Inventora do CD e da fita cassete, a holandesa Philips, cuja marca sempre esteve associada a eletroeletrônicos de entretenimento com alto nível de tecnologia, prepara mudanças no rumo de seus negócios. É claro que a maior fabricante de equipamentos eletrônicos da Europa não vai abandonar a área de consumo. Mas seus principais executivos já enxergam o futuro da companhia no promissor mercado de equipamentos de saúde, como os complexos tomógrafos e os indispensáveis desfibriladores – mercado em que se digladiam, além da Philips, mais dois gigantes (Siemens e General Electric). No comando do leme desse “reposicionamento da marca”, jargão empresarial utilizado pela empresa, a partir da sede da empresa em Amsterdã, na Holanda, está o brasileiro Enderson Guimarães, 44 anos, vice-presidente global de marketing e responsável pela marca Philips em todo o mundo.

Poder não lhe falta. Sob sua caneta está um orçamento mundial que chega a 1 bilhão de euros (cerca de R$ 3,5 bilhões) por ano, que será gasto para fortalecer uniformemente a marca, fazendo com que o slogan mundial Sense and Simplicity (algo como “razão e simplicidade”) atinja o público tomador de decisões, que, segundo ele, ao contrário do que muita gente pensa, é o mesmo tanto no mercado de consumo eletrônico quanto no de equipamentos de saúde. Na semana passada, Guimarães esteve no Brasil para dar início à parte nacional de uma campanha global que prevê recursos de 80 milhões de euros (só no Brasil serão gastos R$ 50 milhões). Mas as cifras vultosas e os desafios não assustam esse paulista, filho de um policial rodoviário, que nasceu na pequena cidade de Rancharia, perto de Presidente Prudente.

“Nunca imaginei ficar em Rancharia. Como era bom em matemática, fui cursar engenharia”, diz ele. Dito e feito. Alguns anos depois, graduou-se no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), um dos mais conceituados do Brasil. “Meu pai repetia a cada dois dias que o homem vale pelo que tem na cabeça, e não no bolso”, afirma Guimarães. Do pai, Agostinho, percebeu a importância da educação e da mãe, Aparecida, herdou o senso de responsabilidade. E esse mantra já é repetido aos dois filhos, Keven, 12 anos, e Ian, sete, frutos do casamento com a canadense Heidi, que ele conheceu quando cursava seu MBA em Montreal, no Canadá.

Depois de passar por várias multinacionais, Guimarães virou um cidadão do mundo. Há três anos morando na Holanda, seu maior desafio é fazer com que o filho mais novo aprenda a falar português. Apesar de a mulher falar o idioma tupiniquim, a língua oficial na casa é o inglês. Em julho, a família toda virá passar duas semanas no Brasil. É a oportunidade para o curso intensivo de português para Ian. “Espero que dê certo, não quero que ele perca isso”, diz, esperançoso, o homem que cuida de uma marca que, segundo a Interbrand, vale US$ 5 bilhões.