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O pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) fez fama com suas telas que mostravam o cotidiano de lugares e pessoas. Tornou-se ainda mais célebre quando, vítima da epilepsia, mergulhou num processo psicótico que o fez cortar a própria orelha. Ironicamente, é dessa fase de desequilíbrio emocional que surgiram suas telas mais valiosas, e a ciência acaba de descobrir o porquê. Em seus momentos de delírio, Van Gogh reproduzia com pinceladas os movimentos dos fluidos e do ar durante uma turbulência, fenômeno físico que ocorre na água quando um navio aciona a hélice ou no ar durante o vôo de uma aeronave. “Essa precisão matemática só podia ser encontrada em forças da natureza”, explica o físico espanhol Manuel Torres, do Conselho Superior de Investigações Científicas, responsável pelo estudo. “Até os efeitos de luminosidade que Gogh dava às suas obras continham cálculos exatos.”

Intrigados com os detalhes da luminosidade aplicada nos traços de Gogh, os especialistas colocaram à prova quadros como A noite estrelada, concluída em 1889, ano de uma intensa crise mental. Torres e sua equipe digitalizaram a pintura em um computador para que seus pontos fossem analisados por meio de um preciso modelo matemático chamado Kolmogorov. Esse intricado cálculo avalia a chance de cada ponto, ou pincelada, ter o mesmo brilho ou luz.

Não é a primeira vez que os físicos analisam quadros em que o efeito de “redemoinho” aparecem. Em O grito, o norueguês Edvard Munch (1863-1944) também tentou recriar uma turbulência. Porém, a distância e a luminosidade de cada ponto da tela produzida em 1893 não mantinham o equilíbrio e a precisão encontrados nas telas de Van Gogh. “Os cálculos matemáticos provam que a tela de Munch não reproduzia o fenômeno da natureza”, atesta Torres.

O que intriga a equipe do físico é que Van Gogh só conseguiu atingir esse traço de genialidade sob o efeito da crise mental. Mesmo a tela Auto-retrato, terminada em 1888 depois de um surto que o levou a cortar a própria orelha, não simula a turbulência. Provavelmente devido aos medicamentos, Van Gogh admitiu naquela ocasião que estava muito calmo.

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