inter_israel_01.jpgHá exatos 50 anos, em julho de 1956, o então presidente americano Dwight D. Eisenhower interrompeu uma guerra: Israel, Grã-Bretanha, França disputavam com o Egito o Canal de Suez. A crise foi desencadeada pela decisão do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser de nacionalizar o canal, administrado por britânicos e franceses. Em vez de usar a força militar, Eisenhower insistiu na diplomacia. E quando israelenses, franceses e britânicos atacaram o Egito, em outubro, os EUA obrigaram-nos a recuar e a voltar às negociações. Desde então, a influência franco-britânica na região desapareceu para dar lugar à disputa entre americanos e soviéticos. Os americanos venceram, mas meio século depois de Suez, a liderança dos EUA é contestada pela maioria dos países árabes. O principal motivo é que a política externa americana, que no passado ajudou a manter um relativo equilíbrio de poder na região, há tempos se tornou um mero apêndice da política externa de Israel. O exemplo mais recente foi a pífia intervenção da Casa Branca no atual conflito no Líbano, que já matou mais de 600 pessoas, a maioria civis libaneses, e fez um milhão de refugiados internos. Na semana passada, enquanto bombas israelenses matavam quatro observadores da ONU no sul do Líbano, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, desembarcou em Beirute com um plano debaixo do braço que bem poderia ter saído do gabinete de Ehud Olmert, o primeiro-ministro israelense. Fazendo coro com Israel, os EUA rejeitaram um cessar-fogo imediato e exigem o desarmamento prévio da milícia xiita libanesa Hizbolá. Esse alinhamento incondicional de Washington com Israel provocou o fracasso da conferência internacional para o Líbano, realizada em Roma, que reuniu representantes da ONU e de 18 países. A linguagem enviesada do documento final (?trabalhar imediatamente para obter um cessar-fogo?, como quis Rice, em vez de ?trabalhar para obter um cessar-fogo imediato?, como pedia a maioria) reflete o desejo dos EUA de dar mais tempo para que Israel possa atingir seus objetivos militares. Israel e os EUA aprenderam pouca coisa com os erros do passado na região. Em 1982, os israelenses invadiram o Líbano para expulsar os guerrilheiros da OLP, mas a ocupação prolongada produziu o terrorismo islâmico dos homens-bomba. Em 2003, os EUA atacaram o Iraque para fazer uma reordenação geopolítica regional, reformando o Oriente Médio pela força. O resultado foi uma guerra civil que transformou o Iraque num verdadeiro campo de treinamento da Al Qaeda. Hoje, a ofensiva israelense no Líbano e na Faixa de Gaza fortalece os piores inimigos do Estado judeu ? o Hizbolá e o Hamas ?, que querem riscar Israel do mapa. Também reforça a intenção do Irã de levar adiante seu programa nuclear ? o mundo islâmico não se esquece que Israel possui suas bombas atômicas, com a complacência dos EUA. E permite que a Síria tente retomar sua influência no Líbano. Vendo George W. Bush a reboque dessa política, Eisenhower deve se revirar no túmulo.