Nada, no governo Lula, cheira tão mal quanto o caso Telebrás. Perto dele, o Mensalão é até fichinha. Em resumo, durante vários meses, o governo disseminou boatos de que a antiga estatal das telecomunicações seria reativada. O objetivo? Prover serviços de banda larga nos mercados onde as empresas privadas não chegam. Boas intenções, no entanto, costumam ser o melhor disfarce para a bandalheira – e a Telebrás era um bom instrumento para isso porque estava inativa, mas ainda tinha ações em bolsa. Era uma “galinha morta” da Bovespa, cotada a centavos. Nesse festival de especulação, quem comprou R$ 100 mil em ações da Telebrás no primeiro dia do governo Lula poderia ter vendido os mesmos papéis por R$ 4,5 milhões no auge da boataria, quando o próprio presidente veio a público defender a criação de uma nova estatal, que receberia um aporte de até R$ 20 bilhões do BNDES. Na semana passada, no entanto, o gato subiu no telhado. Uma nota do governo, feita pelo Tesouro Nacional, apontou problemas técnicos na recriação da empresa. Num só dia, os papéis caíram mais de 15% – e hoje estão bem abaixo do pico atingido há cerca de dois meses. Até aí, nada demais, porque  o mercado financeiro é um jogo de risco.

Mas que também está sujeito a algumas regras. A principal delas é a isonomia no trato da informação, o que obriga os donos de empresas a publicar fatos relevantes, quando pretendem fazer qualquer nova operação, e também a adotar períodos de silêncio, para evitar especulações. Exatamente aquilo que o governo federal não fez. Ao contrário, espalhou boatos e jamais agiu de forma pública e transparente, sem que a CVM, o xerife do mercado financeiro, tenha tomado qualquer providência efetiva. Em todo esse período, o valor da empresa subiu de R$ 74 milhões para R$ 3,3 bilhões, antes de cair para R$ 1,5 bilhão – valor atual. O que significa que muita gente enriqueceu, enquanto os incautos, que embarcaram na onda e acreditaram no discurso oficial, ficarão a ver navios. Ganhou-se tanto dinheiro com essa brincadeira que é até lícito supor que toda a boataria não tenha sido acidental, mas apenas parte de um plano para alimentar o caixa de campanha oficial.

Até porque, enquanto estiveram fora do governo, vários petistas insinuavam que o exministro tucano das Comunicações, Sérgio Motta, havia criado o crime perfeito: o de inflar as ações da Telebrás. Bastava soltar um boato, formar uma bolha e vender as ações antes de estourá-la. À época, falava-se até no verbo “mottar”. E se os petistas aprenderam a pagar mesadas com os tucanos do PSDB mineiro, nada impede que também tenham aprendido a manipular o mercado com os mesmos professores – apenas superaram os mestres.