modamendigosite.jpg

Mendigo chique: a moda agora é subverter o luxo. E para isso vale tudo: de meias-calças desfiadas a roupas manchadas, furadas e rasgadas

img.jpg
NAS RUAS
Alice Dellal, de meia-calça rasgada

Herdeira da jet-setter brasileira Andrea Dellal e do incorporador inglês Guy Dellal, a top model britânica Alice Dellal, 22 anos, frequenta as festas mais concorridas do eixo Rio-Londres. Com seu estilo irreverente, a moça é adepta de meiascalças furadas, jeans rasgados, camisetas desconstruídas e moletons rotos. E é exatamente nesses trajes que ela surge nos endereços que frequenta. Nesse contexto, Alice pode ser considerada um case de sucesso. Afinal, além de não ser rejeitada por endinheirados dos hemisférios Norte e Sul, figura na lista das mulheres mais estilosas e das modelos mais badaladas do mundo atualmente. Até pouco tempo atrás, vestir-se como a socialite britânica significava ter poucos recursos, ser desleixado, ou, no mínimo, excêntrico. Hoje, isso começa a mudar – pelo menos entre os aficcionados em moda. Alice pode ser enquadrada num polêmico estilo de se vestir. O “junkie de butique” ou “homeless chic” (semteto chique), como a tendência vem sendo chamada, mescla informações de outros movimentos, como o grunge e o punk. Nele, vale tudo para parecer desleixado e rebelde (leia quadro).

img1.jpg
NA PASSARELA
Vestido de couro em moulage manchado da
Cris Barros. Na direita, look da estilista britânica Vivienne Westwood

E, no caso específico dos homens, cabelo desgrenhado, barba por fazer e ar de “sujinho” também complementam o look. Além de Alice, os atores americanos Brad Pitt e Robert Pattison têm aderido ao movimento. Essa moda esteve presente nos desfiles daqui e de fora. No início do ano, a estilista inglesa Vivienne Westwood levou para o seu desfile masculino, na Semana de Moda de Milão, e para a temporada de Paris, em sua coleção feminina, a estética sem-teto. Além de roupas e acessórios destruídos e manchados, ela investiu numa cartela de cores sóbria e na sobreposição de peças, de diferentes estampas e texturas. Para melhor transmitir sua ideia, alguns modelos desfilaram com mantos nas costas, que remetiam a cobertores, ou carregavam colchonetes, item obrigatório entre os que dormem ao relento. Na maquiagem, a sombra preta parecia sujeira. No Brasil, a estilista Cris Barros apostou no que chama de “chic destroyed” em sua recémlançada coleção. Nela, o couro é manchado e desbotado. As rendas, os tules e os paetês foram jogados no ácido e corroídos. O veludo tem aspecto de gasto e marcado. E o chiffon do vestido “Thriller” foi navalhado. “Acho que as mulheres entenderam que o luxo perfeito não retrata mais a nossa época”, diz Cris Barros. “Elas se sentem mais atuais, jovens e confortáveis com um rasgadinho, uma imperfeição.” A constatação da estilista vai ao encontro de uma característica da moda. Afinal, não é a primeira vez que a resposta a uma tendência está no momento político, econômico e social que atravessamos.

img2.jpg
Robert Pattison, de camiseta furada e
jaqueta puída

“Desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 que o consumismo desenfreado é visto com outros olhos”, diz a consultora de moda Manu Carvalho. “Com isso, a ostentação saiu de moda.” Consultora de moda jovem do Senac São Paulo, Denise Morais acredita que a estética mendigo recebe influências do militarismo, do punk e do grunge. “A camiseta furada está muito mais ligada às guerras do que à crise econômica, por exemplo”, diz Denise. “Ela representa a rebeldia.” Como a linha que separa os menos afortunados dos junkies de butique é tênue, quem quer entrar na onda deve ficar atento. “A principal característica desse movimento é a mistura do podrinho com o luxuoso, diz Manu. “Uma camiseta furada pode vir acompanhada de uma bolsa Chanel, por exemplo.” A stylist Flávia Lafer ressalta que é preciso cuidado para não afundar a produção. “A tendência nasceu com o objetivo de desconstruir o luxo, que se pasteurizou e se banalizou nos últimos anos”, diz ela. “Mas não é para enterrá-lo de vez.”

img3.jpg

A francesa Balmain é a embaixadora da nova mania. Desde 2006, suas coleções trazem camisetas furadas e jeans rasgados ao lado de muito brilho e tecidos nobres. Em breve, as brasileiras terão acesso a produtos de sua coleção primavera-verão, repleta de peças nessa linha. Situada nos Jardins, em São Paulo, a butique de luxo NK Store é representante da marca no Brasil e vai receber shorts, calças, camisetas e coletes. A cliente, no entanto, não deve esperar preços menos salgados só pelo fato de as peças lembrarem trapinhos. No Exterior, uma camiseta furada da grife custa o equivalente a R$ 2.700. Parecer um mendigo custa caro.