i63865.jpgHá estudos que comprovam que o resultado das eleições nos Estados Unidos tem a ver com a beleza dos candidatos, segundo a cientista política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) Alessandra Aldé. “No Brasil é diferente. Tanto que há, aqui, muitos líderes feios”, diz ela, também professora da Universidade do Estado do Rio (Uerj). Mas, a julgar pelas interferências do Photoshop nas fotos dos candidatos para as próximas eleições, o modelo americano está se instalando nas disputas daqui. Não quer dizer que os políticos têm que ser bonitos, mas todos se esforçam para passar uma imagem jovial, de pessoa bem-disposta e vencedora. O mesmo recurso de computador que apaga celulite e estrias de mulheres que posam nuas para revistas é usado, agora, para rejuvenescer os postulantes a prefeituras que aparecem nos santinhos praticamente sem pés de galinha, rugas e marcas de envelhecimento. A ditadura estética chegou à política e essa é, definitivamente, a eleição do Photoshop.

Nenhum dos coordenadores de campanha assume “as cirurgias”, claro. Quase em uníssono, afirmam que autorizam apenas retoques técnicos. “Nossa foto oficial não sofreu alteração. Agora, se os que nos apóiam alteram as imagens a responsabilidade não é nossa”, explica Neila Tavares, mulher de Fernando Gabeira, 67 anos, e também coordenadora da campanha do candidato da coligação PV/PSDB/PPS à Prefeitura do Rio de Janeiro. Os cartazes de Gabeira, contudo, não mentem: o candidato parece bem mais jovem. Dez anos mais velho que Gabeira, o paulistano Paulo Maluf (PP), que concorre ao cargo majoritário de São Paulo, está parecendo ter 20 anos menos. O marqueteiro José Nivaldo reconhece que Maluf está, de fato, jovial nas imagens, mas o motivo seria outro: “Quando você vai tirar uma foto, busca a melhor expressão, vai descansado, bem vestido, não é? É isso.” Este é exatamente o mesmo argumento de Rogério de Moraes, publicitário de Omar Resende Peres (PDT), que almeja a Prefeitura de Juiz de Fora, em Minas Gerais. “O candidato favorece”, diz ele, contrariando os fatos, ou melhor, as fotos. Dito isso, concorda, como se estivesse falando de terceiros: “Realmente, um candidato idoso que tentar parecer jovem nas fotos fica ridículo.”

Na mesma linha, Paulo de Tarso, publicitário de Jandira Feghali (PCdo B), postulante ao cargo majoritário do Rio, afirma que “não tem botox nem maquiagem” nas fotos dela. Embora os cartazes de propaganda confiram uma imagem mais “burguesa” à candidata comunista, ela aparenta estar menos geneticamente modificada do que alguns de seus adversários, entre os quais Marcelo Crivella. De fato, o senador do PRB, 50 anos, teve suas expressões remoçadas. “Nada disso. Ele está normal, normal, normal. As pessoas até dizem que ele parece mais velho do que pessoalmente”, nega o coordenador da campanha Isaías Zavarise. “Pode ser impressão de vocês”, devolve ele.

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O dermatologista carioca Walter Guerra Peixe, famoso por tratar de artistas e famosos, também orienta muitos políticos. “A procura tem aumentado em época de eleições”, diz ele, que não revela nomes de clientes. Os procedimentos mais comuns, nessa clientela, são aplicação de Botox, preenchimentos, combate à queda de cabelo e às manchas senis. Mas, alerta o especialista, tratamentos em cima da hora não dão bons resultados. “Então, eles vão para o Photoshop”, reconhece. O diretor de comunicação da campanha de Solange Amaral (DEM), Marcelo Maia, diz que “candidatos não são modelos” e, portanto, não precisam recorrer a técnicas de rejuvenescimento. Mas sua candidata está visivelmente mais jovem nas imagens que varrem o Rio. “Apenas suavizamos um pouco as marcas, mas não retiramos nada nem diminuímos a idade”, diz ele, sem convencer.

E quando a candidata já é bonita e jovem, como Manuela D’Ávila, 27 anos, que disputa em Porto Alegre pelos partidos PPS/PR/PMN/PCdoB/ PSB/ PTN/PTdoB? “Optamos por ser realistas e não fizemos retoques”, afirmou o diretor de criação da campanha, Carlos Eduardo Andrade. Realmente, precisar, ela não precisa, mas a foto oficial parece ter ganhado um pancake, sim. Detalhe que o consultor de moda Júlio Rego aplaude: “Se puder melhorar o visual, por que não? O pior é quando eles prometem e não cumprem depois.” Para a cientista política Alessandra Aldé, este é o ponto: “O Photoshop pode ser uma estratégia ingênua. O eleitor capta sinais não necessariamente ligados à estética. Ele pode pensar que o candidato que manipula imagem para ficar mais bonito pode não ser sério.” A publicitária Jaíra Reis, diretora da Casa do Cliente Comunicação 360º, concorda: “O grande problema disso é que mexe com os princípios da confiabilidade e da ética, em crise atualmente.” O abuso no uso do Photoshop, segundo ela, “beira a histeria”. E alerta: a imagem lisa do Photoshop arranha a imagem real do político.

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