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DIVINO Busto em mármore do rei, feito por Gian Lorenzo Bernini (à esq.), e o seu retrato em óleo, de Hyacinthe Rigaud

A legião de turistas que visita o Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, sabe que está pisando um importante símbolo de um dos períodos mais conturbados e fundamentais da história da humanidade. Foi nesse monumento às artes, ao luxo e ao poder – mas também ao dispêndio e, às vezes, à usura – que Maria Antonieta e Luís XVI viveram seus últimos momentos antes de serem levados à guilhotina, durante a Revolução Francesa. Foi também nos jardins e imensos salões desse castelo, composto por 700 quartos e duas mil janelas, que Luís XIV (1638-1715), célebre antepassado de Luís XVI, promovia festas nababescas, dando início à ruína financeira do Antigo Regime – a construção de Versalhes, aliás, está entre suas iniciativas perdulárias. Desde a época em que o palácio deixou de ser residência real e sede do governo dando lugar a um museu, em 1873, não se promoveu ali nenhuma mostra dedicada ao seu criador.

Agora, o tabu foi quebrado com uma exposição que faz jus à excentricidade e ao fausto da corte do chamado Rei Sol.

Nove salas de Versalhes ficam ocupadas até fevereiro de 2010 com a mostra "Louis XIV, L’Homme et Le Roi", composta por 300 peças vindas de diversos museus do mundo – depois da Revolução, grande parte do acervo se dispersou. São pinturas, esculturas, móveis, tapetes, louças, joias, roupas, armas – enfim, tudo que diferencia o cotidiano de um rei daquele vivido pelos seres normais. E, no caso, não um soberano qualquer.

Embora existam controvérsias quanto à sua autoria, Luís XIV é o autor da célebre frase "L’État C’est Moi" (O Estado Sou Eu), definidora do regime absolutista, que sob seu governo chegou ao ápice.

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CATÁLOGO Livro traz imagens das 300 obras

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Ungido pela teoria do direito divino, que fazia do monarca o representante de Deus na Terra, Luís XIV levou ao extremo a teatralização do poder.

O que o distinguiu de outros soberanos é que, mesmo não sendo artista como seu pai, ele era um amante das artes. A exposição oscila entre esses dois polos: exibe a sua imagem idealizada em telas, bronzes e mármores, mas também a aura de pertences que ele elegia como gosto pessoal.

O percurso da mostra tenta revelar as diversas facetas de Luís XIV em sua relação com a guerra, as artes, a religião e a política. Na primeira sala, chamada Retrato do Rei, encontram-se as obras que glorificam sua pessoa, entre elas aquela que é considerada o símbolo da exposição: o seu busto esculpido em mármore pelo artista Gian Lorenzo Bernini, um dos mais célebres escultores do barroco italiano.

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ENCANTO Antiga sede do governo, o Palácio de Versalhes tem 700 quartos e 2.000 janelas

Bernini levou seis meses para finalizar essa peça, o que obrigou o rei a posar 12 vezes. Apesar de reproduzir até a verruga que ele tinha no nariz, a imagem cinzelada do monarca é idealizada e lhe atribui olhos bem maiores. A presença do requisitado artista italiano respondia a outra necessidade do Rei Sol: a de elevar a corte francesa ao posto de mais sofisticada da Europa. E, para isso, ele não se impunha limites. Ao seu redor gravitou a elite artística da época, em todas as suas modalidades. O compositor italiano Jean Baptiste Lully, por exemplo, era muito querido. O mesmo tratamento tinha o autor de teatro Molière – não por acaso, os dois tinham uma parceria sacramentada pelo monarca. Foi ele quem encomendou à dupla a comédia-balé "O Burguês Fidalgo",um dos clássicos da dramaturgia.

Na área da pintura, os protegidos do rei foram, principalmente, Charles Le Brun e Pierre Mignard. O primeiro começou a trabalhar para Versalhes numa série de telas sobre Alexandre, O Grande, um dos personagens históricos favoritos do rei. Luís XIV passava horas no ateliê do artista acompanhando seu trabalho. Acabou levando-o para a corte, onde foi eleito seu pintor oficial. Apesar dessa predileção, a pintura mais importante da mostra é de outro artista. Trata-se do "Retrato de Luís XIV", feito em 1701 por Hyacinthe Rigaud, hoje pertencente ao Museu do Louvre. Essa tela foi concebida originalmente para adornar o palácio de seu filho, Philippe d’Anjou, rei da Espanha. Mas o retrato deixou Luís XIV tão envaidecido que ele desistiu do presente e ordenou que fosse pendurado no Salão Apolo – deus grego que era a sua grande devoção no panteão do Olimpo. Existem diversas obras retratando a divindade da beleza, como o conjunto escultórico que recebe o visitante, "Apolo Servido pelas Ninfas", de François Girardon e Thomas Regnaudin. Na Sala 2, intitulada Gloria do Rei, uma simples tapeçaria define a que ponto chegou a extravagância do monarca. Chamada "A Terra", ela faz parte de um conjunto de 93 tapetes que Luís XIV mandou fabricar para cobrir a galeria que unia o Palácio do Louvre ao das Tulherias, um trajeto de 400 metros que poucas pessoas tinham permissão para pisar.

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