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Criança curiosa, Vera Fischer não entendia por que sua mãe tinha o hábito de colocar um vaso de comigo-ninguém-pode à beira da escada da casa, uma construção de três andares de Blumenau (SC), cidade onde nasceu. “Ela me proibia de mexer na planta, dizia que era venenosa”, lembra. Como é de sua essência não ter medo, Vera um dia resolveu comer a planta. “E não aconteceu nada”, diverte-se hoje a beldade, que conta o caso na sua autobiografia, prevista para chegar às livrarias nos próximos meses. Aos 54 anos, Vera continua sem medo e se aventura por novos terrenos. Seu desafio atual é a pintura. “Meu trabalho é um olhar sobre as mulheres. Misturo imagens femininas com coisas surrealistas, cubistas e dadaístas”, afirma a artista plástica debutante, que pensa em expor as obras ainda este ano. Boa escolha foi também a do texto que resolveu levar ao palco do Teatro Leblon, no Rio de Janeiro: Porcelana fina, uma comédia clássica da dramaturgia francesa muito bem escrita por Georges Feydeau (1862-1921).

Essa não é a primeira comédia na carreira de Vera, que, segundo o diretor Antonio Pedro Borges, tem uma veia cômica pouco explorada. “Ela sabe fazer uma graça que dá certo”, afirma. Para compor o papel da grossa emergente Júlia, detectou traços quase caricaturais. “Ela grunhe”, explica a atriz, cujas madeixas loiras passam por uma sessão de bobes para se mostrarem encaracoladas na hora da apresentação. Seu marido na ficção, um bem-sucedido comerciante de penicos (isso mesmo), é vivido por Perry Salles, o pai de sua filha, Rafaela, na vida real. “Hoje somos os melhores amigos, ele está sempre na minha casa”, diz Vera. Os relacionamentos, por sinal, parecem ser hoje outra área muito bem-vivida por ela. Marcos Paulo, par atual da atriz Nívea Stelman, foi seu mais recente namorado. Ao reclamar para o filho, Gabriel, que sentia saudades de namorar, ponderou que os homens não se adaptam a seu novo estilo de vida. Recebeu do garoto de 13 anos uma avaliação sábia para a idade: “É isso mesmo, mãe. Você tem que ter um homem especial. Ou, então, é melhor ficar sozinha.”

No sítio que mantém em Guaratiba, onde reformou uma casa enorme para receber os amigos, Vera tem curtido os fins de semana como quer o filho. Lá, o tempo é passado entre orquídeas, os sete cachorros e filmes projetados no telão. “Gosto de ficar sozinha”, diz. Foi nesse cenário idílico que começou a brincar de fazer cinema. Já filmou quatro curtas-metragens, todos trash. “Parei, por total falta de tempo”, afirma. Como em tudo o que faz, Vera é autodidata na sétima arte. Quando ganhou o título de Miss Brasil, em 1969, nem passava por sua cabeça ser atriz. O título a levou a programas de televisão e ela aceitou convites para pornochanchadas para pagar as contas. “Achava que eu era canastrona. E era mesmo.”

O divisor de águas aconteceu em 1975, no filme Intimidades, quando ganhou os primeiros elogios da crítica. “Vi que era uma atriz. Sem querer, saiu.” O próximo papel de Vera na tevê será Lola, personagem da minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes, baseada na obra de Márcio Souza e prevista para estrear em janeiro, na Globo. Ela será uma ex-prostituta, namorada de Galvez, com quem monta um cabaré itinerante e passa a trabalhar como uma espécie de espiã. “Lola vai tentar desvendar segredos ao se deitar com vários políticos”, conta, a atriz, cada vez mais criteriosa na vida e nos papéis.