A cena de sexo entre Fernanda Torres (Áurea) e Seu Jorge (Massu), sob a direção de Andrucha Waddington, no filme Casa de areia, com estréia nacional na sexta-feira 13, é um bastidor à parte. Segundo Fernanda, “todo dia Seu Jorge dizia: ‘Comadre, tô grilado com essa cena…’” O diretor, que é marido da atriz, cuidou para que, na hora da gravação, ficassem no local – as dunas dos Lençóis Maranhenses – apenas os técnicos necessários. “Estávamos lá, pelados no meio do areal, eu e Seu Jorge, quando aparece um trator com 20 homens e os coqueiros que seriam usados num cenário. Que loucura! O Andrucha gritou: “Pô, Chicão! (o produtor). Ele ficou sem graça, pediu desculpas. Foi hilariante.” Fernanda faz, sempre que pode, a opção pelo riso. O que poderia ter gerado o maior stress acabou virando comédia em sua versão. Mas ela reconhece o desafio: “Toda cena de sexo é constrangedora. A gente vai coreografando para a câmera. O Andrucha também foi ficando nervoso. Mas tenho orgulho daquela cena. É bonita.”

Fernandinha, ou Nanda, como é chamada, protagoniza Casa de areia com
sua mãe, Fernanda Montenegro, a Fernandona. O entrosamento das duas é
visceral. Atriz já bastante premiada – com, inclusive, a Palma de Ouro no Festival
de Cannes, em 1986, pela atuação em Eu sei que vou te amar, de Arnaldo Jabor
e com uma trajetória repleta de trabalhos de qualidade, Nanda parece tranqüila em relação a possíveis comparações com a mãe, um ícone. Mas não foi fácil assumir a vocação. “Uma pessoa chamada Fernanda, filha da mamãe, não tem necessidade de existir. Não precisa de outra.” A frase não deixa fresta de dúvida sobre a dificuldade de a adolescente tomar coragem para tentar ser atriz. “Era um desejo muito forte. Então eu não pensei demais. E tive um alívio no cinema, que era um lugar que meus pais não estavam muito.”

Seu primeiro filme tem o sugestivo nome de Inocência (1982), dirigido por Walter Lima Jr. Depois vieram produções respeitáveis
como Terra estrangeira, O que é isso, companheiro?, A marvada carne e Os normais,
um desdobramento da série da Globo. Na tevê, entretanto, o sucesso foi maior do que no cinema. Nanda não é contratada da emissora, nunca foi – tal e qual Fernandona na maior parte da vida artística. Embora tenha feito poucos trabalhos na tevê, como o remake de Selva de pedra e o especial Comédia da vida privada, ela diz que adora novela. Atualmente, a atriz entope teatros com o monólogo A casa dos budas ditosos, uma adaptação de Domingos de Oliveira do livro homônimo de João Ubaldo Ribeiro, no papel de uma libertina sexagenária que relata suas peripécias sexuais. Quando voltar ao Tom
Brasil, em São Paulo, em junho, serão 100
mil espectadores em temporada nacional e
também em Portugal.

Este mês é dedicado ao lançamento de Casa de areia, à família e a ela mesma – exatamente nessa ordem. “O tempo livre que tenho dedico ao Joaquim (seu filho, de
cinco anos), depois ao Andrucha e depois é que venho eu”, diz. Andrucha é, tecnicamente, o terceiro marido. Aos 17 anos, ela se casou com o jornalista
Pedro Bial, sem oficializar a união. Durou dois anos e meio. Depois repetiu a experiência com Gerald Thomas, o polêmico diretor de teatro que reuniu mãe
e filha pela primeira vez na peça The flash and crash days. Mas, para ela, “marido mesmo é o pai dos filhos, o resto é visita, tentativa”. O casal mora numa cobertura triplex com estonteante vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio de Janeiro. Parte da casa parece um playground de Joaquim e os irmãos, Pedro, dez anos, e João, 12, filhos do primeiro casamento de Andrucha. Não há luxo, mas conforto e clima de “gente feliz”.

Prestes a completar 40 anos, em setembro, Fernanda se diz mais vaidosa do que nunca. “Me cuido para não virar a mulher-gorila. Mas não vou em salão de beleza nem amarrada”, diz. A genética, mais uma vez, lhe confere vantagem. Não faz dieta, mas é magra como uma modelo. “Bato um bom prato de macarrão, sem culpa. Fiz educação alimentar.” E se equilibra praticando ioga. “Descobri Jesus com a ioga!”, brinca. Outra característica em comum com a mãe, além do talento e da boa forma física, é a indignação. Carioca, Nanda lamenta o abandono do Rio. “Virou um lugar de pessoas que querem ser presidente. Há pouca administração e muito palanque eleitoral. O Rio está falido.” A nova idade é bem-vinda: “Quando eu era bem jovem, tinha muita ansiedade para saber se ia vingar. Tinha muita ansiedade e insegurança. Aos 40, trabalho para fazer algo mais maduro.”