FOTOS: JOSÉ MEDEIROS/INSTITUTO MOREIRA SALES; VICTOR JORGENSEN/AP

ALEGRIA
Casal dança gafieira no Rio em 1960 (à esq.) e outro comemora a rendição do Japão em Nova York em 1945

Brasil e Estados Unidos têm muita coisa em comum. É esse o ponto de partida da exposição de fotos Impressões visuais – 50 anos da Comissão Fulbright no Brasil (em cartaz na Galeria Olido, em São Paulo), que faz um paralelo entre a produção brasileira e americana de fotojornalismo. Semelhanças óbvias: Pelé e Michael Jordan. Os dois são considerados os melhores em suas modalidades esportivas, respectivamente, o futebol e o basquete. Suas fotos estão estampadas, lado a lado, entre as 126 conhecidas imagens da mostra. Existem outras semelhanças exploradas pelo curador João Kulcsár em dois anos de pesquisa em arquivos de ambos os países. Uma flagrante: a formação étnica dos seus povos. Basta comparar o retrato que José Medeiros fez de uma família negra no desfile de 7 de setembro de 1955, no Rio de Janeiro, com outro, de autoria do americano Russel Lee, mostrando garotos negros no domingo de Páscoa de 1944, em Chicago.

Kulcsár dividiu a exposição em seis blocos para que essas similaridades, sintetizadas numa foto (autoria desconhecida) de Tom Jobim e Frank Sinatra, fossem mais facilmente percebidas. O primeiro deles é o segmento Herança, que trata justamente da origem cultural brasileira e americana. Na seqüência vem a Política, com destaque para a imagem do presidente John Kennedy baleado no carro conversível em 1963. É um daqueles flagrantes que polarizam o olhar e não se prestam ao tipo de jogo que a mostra propõe. Mesmo que, mais abaixo, o encontro de João Goulart e Kennedy em Washington, no mesmo ano, sugira associações. Existem outras fotos que se destacam do conjunto, e o melhor exemplo é a de Marilyn Monroe com o vestido levantado pelo corrente de ar que sai de um duto de ventilação do metrô de Nova York, um clássico de Marty Zimmermann.

FOTOS: JOSÉ MEDEIROS/INSTITUTO MOREIRA SALES; VICTOR JORGENSEN/AP

AMIZADE
Tom Jobim e Frank Sinatra numa foto de autoria desconhecida

Imagens como essa se tornaram ícones do fotojornalismo e, como escreve Kulcsár, "se inscreveram num processo mais amplo da memória visual coletiva". Caso do antológico beijo em Times Square, de Victor Jorgensen. Num exemplo de agilidade documental, o fotógrafo conseguiu flagrar um casal improvável, um marinheiro e uma enfermeira que resolveram comemorar a rendição do Japão no final da Segunda Guerra Mundial da forma mais direta possível. Ao buscar um paralelo brasileiro para esse momento de rara felicidade, Kulcsár escolheu um casal dançando elegantemente na Gafieira Estudantina, no Rio de Janeiro, em 1960, em mais um registro de José Medeiros. O que ele comemora? Aparentemente, nada além de estar ali, e é essa a graça da imagem.