AGE FOTOSTOCK/KEYSTOCKRegina de Oliveira Soares despontou para a fama, no final dos anos 80, no papel de uma santa com o poder de curar as pessoas por meio do sexo em Santa Clara Poltergeist. Do espetáculo performático, idealizado e produzido pelo cantor Fausto Fawcett, ela tirou seu nome artístico (Regininha Poltergeist) e fôlego para atravessar a década seguinte emplacando trabalhos como atriz e dançarina, sempre explorando sua sensualidade. Filmou com Cacá Diegues, fez peças de teatro, participou de programas na Rede Globo, gravou um CD. Até que as propostas profissionais passaram a surgir em quantidade inversamente proporcional ao avanço do tempo. Seus últimos trabalhos na televisão foram o programa erótico Puro êxtase e um comercial como garota-propaganda da bebida popular Cynar, em 1998. Este ano, a ex-louraça belzebu saiu do ostracismo para assinar seu mais bem remunerado contrato e estrelar o DVD de sexo explícito Perigosa, da Brasileirinhas, a maior produtora de filmes pornográficos do País.

A guinada pornô de Regininha é ousada, mas não pioneira. Antes dela, artistas como o bad-boy Alexandre Frota e as precursoras das popozudas Rita Cadillac e Gretchen já haviam exposto publicamente toda a sua intimidade – e foram muito bem pagos para isso. Estima-se que as celebridades que se sujeitam a filmar um pornô sejam recompensadas com algo entre R$ 300 e R$ 500 mil por contrato (que prevê a filmagem de cenas para até três DVDs). Para quem acredita que tudo tem seu preço, poder de convencimento não falta às empresas deste mercado. Segundo a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (Abeme), a indústria de filmes adultos faturou R$ 300 milhões em 2006. Se ainda é uma ninharia perto do movimentado pela indústria americana, o montante indica um crescimento de 15% nos últimos cinco anos, desde que os famosos começaram a invadir a praia dos pornôs. São lançados por ano cerca de mil títulos.

CLAUDIO GATTI/AG. ISTOÉ

PIONEIRO Frota foi o primeiro famoso a filmar um pornô

“Graças ao Frota, a mídia passou a ver os filmes pornôs com outros olhos. E mais famosos se interessaram pelo mercado”, diz o diretor M. Max, na Brasileirinhas há 12 anos. O dono da produtora, Luís Alvarenga, concorda com a importância do ex-global – que também é ex-marido da atriz Cláudia Raia. Mas aponta Rita Cadillac como o grande divisor de águas do setor. “Depois do lançamento do primeiro filme dela (em 2005), o mercado pornô nunca mais foi o mesmo”, afirma. Entre seus “sonhos de consumo” para estrelar os DVDs da produtora, Alvarenga lista Viviane Araújo, Sabrina Sato, Fabiana Andrade, Vampeta e Nana Gouveia. “Mas que fique claro que jamais tivemos a iniciativa de contatar alguém. Até hoje, fomos procurados.” Sedução, que marcou a estréia de Rita Cadillac no gênero, é o filme mais vendido da história da companhia, que não divulga números oficiais. A eterna chacrete colocou algumas exigências em seu contrato. O uso de camisinha pelos atores que contracenassem com ela foi uma. Outra condição foi não fazer cenas de sexo sadomasoquista. “Apanhar, nem em pensamento”, diz ela. Apesar de se cercar de cuidados, Rita está longe de lembrar com bons olhos da experiência. Qual foi a pior parte? “Todas”, responde, sem hesitar. Quem teve a oportunidade de assisti-la no vídeo jura que não há naturalidade. Rita tinha 50 anos quando gravou cenas. “Na época, o pior que podia me acontecer era ter de encerrar a minha carreira. Mas, graças a Deus, não aconteceu. Pelo contrário: acho até que deu um fôlego a mais”, diz. Não conseguir mais trabalhos convencionais como atores é um dos fantasmas que assombram os artistas que decidem encarar um pornô. Astro de dois filmes de sexo explícito, Mateus Carrieri, que está em cartaz nos palcos em São Paulo com O amante do meu marido, passou por isso. O Teatro Municipal de Osasco não aceitou a peça porque ele faz parte do elenco. “Logo vamos viajar com a peça pelo Brasil, e talvez tenhamos mais problemas desse tipo”, admite.

A primeira gravação de cenas de sexo explícito de uma celebridade é cercada de expectativas – especialmente se o principiante for um homem. Diretor das mais caras produções do gênero no Brasil, J. Gaspar admite que é preciso o máximo de cuidado para não criar um clima de tensão no set. “Se um desconhecido falhar é só trocar por outro. No caso do famoso não dá para substituir. Está no contrato: sem ele, não tem filme”, conta. As mulheres normalmente pedem uma bebida alcoólica para ficar mais à vontade. Mas o tiro pode sair pela culatra. Constrangida, a atriz Vivi Fernandes, ex-assistente de palco do apresentador Sergio Malandro, bebeu uma garrafa de champanhe antes da primeira cena. A intenção era se soltar. “Só piorou. Passei mal, vomitei, me deu até febre. Não consegui gravar”, lembra ela, que estrelou três filmes nos quais só contracena com o namorado.

A tendência lançada por Vivi inspirou a cantora e dançarina Gretchen. Evangélica, ela assinou contrato para participar de três DVDs (um ainda inédito), nos quais tem como único parceiro o músico Guto Guitar, seu noivo na época. O casal terminou o relacionamento dois meses após o lançamento de La conga sex. Gretchen nega que o filme tenha influenciado a separação e avisa: já se casou novamente. E o que o novo marido pensa da breve incursão dela ao mundo pornô? “Ele diz que não tem nada para falar sobre a minha vida antes dele.” A filha mais velha de Gretchen, Thammy Miranda, resolveu seguir o exemplo de casa e é a estrela de um filme pornográfico homossexual ao lado de sua ex-namorada Julia Paes. Mamãe não repreendeu.

 

Uma estratégia utilizada pelas celebridades para aguçar a curiosidade do público – e garantir um segundo polpudo contrato – é colocar limites para a atuação de estréia. “O famoso faz o primeiro e perde aquele medo, aquele pudor todo, e pode ser mais ousado no segundo filme”, afirma o produtor Kim Melo. É o que deve acontecer com Regininha Poltergeist. Em seu primeiro contrato, ela comprometeu- se a fazer “apenas o básico”, como a própria diz. “Agora eles querem mais. Posso fazer com mulher também, mas, para falar a verdade, não sou muito chegada”, pondera. Mas, claro, não fecha as portas para o já milionário, e ainda assim promissor, nicho. “Se a proposta for muito boa, quem sabe…”

EUA têm a maior indústria
Os Estados Unidos são os maiores produtores de filmes pornôs do mundo. Com faturamento de US$ 3,6 bilhões em 2006, a indústria emprega seis mil pessoas – 1,2 mil atores e atrizes – e movimenta nas prateleiras das locadoras quatro mil títulos a cada ano. O principal pólo de produção está na Califórnia e foi apelidado de Porn Valley (Vale do Pornô) – uma referência ao Silicon Valley (Vale do Silício), situado no mesmo Estado e referência quando o assunto é tecnologia.

O negócio começou a ganhar destaque na década de 70 e atualmente é visto com relativa normalidade pela sociedade americana. A atriz Jenna Jameson, o principal nome da indústria no país, está longe de viver na marginalidade, como grande parte das atrizes desse meio no Brasil. Aos 33 anos, ela tem mais 100 vídeos pornôs no currículo e fatura US$ 15 milhões por ano. Esse valor engloba cachê em filme e publicidade – recentemente, Jenna foi garota-propaganda da grife Adidas. Além disso, é possível comprar bonecas (do tipo Barbie) que imitam suas curvas. Superpremiada por suas atuações eróticas, Jenna transcendeu o circuito cinematográfico pornô. Em 1997, por exemplo, atuou em Private parts, de Howard Stern. Nos Estados Unidos, o custo médio de produção de um longa gira em torno de R$ 60 mil, contra R$ 25 mil no Brasil. Isso se reflete nos salários dos atores. Uma atriz brasileira top recebe R$ 1 mil por dia de trabalho, enquanto as americanas não tão famosas têm cachê de R$ 3 mil.

 

STALLONE COMEÇOU EM FILME PORNÔ
Engana-se quem pensa que o ator americano Sylvester Stallone só exibiu seu físico atlético em cenas de luta nos filmes do tipo sessão da tarde Rocky e Rambo. No início de sua carreira, com dificuldades financeiras e, principalmente, de emplacar como ator, Stallone aceitou o convite para protagonizar, ao lado da atriz Henrietta Holm, o filme pornô The party at Kitty and Stud’s (A festa de Kitty e Stud). Para is

 

so, recebeu US$ 200 por dois dias de gravação, em cenas de orgia e aparições de nu frontal. O filme foi lançado em 1970 – na época, ele tinha apenas 24 anos – e relançado seis anos depois, quando ele estourou na pele do boxeador Rocky Balboa, com o título O garanhão italiano.

“NÃO É PARA QUALQUER UM”
ALEXANDRE SANT'ANNA/AG. ISTOÉ“É uma coisa bem constrangedora. Perguntaram se eu queria beber alguma coisa para relaxar. Tomei uma garrafa de champanhe sozinha. Fiquei doidona, não conseguia parar de rir. É diferente de fazer naturalmente, em casa. É a gravação de um filme, tem toda a eqsuipe. Quem trabalha com aquilo encara como uma coisa normal; quem não tem experiência fica sem saber o que fazer. Tem que ser forte para agüentar, não é para qualquer um. Decidi encarnar um personagem, emprestar o meu corpo. Aí fui. Depois fiquei até meio mal da cabeça.”
Regininha Poltergeist

“EXIGI REPRESENTAR UM PERSONAGEM”
“Fiz questão de participar do roteiro, da escolha do elenco. Exigi representar um personagem no filme, e não aparecer como eu mesmo – como o Frota fez. Queria ter poder de veto. Não se trata de fazer o teste do sofá antes de gravar. Mas, por exemplo, não faço (sexo) com gay, com travesti, com animais. É que nesse meio é tudo muito vasto. A elaboração do contrato foi bem complicada: troquei de advogado três vezes.”
Mateus Carrieri

“ACHEI QUE SERIA APEDREJADA”
“Tinha medo da repercussão. Pensei que seria como em um desenho animado – sabe quando a gente abre a janela e todas as outras se fecham? Cheguei a achar que seria apedrejada na rua. Se isso acontecesse, pegaria a grana e ia viajar. Só voltaria quando a poeira tivesse baixado. Mas não precisei fazer isso. Me surpreendi com a ausência de preconceito. Hoje digo que dei a cara a tapa para as pessoas ganharem dinheiro.”
Rita Cadillac

“MINHA FAMÍLIA APOIOU”
“Quando recebi o convite, conversei com a minha família. Se os pais forem contra, não dá para fazer. Eles apoiaram, mas ficaram tristes, claro. Nenhum pai quer ver sua filha fazendo filme pornô. Não foi fácil. Assinei o contrato e, quando cheguei em casa, desabei, chorei muito. Conversei bastante com a Rita (Cadillac) e vi que o filme tinha tornado a vida dela mais fácil. Coloquei na minha cabeça: é um filme pornô. Está sendo paga para fazer sexo? Então tem que fazer bem feito. Eu me esforcei ao máximo.”
Vivi Fernandes

“PENSEI NOS MEUS FILHOS”
“Fiz pelo dinheiro. Demorei três anos para aceitar o convite porque era contra os meus princípios. Jamais faria carreira como atriz pornô. Fiz os filmes pensando no futuro dos meus filhos: crio eles sozinha, não peço nada para os pais. Não imaginei nada na hora, não criei nenhuma fantasia para facilitar o trabalho. Só queria que aquilo acabasse logo para pegar meu dinheiro e ir embora.”
Gretchen