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Eleição é ganha na televisão e tem tudo a ver com exposição. É a crença adotada por dez entre dez políticos. E com estréia programada para o próximo dia 15, entra no ar o tão esperado – pelos candidatos, em especial – horário eleitoral gratuito. A estratégia de cada um para o embate na telinha segue uma receita nada convencional, com situações e fórmulas inusitadas. A mais eloqüente delas aparece nos programas do presidente Lula, candidato à reeleição. Os marqueteiros do presidente tomaram a decisão, com o aval do próprio, de expurgar as referências petistas – hoje tão impopulares – nas aparições de campanha. O Lula candidato surge em cenário todo azul, verde e amarelo, abandonando o tradicional vermelho do partido, as bandeirinhas de companheiro militante, as palavras de ordem, a estrela em destaque. É como se, por encanto, Lula deixasse de ser PT e vice-versa. No lugar vem Lula numa, diga-se assim, onda mais patriótica, um Lula por ele mesmo, desidratado da força política petista que ele criou e que o elegeu lá atrás. No repetido mote de “lulinha paz e amor” agregou-se agora o lulinha tudo azul. O curioso da transfiguração é que ela começa a ser veiculada justamente no horário gratuito reservado pelo TSE ao Partido dos Trabalhadores e sua base aliada. Assim, numa incongruência ingênua, o Lula candidato vai usar o espaço do PT quando o que ele mais quer é ter sua imagem dissociada das agruras do partido.

Na nova imagem azulada, Lula também se aproxima surpreendentemente do partido adversário, PSDB. É que, no ninho tucano, o azul e amarelo foram, desde sempre, as cores predominantes. Não é problema grave. O eleitor acostumou-se a identificar muitas semelhanças entre os dois lados: de programa, de medidas econômicas, de escorregões políticos. A proximidade cromática nesse ambiente faz todo sentido. Governos siameses têm mesmo de mostrar continuidade. E o eleitor que fique com mais do mesmo.