DANNY MOLOSHOK/APMichael Jackson falou. Depois de mais uma década sem conceder uma longa entrevista, período em que foi processado e absolvido da acusação de molestar crianças, a esfinge do pop conversou – sem advogados por perto – com Bryan Monroe, editor da revista americana Ebony, voltada para o público negro. Posou para fotos em trajes de gala brancos e num fraque preto com calça prateada escolhidos pelo estilista de celebridades Philip Bloch, que aconselha estrelas como Beyoncé Knowles e Halle Berry, e exibiu uma pele brilhante como pérola, o que gerou o comentário de que era a pessoa mais branca a estampar a capa da revista. Na entrevista, realizada em “um hotel de Nova York”, Jackson, 49 anos e pai de três crianças, comenta as excentricidades que são ditas sobre ele: “Não dou a mínima. Acho uma ignorância. Todo bairro tem aquele cara que ninguém vê e vive fofocando a respeito. As pessoas são loucas”. Bem, as pessoas sempre pensaram o contrário, em razão das manias com que Wacko Jacko (“Jackson, o louco”, como é chamado pela imprensa americana) alimentou a mídia nesses anos, como levar os filhos ao zoológico com os rostos cobertos por lenços pretos ou quase jogar o mais novo da janela de um hotel alemão. Mas o que se depreende da entrevista é que Michael Jackson não tem nenhum parafuso fora do lugar. Mesmo depois de tantas (negadas) cirurgias de embelezamento.

O golpe de marketing é perfeito. Jackson resolveu falar justamente quando a poeira da pedofilia abaixou e ele ensaia uma volta em grande estilo. Há dois anos longe de seu parque temático pessoal, o rancho-mansão Neverland, que acumula dívidas de US$ 23 milhões, ele busca renovar a imagem desgastada. Além de uma reedição comemorativa do álbum Thriller (104 milhões de discos vendidos), Jackson vem preparando material para um novo CD. “Tenho escrito muita coisa. Vou para o estúdio todo dia”, disse. O autor de clássicos como Billie Jean e Beat it tem trabalhado em parceria com os novos campeões da música negra Kanye West, Will.I.Am e Akon. Esse último e também Chris Brown recebem um elogio aberto ao ser perguntado sobre quem o impressiona atualmente. Outro é Ne- Yo: “É um cara que entende de música, tem uma marca bem Michael Jackson.” Mesmo ensaiando novos passos na carreira, o cantor diz que não pretende fazer turnês e que não se vê nos palcos aos 80 anos. “Não da forma que James Brown e Jackie Wilson fizeram. Eles se mataram. Acho que James Brown poderia ter relaxado e usufruído do tempo em que trabalhou duro.”

Jackson não sai pela tangente quando o assunto é música e demonstra prazer em contar histórias de infância e de como conviveu pequeno com Stevie Wonder, Marvin Gaye e toda a elite musical da gravadora Motown – “as pessoas que iam à minha casa e saíam para jogar basquete com meus irmãos”, diz. Revela até o apelido que Quincy Jones colocou nele: Smelly (fedorento). Mas quando o tema é política, prefere apelar para Deus. É o que acontece quando o entrevistador lhe pergunta sobre a corrida presidencial e a disputa entre Hillary Clinton e Barack Obama: “Para te dizer a verdade, não acompanho esse negócio. Estamos nas mãos de Deus.” Mais preocupado com a música, ele critica o rap sem linha melódica, diz que foi graças aos seus clipes que a MTV emplacou e que a indústria não vive uma crise – o que falta são bons discos, como Thriller, claro. “Não existe nenhuma revolução musical acontecendo hoje em dia. Antes de Thriller era a mesma coisa, as pessoas não estavam comprando discos.” A declaração deve ter soado como música aos ouvidos dos executivos da sua gravadora, a Sony BMG.

 

"As pessoas são loucas. Não dou a mínima para o que elas dizem. Acho uma ignorância"