André Luiz (sem partido-RJ) buscou apoio, fez ameaças, alardeou conhecer fitas que apontam o envolvimento de deputados em corrupção, foi até a um culto evangélico, prometendo se converter depois da sessão que examinaria sua cassação, mas nada disso adiantou. O deputado acabou perdendo o mandato na quarta-feira 4, cassado por quebra de decoro por ter tentado extorquir R$ 4 milhões do bicheiro Carlinhos Cachoeira em troca de livrá-lo das investigações da CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro que apurava o caso Waldomiro Diniz. Foram 311 votos favoráveis à cassação, quando o mínimo necessário é 257. A folga de 54 votos parece eloqüente, mas perde parte do brilho quando o placar é examinado às avessas.

Na verdade, dos 513 deputados, nada menos que 202 assumiram comportamentos que ajudaram André Luiz na votação: foram 104 votos contra a cassação; 33 abstenções e três votos em branco. Além disso, 17 deputados presentes na sessão preferiram nem votar e outros 45 não apareceram. Sem falar nos que pendiam a favor do deputado e, pressionados pela reação da opinião pública, mudaram de idéia na última hora. Com fama de violento e perigoso, André Luiz iniciou o último dia de seu mandato mostrando otimismo, mas foi perdendo o ar animado ao longo do dia. Passou boa parte da sessão isolado, sentado no fundo do plenário. Deixou o local ainda no meio da sessão, logo depois de votar. Já derrotado, não foi encontrado no gabinete nem em sua casa em Brasília. Agora, André Luiz, que por duas vezes foi deputado estadual e cumpria seu primeiro mandato como federal, fica proibido de concorrer a cargo eletivo por oito anos.

Quem faturou foi o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que, na terça-feira 3, conseguiu poupar de um processo de investigação o amigo, conterrâneo e presidente do PP, deputado Pedro Corrêa, apesar das provas contundentes. Grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal com autorização da Justiça flagraram Corrêa em conversas comprometedoras com um empresário acusado de adulterar combustíveis. O incrível arquivamento do caso de Corrêa, coincidentemente feito no Dia do Parlamento, acabou engolido pelo noticiário da cassação de André Luiz.