med_poluicao_01.jpgSe você mora em uma metrópole e tem o hábito de correr pelas ruas, o ideal é conferir a qualidade do ar antes de calçar o tênis. Se o dia estiver muito poluído ou seco, deixe a atividade de lado ou se exercite em espaços fechados. A recomendação é da Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental (Cetesb), do Estado de São Paulo. Ela é responsável pela Operação Inverno, que orienta a população para os perigos da poluição na temporada do frio, quando a situação piora. A campanha deste ano tem uma novidade: a indicação no site (www.cetesb.sp.gov.br) das condições atmosféricas segundo um padrão de cores que indica os riscos para a saúde. Esse serviço colorido, que lembra o funcionamento de um semáforo, é um meio de evitar os efeitos da atmosfera carregada. Nos outros Estados, que não contam com esse sistema, convém checar com os centros que medem a qualidade do ar se ela está boa, regular ou inadequada.

Pelo padrão da Cetesb/SP, verde é sinal livre para o fitness ou um passeio em áreas externas. Amarelo indica que a qualidade do ar está regular, mas pessoas sensíveis à poluição – crianças e portadores de males respiratórios, por exemplo – podem sofrer de tosse seca e cansaço. Laranja mostra que a condição atmosférica é imprópria para os exercícios em ambientes abertos. Melhor ficar em casa. “No passado, só divulgávamos a qualidade do ar, mas notamos uma demanda por orientação mais direcionada”, afirma Carlos Komatsu, do departamento de tecnologia do ar da Cetesb.

med_poluicao_02a.jpgPoluição é ruim sempre, mas no inverno há complicações como a baixa umidade e a inversão térmica, a formação de um “tampão” de ar quente que bloqueia a camada de ar frio. Além disso, um estudo da Cetesb demonstrou que, em relação ao verão, há um aumento de 80% na concentração de poluentes. “É importante ter noção da qualidade do ar. Correr nas avenidas poluídas, por exemplo, não é uma boa medida. A pessoa inala mais poluentes”, diz Alfésio Braga, do Núcleo de Estudos de Doenças Relacionadas à Poluição do Ar, da Universidade Federal de São Paulo.

As conseqüências mais conhecidas da poluição no inverno são irritação nos olhos e asma. Mas a ação dos poluentes é mais abrangente. Um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard (EUA) mostrou, recentemente, que pessoas com algumas enfermidades crônicas estão mais ameaçadas de morrer quando expostas a uma determinada partícula da poluição atmosférica. O trabalho comparou dados da saúde de pacientes de 34 cidades e a média de presença no ar de um poluente, o MP10. Ele é tão pequeno que representa um sétimo da largura de um fio de cabelo. Descobriu-se que aumentos da concentração desse elemento por mais de dois anos corresponderam a um crescimento do risco de morte de 32% para diabéticos, 28% para portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica ou DPOC, 27% para quem tem insuficiência cardíaca e 22% para portadores de males inflamatórios, como artrite reumatóide.

Alterações climáticas, como a onda de calor que está marcando o verão europeu e até o inverno brasileiro, também ameaçam a saúde. No nosso caso, porque a umidade se reduz ainda mais e a poluição se intensifica. No deles, porque a temperatura elevada para os padrões da Europa está matando gente. Na semana passada, enquanto a capital paulista registrava seu menor índice de umidade do ar do ano (23%), a vigilância sanitária da França anunciava que mais de 20 pessoas morreram por causa do calor. A razão mais comum é a desidratação. “Muitos idosos não sentem sede e não percebem que o organismo quer repor líquido. E os rins têm maior dificuldade em reter água”, diz o nefrologista paulista Roberto Zatz. Uma das conseqüências disso é o aumento da concentração de minerais no corpo, especialmente de sódio, o que pode levar a distúrbios neurológicos, como a convulsão e o coma. “Há ainda a possibilidade de intoxicações alimentares e quedas por causa da redução na pressão arterial”, alerta o médico Marcos Boulos, do Ambulatório do Viajante da Universidade de São Paulo. Com tudo isso, se a onda de calor excessivo persistir, tanto eles quanto nós torceremos pelo mesmo acontecimento: chuva.

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