chamada.jpg
CIRANDA SOCIAL
Jovens violeiros integram a Orquestra Jovem de Viola Caipira

selo.jpg

Na pequena cidade de Barão de Cocais, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, a maior parte dos 27 mil habitantes exerce alguma atividade ligada à indústria siderúrgica, principal fonte de emprego e renda na região. O município também é uma referência turística – localiza-se nas proximidades do Santuário do Caraça, antigo mosteiro construído por padres jesuítas no século XVIII. Nos últimos quatro anos, outra atividade desenvolvida no local vem ganhando repercussão, e não apenas lá, mas também no País: a arte da luteraria, o milenar ofício de fabricar instrumentos musicais de corda. A especialidade: a viola caipira. Além de cortar, esculpir, colar, fazer acabamentos e conferir acuidade visual e sonora a esse instrumento, os alunos aprendem a tocá-lo, embasados em um curso completo de música. O resultado daquilo que começou de forma experimental com um pequeno grupo de adolescentes é a criação na cidade da primeira Orquestra Jovem de Viola Caipira do mundo integrada apenas por jovens luthiers, nome que se dá aos praticantes da luteraria – ou seja, eles tocam os instrumentos que constroem.

img.jpg
LUTHIERS
Adolescentes trabalham na manufatura das violas caipiras

A iniciativa é de Pedro Alexandrino de Sousa Filho, criador do Projeto Luthier – Arte Ofício Cidadania e ele próprio um autodidata no ofício, habilidade que desenvolve há mais de duas décadas. “Minha proposta sempre foi usar essa arte como uma ferramenta de transformação junto a jovens em situação de risco e vulnerabilidade social”, diz Sousa Filho. Ele mantém em Barão de Cocais uma oficina por onde já passou mais de uma centena de jovens e que hoje conta com 62 alunos e 20 monitores formados na escola. “Ajudei a construir muitas violas, ao mesmo tempo que aprendi a tocar e reconhecer notas musicais”, diz Bruna Gonçalves, 17 anos, violeira e monitora dos novos luthiers. Além da música, o aprendizado da luteraria implica uma diversidade de conhecimentos que vão dos tipos de madeira e dos métodos de corte à marcenaria e marchetaria, sem esquecer de noções de física, matemática, mecânica e dos instrumentos de medição e precisão. Tudo isso aprimora a habilidade manual e também a audição musical – e a prática caiu no gosto da garotada. A última seleção de alunos teve 98 candidatos para apenas dez vagas – entusiasmo que também se explica pela contrapartida financeira: as apresentações da orquestra já rendem cachê aos participantes. Os monitores da escola e músicos ganham um salário fixo de R$ 200 mensais. E o grupo lançou dois livros acompanhados de CDs com faixas do repertório da orquestra. A iniciativa, que completa cinco anos, teve efeito multiplicador: a escola recorre a oficinas de alguns ex-alunos quando não tem espaço para abrigar uma produção maior de instrumentos, por exemplo.

img1.jpg

“É a arte se tornando ferramenta de promoção
cultural e inclusão social”

Pedro Alexandrino, criador do Projeto Luthier

Violeiros saídos do projeto formaram os seus próprios grupos e passaram a se apresentar profissionalmente. O projeto da oficina foi viabilizado com o apoio das leis de incentivo à cultura das esferas federal e estadual e com o patrocínio de empresas privadas, como a Natura, a Gerdau e a Cenibra, além da contribuição da prefeitura local, que cedeu o terreno onde funciona a sede da escola. Outra fonte de renda vem dos instrumentos construídos pelos alunos. Custam R$ 1,5 mil cada um e uma remessa de 32 violas caipiras está sendo produzida atualmente (todas feitas com madeira de reflorestamento). Algumas são doadas para  outras entidades e projetos sociais, mas a maioria é vendida, com renda revertida para os luthiers. Essas violas deixam a oficina com a assinatura do selo de qualidade do Projeto Luthier – Arte Ofício Cidadania. O próximo desafio desses jovens músicos, que terá início em junho deste ano, é a manufatura de harpas de orquestra. Também nesse caso, vão sair de lá sabendo dedilhá-las.

img2.jpg