De um lado, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, cobra do PSDB unidade e apoio a seu nome para disputar a Presidência da República. Do outro, estrelas presidenciáveis do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o prefeito de São Paulo, José Serra, defendem a tese de que não é hora de antecipar o debate eleitoral. O embate tem causado desconforto ao governador paulista. Em tom de desabafo, ele revelou a interlocutores a insegurança de tocar seu projeto diante de tanta indefinição. Alckmin não receberá tratamento especial no programa nacional do PSDB que irá ao ar no início de junho e ainda terá que dividir com Serra o espaço reservado à legenda em nível estadual.

A direção nacional optou em pulverizar o horário com outras lideranças, como os governadores Aécio Neves (Minas), Marconi Perillo (Goiás) e Simão Jatene (Pará). Alckmin contava com esse espaço para divulgar e viabilizar seu nome nacionalmente, uma vez que pesquisas internas mostram que ele tem esbarrado no modesto desempenho eleitoral fora de São Paulo. Esses números animam principalmente a turma que mais uma vez aposta na candidatura de José Serra. Nas últimas semanas, conversas entre tucanos chegaram a avaliar a possibilidade de Serra se afastar da prefeitura no ano que vem para disputar o Planalto. Ele é o que aparece mais bem posicionado nas pesquisas para enfrentar Lula.

O presidente Fernando Henrique Cardoso, que sobe e desce do muro quando o assunto é 2006, esfriou essa possibilidade: “O Serra seria excelente, mas está amarrado em São Paulo, infelizmente”, afirmou em Brasília na quarta-feira 4 ao participar da festa tucana dos cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, promulgada em seu governo. FHC assegurou que não disputará a vaga, mas também não aposta as suas fichas no governador de São Paulo. Ele, que fez mesuras ao governador mineiro em seu discurso, insiste que não é hora de discutir as eleições do ano que vem. “O povo quer gente trabalhando, não quer gente fazendo campanha o tempo todo. Na hora H, nosso povo vai olhar, vai ver, tem uma chance melhor aqui, vou apoiar.” Em seguida, embalado no clima eleitoral em que se deu a comemoração, FHC emendou sorrindo: “Poder eu até posso, mas não sou. Não sou nem quero ser candidato. Tem o Alckmin aqui do meu lado que é mais jovem e tem mais energia, e tem outros que são candidatos, como Aécio, Perillo.” O evento serviu ainda para mostrar que não há concordância na cúpula quanto ao momento em que será definido o candidato do partido. Para FHC e Serra, o período ideal é entre novembro e dezembro, “após a eleição da direção nacional”, afirmou o ex-presidente, embora o PSDB tenha marcado sua convenção nacional para antes do fim do ano.

“Quem tem muitos candidatos acaba sem nenhum. Outros ocupam nosso espaço. Lula não desmontou o palanque. O PFL é um partido organizado e tem Cesar Maia (prefeito do Rio de Janeiro). É preciso que as lideranças tucanas tenham desprendimento e definam quem é o candidato”, diz o senador Álvaro Dias (PR), defensor da candidatura Alckmin. O presidente do PSDB de São Paulo, deputado federal Antônio Carlos Pannunzio, admite que está faltando diálogo entre as lideranças e anunciou que uma das saídas para trabalhar a unidade será o resultado do encontro do diretório regional com a militância paulista, marcado para o sábado 21. “Essa oportunidade de juntar lideranças como Fernando Henrique, Serra, Alckmin com prefeitos e com a militância será muito saudável para o partido. As lideranças vão ouvir o clamor da base e isso ajudará a formar a massa crítica necessária. O PSDB tem que se manter unido”, ressalta Pannunzio.

O deputado, na contramão da tese de que antecipar as discussões das eleições é um desserviço ao País, vem costurando conversas com lideranças nacionais e, principalmente, as bancadas no Senado e na Câmara, sobre a necessidade de se apontarem prioridades a ser seguidas rumo a 2006, e nesse debate está incluído o candidato que enfrentará o presidente Lula. Pannunzio tem defendido a idéia de que o candidato natural é Alckmin, que está terminando seu mandato com índices de aprovação bastante significativos junto à população paulista.

Prioridades – No entanto, Pannunzio ressalta que, para exportar a outros estados a consolidação de sua candidatura e a eficiência da sua gestão, é necessário, além de tempo na tevê, que tanto o governador como a legenda passem a se dedicar mais a essa divulgação. “A saída, devido ao peso político de cada liderança, é sentar e conversar. Não há pretensão de um se sobrepor ao outro. Todos os líderes com quem falei entendem que é preciso priorizar o que é importante para a batalha do ano que vem”, afirma o presidente do PSDB paulista.

Homem de confiança de Alckmin, o presidente do diretório municipal do partido, deputado estadual Edson Aparecido, também prefere a unidade partidária à cizânia. Ele defende a consolidação em nível nacional do nome de Geraldo Alckmin, independentemente da decisão do partido de não dar mais espaço ao governador no programa nacional da legenda. Segundo o deputado, Fernando Henrique já assegurou ao grupo do Palácio dos Bandeirantes que o candidato do PSDB é Geraldo Alckmin. Mas isso não é o bastante para o governador. Até porque o estilo Fernando Henrique cozinhou em banho-maria a candidatura de Tasso Jereissati em 2002, enquanto, nos bastidores, o presidente incentivava as articulações de José Serra.

A indefinição do ex-presidente ajuda a tumultuar ainda mais o processo de
escolha e serve para minar as aspirações de Alckmin. A ala que apóia o governador paulista poupa críticas a José Serra. O governador dá demonstrações de que se sente traído pelo comando do partido. Ele lembra que foi um dos principais cabos eleitorais de Serra na disputa pela prefeitura paulistana contra a petista Marta
Suplicy. Alckmin, em alta junto à população, teve sua imagem colada à do atual prefeito durante a campanha. Um ano depois, o tratamento dispensado a ele por José Serra é diferente.

Impasse – Para o senador Alvaro Dias, o problema do partido não é de resistência ao nome do governador, mas sim de constrangimento em apoiá-lo. Enquanto o impasse persiste, os muitos nomes apresentados pelo tucanos para disputar a cadeira de Lula em 2006 acabam por se transformar em nenhum. Ao mesmo tempo, oposição e aliados históricos do PSDB, como o PMDB, que prorrogou o mandato da atual direção do partido, comandada por Michel Temer, e o PFL, marcham firmes para consolidar suas posições de lançar candidatos próprios, tirando o sono de tucanos e, principalmente, de petistas. Só o tempo e o desempenho do presidente Lula, a ser medido em maio do ano que vem, é que vão dizer.