Na segunda-feira 9 pela manhã, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, procurou o presidente Lula para expor suas preocupações a respeito do esfacelamento da base aliada no Congresso que vem impondo, sobretudo na Câmara dos Deputados, sucessivas derrotas ao Executivo. Na verdade, Dirceu queria saber se era verdade que, como se noticiou, o ministro-chefe da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), estava demissionário. Saiu do encontro de mãos vazias. Lula não abriu o jogo. Disse que só tinha cabeça para tratar da Cúpula América do Sul-Países Árabes e depois estaria ocupado se concentrando na viagem que fará ao Japão marcada para o próximo dia 23.

Embora esteja convencido de que a coordenação política chegou ao fundo do poço e concorde com a necessidade de mudá-la, Lula não quer tirar Aldo sob a pressão cerrada do PT, que reivindica o cargo. Aldo já perdeu a conta de quantas vezes entregou o posto, mas, leal ao presidente, só o deixará quando Lula mandar. Essa foi a posição acertada entre o ministro e a cúpula do PCdoB em uma reunião realizada em São Paulo há uma semana. Assim, a agonia do ministro segue com data final indefinida, embora a oposição do PT à sua permanência na coordenação torne a situação insustentável. Até aliados de Aldo reconhecem que ele não consegue coordenar mais nada. O problema é que a demora de Lula em dar uma solução para a crise abre espaço para novas pressões sobre o governo para a retomada da reforma ministerial e aprofunda cisões em uma base já esfacelada.

Mais lenha – Mesmo ciente de que o presidente detesta ser pressionado, o PT manteve a campanha pela devolução da batuta da coordenação ao partido ao longo da semana, acirrando a crise com o PCdoB. Na terça-feira 10, o ministro-chefe da Comunicação, Luiz Gushiken, que deu o chute inicial ao defender a demissão de Aldo na segunda-feira 9, reafirmou a idéia de que com a proximidade das eleições presidenciais é preciso colocar um petista forte à frente das negociações políticas. No mesmo dia, o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha, reforçou a tese. Defendendo a troca de Aldo por um nome do PT, Rocha cobrou: “Queremos que o presidente decida antes de ir para o Japão.”

O deputado e sindicalista Devanir Ribeiro (PT-SP), um velho amigo e confidente de Lula, avança ainda mais. “Não se pode ter um articulador político sem influência sobre a maior bancada, que é a do PT”, diz ele. “Por outro lado, qualquer um que assuma o posto acabará sob a sombra de José Dirceu”, prossegue, propondo que o cargo de Aldo seja extinto e que volte às mãos do ministro da Casa Civil a função de coordenação. “Para aliviar o Zé, o Paulo Bernardo (ministro do Planejamento) poderia assumir os projetos de governo”, sugerindo um desenho que tem a preferência da maioria dos petistas. Até alguns aliados avaliam que, para entrar no eixo, o PT precisa de alguém firme, capaz de enquadrá-lo. Mas a solução Dirceu tem inconvenientes. A instalação da CPI dos Bingos é dada como praticamente certa, e, com ela, o retorno do caso Waldomiro Diniz. Além disso, a oposição ao governo tenderia a se acirrar. Para o PT, nada disso é problema. “Dirceu tem o casco duro e pode agüentar”, diz Devanir.

Diante da artilharia petista, Aldo e seu partido decidiram peitar o confronto. Na
quarta-feira 11, o ministro abandonou o tom conciliador. “Não é mais um
ministério para o PT que vai resolver o problema. Ao contrário. O PT precisa ceder espaço para os aliados. O governo precisa de sustentação”, reagiu. Para piorar, a hesitação do presidente animou partidos grandes e pequenos a entrar na disputa por mais espaço. As siglas menores ensaiam uma união para isolar o PT na pretensão de retomar a coordenação política. “Nós queremos mudar a relação do governo com a base. O PT tem que entender que não é só o PT”, diz o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande.

Já o PMDB enxerga a brecha para pressionar por mudanças mais amplas, numa retomada da reforma ministerial abortada em janeiro. O objetivo é emplacar na coordenação a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), retomando uma das
alternativas examinadas por Lula no início do ano. A senha foi dada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), durante uma veemente defesa de Aldo Rebelo, seu aliado e amigo pessoal. “O ministro Aldo é um dos melhores. Não tem sido mais eficiente porque o modelo de coordenação está agônico, no fim, definhando”, declarou. Não bastassem os problemas que já coleciona, o governo arranjou outro. Sem ter de onde tirar o dinheiro para bancar o aumento de 15% dado pelo Legislativo aos seus 34 mil funcionários, Lula vetou o reajuste. Agora, terá que costurar uma alternativa.