RN), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) ou o ex-governador da Bahia Paulo Souto (DEM). Em outra frente corre o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB).

Fica clara para o eleitor a função de todos os nomes sondados dentro da estratégia de vencer as eleições. Mas nenhum dos candidatos arrisca dizer o que espera do vice caso vença as eleições. Para Fábio Wanderley, a lógica eleitoreira que prevalece na escolha do vice-presidente só mudará com o amadurecimento do sistema partidário e a necessária reforma política. “Os partidos estão muito enfraquecidos, o que dá origem a uma visão distorcida sobre o papel do vice”, diz ele. No passado, o vice era até eleito pelo voto, independentemente do candidato a presidente. Um grande sinal da importância do cargo. Se não garantia uma função no governo para o vice, pelo menos a eleição direta impedia que o nome fosse escolhido apenas seguindo o critério dos conchavos políticos.