Lula é candidato ao Nobel da Paz. Só isso falta ao seu currículo. E só isso explica a viagem que “o cara” fez dias atrás ao Oriente Médio. O risco, no entanto, é que ele leve o Troféu Framboesa de Ouro em 2010 – destinado aos piores atores de Hollywood. Lula foi a Israel dizendo-se contaminado pelo “vírus da paz”. Depois de ter resolvido todos os problemas brasileiros e solucionado a crise econômica mundial, sua última pendência seria dar fim a um probleminha simples: o conflito entre árabes e judeus na Palestina. Só que Lula, nosso super-herói, cometeu um erro. Ninguém pode ser um bom mediador ou um árbitro da paz já tendo escolhido, de antemão, um lado. E Lula deixou claro que está a favor da Palestina – o que pode ser uma posição legítima, desde que assumida às claras – e contra Israel.

Poderia ser diferente. E, se tivesse sido, Lula sairia de lá com credibilidade. A grosseria foi não depositar flores no túmulo de Theodor Herzl e apenas no de Yasser Arafat, o líder da Organização para a Libertação da Palestina. Quem foi Herzl? Um herói não só de Israel, mas do mundo civilizado. Um intelectual que escreveu o livro “O Estado Judeu” e decifrou as raízes do antissemitismo europeu, ao cobrir o caso Dreyfus – aquele em que um capitão judeu foi acusado de traição na França por suas origens semitas. O caso Dreyfus também permitiu ao escritor Émile Zola escrever o maior texto jornalístico da história – o célebre J´accuse (Eu acuso), em que denunciou a injustiça. E quem foi Arafat? Uma figura mais controversa, mas que, de todo modo, também recebeu o Nobel da Paz, ao renunciar ao terrorismo e buscar um acordo com Israel.

Se conhecesse o Itamaraty, Lula saberia que um só brasileiro dá nome a várias ruas na Galileia. É Osvaldo Aranha, o chanceler de Getúlio Vargas que, em 1947, presidiu a Assembleia das Nações Unidas que criou o Estado de Israel. Se fosse vivo, Aranha teria bons conselhos a dar ao presidente. Diria que, na época de Vargas, especialmente na Segunda Guerra, o Brasil flertou com o nazismo. Mas, na hora H, encarou o mundo com realismo e aderiu aos aliados, sabendo barganhar vantagens econômicas, como a CSN. Lula hoje flerta com o déspota do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sem que tenha nada a ganhar. Enquanto isso, os países que fazem diferença na geopolítica mundial discutem sanções duríssimas contra Teerã e também repreendem Israel pelos novos assentamentos em Jerusalém. Alguém precisa dizer a Lula, com urgência, que ele, nesse jogo complexo, é só um peão no tabuleiro do xadrez. E que escolheu o lado errado – seja por princípios morais, seja por interesse econômico. Mas o fato é que o Brasil já não tem um Osvaldo Aranha. Tem Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia. Assim, fica difícil.