O ano de 2007 foi de conquistas para o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo. Sagrou-se pentacampeão brasileiro de futebol, é o único jogador atuando na América do Sul indicado ao tradicional prêmio Bola de Ouro da revista France Footbal – vai competir, em dezembro, contra Ronaldinho Gaúcho, Kaká (o favorito) e outros craques – e estará na versão 2008 do Guiness Book. O livro dos recordes o colocará como o maior goleiro-artilheiro do futebol mundial, com 78 gols. A brilhante trajetória – ele também venceu três vezes o mundial interclubes e duas a Libertadores da América – foi toda construída no São Paulo, onde se tornou o atleta que mais vezes vestiu o uniforme do clube e sempre disse que penduraria as chuteiras.

Mas, agora, aos 34 anos, quando olha para o futuro, Rogério enxerga diferente. “Eu gostaria de morar nos Estados Unidos”, diz ele, pensando principalmente em proporcionar uma melhor educação para as filhas, as gêmeas Beatriz e Clara, de 2 anos e 10 meses. Com a mesma lucidez com que vê o jogo no gramado, ele também mira a carreira. Na opinião dele, com a chegada de David Beckham, o mercado norteamericano têm muito a evoluir. Cita o futebol feminino, bastante difundido no país, a possibilidade de trabalhar com escolinhas para crianças e vai mais longe: “Quem sabe fazer uma última temporada jogando lá, pensando na divulgação do (meu) nome”.

O projeto, segundo Rogério, terá de esperar pelo menos quatro anos. Até lá, novas marcas devem ser superadas. A Fifa reconheceu recentemente os feitos dele em um texto intitulado “Ceni, a estrela dos recordes quebrados”, publicado em seu site. A Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS) vai na mesma linha: o incluiu em uma lista de 55 atletas que concorrerá ao prêmio de jogador mais popular do mundo em 2007. Com competência dentro de campo e publicidade fora dele, Rogério virou personagem principal de um clamor nacional em prol de sua convocação para a Seleção. Mas Dunga, o técnico do Brasil, faz vista grossa. “Rogério eliminou a Seleção de suas prioridades, como defesa”, diz o jornalista Alberto Helena Jr., que está escrevendo Na Linha do Gol – Rogério Ceni, goleiro-artilheiro, biografia do jogador a ser lançada em 2008.

O assunto seleção causa desconforto em Rogério. “Me sinto na obrigação de estar à disposição dela. Mas só uma coisa me levaria à Seleção, o treinador”, disse a ISTOÉ o goleiro. Já no São Paulo, onde recebe R$ 200 mil mensais, Rogério se sente em casa. Em 2005, quando erguia o troféu de melhor jogador do mundial da Fifa, o goleiro Bosco, seu reserva, exclamou ao lado dos companheiros que assistiam à premiação: “O patrão merece”. No ônibus que leva o time do São Paulo ao estádio, todos sabem, o “patrão” Rogério não senta do lado da janela. Em campo, no Morumbi, sabe-se também que, se ele ganhar no cara e coroa antes do início da partida, vai escolher agarrar o 2º tempo sempre no gol que fica próximo à entrada principal do estádio. Superstição, estratégia? “Nada disso”, diz ele. “Quando termina o jogo já entro no vestiário, que fica do lado.” Rogério conhece os atalhos do campo, como se diz na gíria. Falta descobrir os da Seleção.


"EU GOSTARIA DE MORAR NOS ESTADOS UNIDOS"
Rogério Ceni