Festas temáticas como a paulistana Trash 80, shows revivalistas ao estilo de Geração 80 e livros do gênero de Almanaque anos 80, de Luiz André Alzer e Mariana Claudino, no segundo posto dos mais vendidos de não-ficção, provam que a chamada “década perdida” está na moda. O que resta saber é quem sobreviverá quando a onda passar. Protagonista da época, o cantor Sidney Magal, 51 anos, não quer se deixar esquecer. Promete para este ano um DVD e um CD com a releitura de seus maiores sucessos, e, para 2006, um documentário comemorativo dos 30 anos de carreira, Meu sangue ferve por você, com produção de Cacá Diegues e direção de Vicente Amorim, que o dirigiu em O caminho das nuvens. Nele, revelará, por exemplo, que é primo de Vinicius de Moraes. Melhor exemplo de que o trash pode se tornar cult, Magal emplacou o clipe de Tenho – música que grudou na cabeça dos telespectadores ao embalar uma propaganda de carro – entre os mais pedidos da MTV. Juntamente com Hyldon e Wander Wildner, ele se apresenta nos dias 14 e 15 no espetáculo Romântico ou cafona, no Sesc Ipiranga, em São Paulo. No bate-papo a seguir, Magal fala sobre a carreira e o carinho do público.

ISTOÉ – O filme é um reconhecimento ou resultado da onda anos 80?
Sidney Magal –
Um pouco das duas coisas. O público continua assistindo a meus shows. Vai em peso, vibra, aplaude. A partir de 1980, sempre tive meu espaço na tevê. Me convidavam nem que fosse só para repetir uma Sandra Rosa Madalena. Quando não tive muitos shows, me dediquei ao teatro, ao cinema, à tevê. A novela Da cor do pecado é a prova disso. Meu personagem (Frasão) ficou queridíssimo.

ISTOÉ – Mas seu público mudou…
Magal –
Há pouco tempo participei do Planeta Atlântida, uma festa gaúcha no estilo do Rock in Rio. Havia quase 100 mil pessoas, todas muito jovens. Montaram um palco à parte onde me apresentei. A garotada começou a levantar uns cartazes escritos “Au, au, au, Sidney Magal, ano que vem, no palco principal”. É uma loucura, eles tinham cerca de 15 anos. No máximo, me conheciam dos tempos da lambada.

ISTOÉ – Você não cansa de se repetir o tempo todo?
Magal –
Estou preparando canções novas que fogem um pouco desse estilo.
Só não sei se terão o peso dos grandes sucessos, porque uma Sandra Rosa Madalena é uma vez na vida e outra na morte. É uma música que todo mundo cantarola, mesmo que não goste.

ISTOÉ – Como é ser considerado brega?
Magal –
O trash nos anos 1980 virou cult. É como se o Chacrinha voltasse para a tevê e os jovens achassem o máximo ir para o auditório assistir aos programas. Não sinto deboche do público. Em 1970 era diferente, não tinha meu trabalho veiculado. Agora as pessoas não têm mais vergonha de dizer que curtiram.

ISTOÉ – Afinal, quem é Sandra Rosa Madalena?
Magal –
O que eu já encontrei de mulher registrada com o nome dela é uma
loucura, mas ela não existe na realidade. O meu empresário, Roberto Livi, sacou
que tenho um quê de cigano e disse que ia criar na música uma cigana que tivesse três nomes comuns de mulheres brasileiras num só. Fez tanto sucesso que virou filme (Amante latino). Até hoje os ciganos me homenageiam como se eu fosse realmente um deles.

ISTOÉ – E por quem seu sangue ferve?
Magal –
Primeiramente, pela minha mulher, que é a pessoa mais importante da minha vida. Mas o meu sangue também ferve por Jennifer Lopez e Diana Ross, meu maior ídolo. Vou aos shows, fico bem na frente do palco, visto camisa com o rosto dela, choro, me descabelo. O John Kennedy também entra nesta lista junto com o Tony Ramos. E a Sônia Braga, sem dúvida. Convivemos bastante entre 1970 e1980 e sei que rolava um tesão mútuo, mas nunca chegamos nos finalmentes.

ISTOÉ – Você causou polêmica ao falar que o homem é bissexual por natureza. Poderia explicar melhor?
Magal –
Todos temos desejo e falo de algo que vem antes do sexo. A gente bate os olhos ou toca a pele de alguém e sente atração. Só depois é que vai buscar os motivos e se dá conta de querer transar ou não com aquela pessoa. E aí entram os tabus. Que vão falar se sinto tesão por um cara? Eu sinto desejo por rapazes, mas bloqueio porque optei por casar e ter filhos. Acredito que todo ser humano é assim e tem o direito de desejar sem culpa. Este é o princípio da falta de preconceito.