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O mundo das drogas ganhou, infelizmente, uma novidade. A mefedrona, apelidada de “miau-miau” e “M-Cat”, tomou conta de clubes noturnos nas capitais da Europa desde o ano passado. Em forma de pó branco ou amarelado, cujo grama custa cerca de R$ 27, ou encapsulada e em comprimido, ela provoca efeitos violentos (leia quadro abaixo). Em Londres, na Inglaterra, já está entre as mais usadas, segundo pesquisa divulgada pela revista “Mix Mag”, especializada em música eletrônica. Entre os dois mil pesquisados, de 18 a 27 anos, foi a quarta citada (33%) como o tóxico mais consumido no mês anterior ao levantamento. Ficou atrás da maconha (54%), do ecstasy (48%) e da cocaína (47%). A polícia investiga se a morte de uma jovem inglesa de 24 anos, ocorrida na segunda-feira 22, está ligada à substância. Outros dois rapazes, de 18 e 19 anos, também ingleses, morreram de overdose de mefedrona uma semana antes. Em 2008, uma moça morreu na Suécia pelo mesmo motivo. Há indícios de que a droga já chegou ao Brasil.

Vendida legalmente como um fertilizante para plantas, a mefedrona foi citada pela primeira vez como alucinógeno em 2006, num estudo do Projeto Psiconauta, que reúne pesquisadores de sete países europeus para investigar a difusão das drogas via internet. Produzida na China, a substância é exportada para a Europa e muito popular no Reino Unido e na Espanha. Israel, Noruega, Suécia e Dinamarca a proibiram e a Inglaterra segue para a mesma direção – o ministro dos Negócios, Peter Mandelson, afirmou que o governo tornará o entorpecente ilegal. Entre os efeitos colaterais estão palpitação e perda de sensibilidade na ponta dos dedos – sinais de que a circulação sanguínea é afetada, o que pode levar a infartos. É provável que o uso crônico atinja a memória, a cognição e cause paranoias.
 

 delegada Tatiana Grutila, do Departamento de Investigação Sobre Narcóticos (Denarc), de São Paulo, constata um aumento no uso de substâncias químicas lícitas, como alucinógenos. “O problema é que as drogas sintéticas têm um poder altamente viciante”, diz a delegada. Só perdem para o crack, que cria um grau de dependência até dez vezes maior do que a cocaína. Com as sintéticas, os usuários conseguem o “barato” que desejam, envolvidos por uma fantasia de que estão consumindo algo seguro, que conseguem na balada. “Essa ilusão fez muita gente migrar da maconha para o ecstasy”, diz o psicólogo Murilo Battisti, especialista em drogas sintéticas. “Por isso, a mefedrona se espalhou rápido.” Sem necessidade de plantações e desenvolvida em qualquer laboratório caseiro, esse tipo de entorpecente gera muito lucro. “A distribuição hoje é fácil. As pessoas viajam mais e é uma droga simples de transportar”, diz o psiquiatra Dartiu Xavier, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O psiquiatra diz que quatro pacientes afirmaram ter experimentado a mefedrona em viagens ao Exterior nos últimos quatro meses. Um deles a trouxe para o Brasil e distribuiu entre amigos. O Denarc não registra apreensões.

Foi a internet a responsável por derrubar a fronteira de acesso às drogas. Se a rede mudou a maneira como a sociedade consome informação, o mesmo aconteceu com os entorpecentes. “O crack levou uma década para chegar ao Brasil, depois da epidemia nos Estados Unidos nos anos 80. Atualmente, o alcance das drogas é quase instantâneo pela internet”, diz Battisti. Depoimentos sobre as sensações que uma nova substância causa e como comprá-la na web surgem quase em tempo real em computadores nos quatro cantos do planeta. Uma rapidez perigosa e com graves danos futuros.

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