60 jovens foram assassinados por dia no Brasil em 2023

"ProtestoÚltimo Atlas da Violência mostra que homicídios recuaram de forma geral, mas jovens continuam sendo maiores vítimas, sobretudo negros; violência contra mulheres e LGBTQIA+ cresceu e persiste contra negros e indígenas.O Brasil registrou 47.747 homicídios em 2023, o menor número em 11 anos, segundo o Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12/05) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

Esse número representa uma taxa de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes, indicador que apresentou uma queda de 2,3% em relação aos dados registrados em 2022.

Esse avanço é atribuído, em parte, ao envelhecimento populacional e também a medidas de segurança pública, como inteligência policial e programas de prevenção baseados em diagnósticos de onde o crime ocorre.

O anuário destaca a violência policial como um dos grandes problemas de segurança pública no Brasil. Em 2023, intervenções policiais foram responsáveis por ao menos 6.393 mortes no país.

Jovens na mira

A morte violenta é a principal causa de óbito de jovens entre 15 e 29 anos no Brasil, aponta o relatório. Em 2023, 34% das mortes de jovens no país foram consequência de homicídios.

Em 2023, 21.856 jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados, o equivalente a 60 mortes por dia. Nos últimos 11 anos, foram 312.713 vítimas nessa faixa etária, sendo 94% do sexo masculino. As armas de fogo são o principal instrumento de morte, representando 83,9% dos homicídios de jovens entre 15 e 19 anos.

Crianças e adolescentes sofreram também um aumento das notificações de agressões não letais. Em 2023, o número chegou a 115.384 atendimentos, alta de 36,2% em relação ao ano anterior. Destaca-se o crescimento de 52,2% nas notificações de violência física entre crianças de 0 a 4 anos.

O relatório ressalta o impacto psicológico dessas violências, com reflexo direto no aumento de suicídios. Entre 2013 e 2023, o número de mortes por suicídio entre crianças a partir de 10 anos e adolescentes cresceu 42,7%.

Violência contra LGBTQIA+ explode

A violência contra pessoas LGBTQIA+ cresceu 1.227% entre 2014 e 2023, passando de 1.157 para 15.360 registros. O aumento foi impulsionado especialmente pelos casos contra mulheres trans, que saltaram 1.110%, além do crescimento expressivo de agressões contra homens trans (1.607%) e travestis (2.340%).

O estudo aponta que, embora o aumento possa estar associado a maior visibilidade e denúncia, há evidências de agravamento real da violência motivada por homofobia e transfobia.

Estão incluídos nas estatísticas casos de violência física, psicológica, sexual, financeira, além de tráfico humano, negligência, tortura e outros.

Violência crescente contra mulheres

Na contramão da tendência geral, o número de mulheres assinadas subiu 2,5% em 2023, chegando a 3.903 casos.

Isso reflete o aumento da violência contra mulheres – foram 275.275 notificações, um aumento de 24,4% em relação a 2022.

A violência doméstica segue como principal cenário dessas agressões, ocorrendo em 64% dos casos. Mulheres negras continuam sendo as maiores vítimas da violência letal, representando 68,2% dos casos.

As formas de violência variam conforme a idade, com negligência predominando na infância, violência sexual na pré-adolescência, violência física na vida adulta, e novamente negligência e abandono na velhice.

Populações negras e indígenas sob risco

Em 2023, os homicídios de pessoas negras chegaram a 35.213, uma leve redução de 0,9% em relação a 2022. Entretanto, essa população ainda tem 2,7 vezes mais chances de ser assassinada em comparação com pessoas não negras.

Embora historicamente superior, a taxa de homicídio indígena apresentou redução significativa: de 62,9 por 100 mil em 2013 para 23,5 em 2023 — uma queda de 62,6%. Essa melhora indica avanços, os registros superam a média nacional, impulsionados por conflitos territoriais e feminicídios.

Tragédias invisíveis

Entre 2013 e 2023, 8,6% das mortes violentas tiveram causa indeterminada, totalizando 135.407 casos.

Estimativas apontam que 51.608 desses casos podem ter sido homicídios ocultos. Ou seja, em vez de terem ocorrido 598.399 homicídios nos últimos 11 anos, como apontam as estatísticas oficiais, esse número pode passar dos 650 mil.

Essas mortes invisíves superam, em número, todos os homicídios oficialmente registrados apenas em 2023.

Desigualdades regionais

Bahia (6.616), Rio de Janeiro (4.292), Pernambuco (3.697) e São Paulo (3.043) foram os estados com maior número absoluto de homicídios registrados em 2023.

No entanto, ao considerar a taxa de homicídios por 100 mil habitantes, o mapa mostra um aprofundamento do problema no Norte e Nordeste, puxado pela atuação do crime organizado nessas regiões.

O Amapá teve em 2023 a maior taxa do país, com 57,4 mortes por 100 mil habitantes, um crescimento de 41,7% em relação a 2022 e de 88,2% se comparado a 2013. A disputa entre facções pelo controle do porto de Santana e a violência policial são apontadas como fatores agravantes.

Impactos sociais da violência

O Atlas reforça que a violência letal gera impactos que vão além das perdas humanas, afetando o crescimento econômico, o desenvolvimento educacional e a participação no mercado de trabalho, especialmente entre jovens.

sf (ots)